Saúde

Estúdio oferece tatuagens gratuitas para mulheres mastectomizadas

Por Valtênea Araújo - Estagiária* 07/01/2018 07h07
Estúdio oferece tatuagens gratuitas para mulheres mastectomizadas
Estúdio oferece tatuagens gratuitas para mulheres mastectomizadas - Foto: Reprodução/Instagram

Sem distinção de raça, cor ou religião, o câncer de mama é o segundo tipo mais comum da doença e acomete milhares de mulheres no mundo. No caso dos homens, é raro, mas não impossível. O tratamento é doloroso. Além da quimioterapia e radioterapia, muitas mulheres são submetidas à mastectomia, que é a retirada do tumor e de partes do tecido mamário. Após a retirada da mama, algumas optam por uma prótese de silicone, mas nem sempre esse procedimento é suficiente para recuperar a autoestima dessas guerreiras.

Pensando nisso, vários estúdios de tatuagens no mundo resolveram implantar o projeto de tatuagens gratuitas em 3D para mulheres mastectomizadas.

Tatuagem 3D

O estúdio Maceió Tattoo criou um projeto para ajudar mulheres que realizaram o procedimento cirúrgico a recuperar a confiança. “Há três anos, decidimos mostrar que, além, da reconstrução da mama, a tatuagem também é uma alternativa para resgatar a autoestima de quem ganhou a chance de viver uma nova história depois de superar o trauma”, explica o tatuador Roberto “Bocão”.

De acordo com Bocão, o projeto visa mostrar a tatuagem como uma alternativa à autoestima de mulheres que conseguiram superar o câncer de mama.

Ele conta que, apesar das sessões serem gratuitas, durante os três anos de projeto, apenas uma ex-paciente aderiu à tatuagem aqui em Maceió. Ele acredita que por medo, vergonha e até mesmo preconceito, já que o serviço é gratuito.

Mulheres na luta contra o câncer de mama

De repente, a aposentada Márcia Elane Barbosa dos Santos, de 49 anos, viu seu mundo desabar. Diagnosticada com câncer de mama, aos 33 anos, ela conta que foi uma época difícil. “No dia 02 de dezembro de 2002 fiz a retirada de um nódulo benigno. No dia 15, quando retornei ao médico para retirada dos pontos, veio o resultado da biopsia. Câncer raro, que se desenvolveu dentro do fibroadenoma”, relata a aposentada. O fibroadenoma é um tumor benigno da mama que surge em mulheres com menos de 30 anos, e raramente vira câncer, na maioria dos casos não necessita de tratamento especifico e desaparece após a menopausa.

Como na família já tinha casos de mulheres com câncer, Márcia conta que não ficou tão surpresa com a notícia, mas o marido dela entrou em estado de choque. “Até hoje, não sei se fiquei surpresa com a notícia ou me controlei, já que meu marido parecia que ia desmaiar”, ela continua, “acho que estava meio preparada, pois minha mãe já tinha tido a doença, no ano de 1998. Tinha algo em mim, que dizia ser um CA, por isso, o impacto não foi tão grande” lembra.

Após o diagnóstico, a aposentada teve que providenciar às pressas os exames, para então realizar o procedimento cirúrgico. “Enquanto o médico explicava tudo, fui tentando acalmar meu esposo, ele falou que não poderia esperar, já que era um câncer raro e agressivo” explica.

A cirurgia foi realizada no dia 19 de dezembro daquele ano, dois dias após o diagnóstico e durou mais de sete horas. Durante o procedimento, a mama esquerda foi totalmente removida e reconstruída no mesmo dia com tecido abdominal. Foram mais de cem pontos e o umbigo também teve que ser refeito. “Na época um tipo de procedimento novo, onde é retirado um retalho do abdômen e reconstruída a mama, fui meio que uma cobaia”, conta.

A recuperação

Ela conta que antes de começar o tratamento, resolveu cortar os cabelos, para que o impacto na sua imagem não fosse tão grande. “Criei uma coragem, uma força até então nunca sentida”.

Depois da cirurgia, a aposentada teve que usar duas sondas por mais de quinze dias e em fevereiro de 2003, as sessões de quimioterapia começaram. Ela não precisou de radioterapia, devido, ao procedimento experimental a que havia se submetido, logo após a cirurgia. Era um novo ciclo na luta diária pela sobrevivência.

As sessões eram realizadas a cada 21 dias, foram vários exames, estudos, pesquisas e depoimentos com mulheres na mesma situação que ela. “Minha reação diante do tratamento era diferente das demais pacientes”. Foi então que os médicos concluíram que a recuperação estava indo bem, pela forma como ela aceitava a doença.

Após o sétimo ciclo, a imunidade dela caiu, mas nada que abalasse a determinação e a força de viver da aposentada.

No ano seguinte, ela realizou uma nova cirurgia, desta vez, para diminuir a mama direita e harmonizar os seios de acordo com o tamanho da esquerda, que foi reconstruída. No total, foram 14 cirurgias que ela encarou de cabeça erguida. Sorrindo, ela conta que levou tudo com bom humor e que encarava as cicatrizes como uma vitória.

A descoberta da tatuagem

Um dia ao assistir uma reportagem televisiva, Márcia ouviu falar pela primeira vez sobre uma tatuadora que fazia tatuagens para cobrir cicatrizes em outras pessoas, entre elas, as realizadas em mulheres mastectomizadas. Foi então que decidiu fazer uma pesquisa e após uma busca minuciosa, conseguiu entrar em contato com o estúdio Maceió Tattoo.

Ela conta que foi até o estúdio e depois de uma longa conversa ficou encantada com o projeto. Foi quando decidiu fazer a tatuagem nas duas mamas, o desenho escolhido foi um lírio. Quando questionada sobre a escolha, ela dispara, “é simples, ele nasce no lodo, uma das flores mais belas e perfumadas, simboliza renascimento, vida, força, novas oportunidades” explica.

“Vontade de ajudar o próximo”

Tereza Neuma está no quarto mandato na Câmara Municipal de Maceió, quando entrou na política optou por ajudar os excluídos pela sociedade. “Vontade de ajudar o próximo”, explica, foi com esse pensamento que conseguiu vencer a guerra, após uma batalha contra o câncer de mama. Fundadora da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (AAPECAN) de Alagoas, ela conta como foi difícil lutar contra a doença, que foi descoberta durante exames de rotina.

A vereadora conta que teve outras experiências ruins, mas nenhuma delas pode ser comparada com a do câncer de mama. “Durante um exame de rotina, fui diagnosticada com câncer de mama no dia 8 de junho de 2015, por se tratar de um tumor bastante agressivo, tiver que remover a mama esquerda, o procedimento cirúrgico foi realizado, dias após receber a notícia”, explica.

Tereza Neuma lembra que o impacto da notícia foi grande.  “A dor não era apenas física, mas psíquica, mexe com a feminilidade”, relatou acrescentando que era doloroso olhar no espelho e que se sentia mutilada.

Passados dois anos, ela teve a inciativa de submeter-se a cirurgia reparadora para reconstruir o mamilo e, em outubro de 2017, fez a tatuagem na mama.

Centro de Assistência para mulheres com câncer

Procuramos a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que informou, por meio de nota, os locais para onde são encaminhadas mulheres com suspeita de câncer de mama.

“Os dois locais para onde elas são encaminhadas são a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Universitário, que são os dois Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON)”, diz um trecho da nota.

Durante a realização de exames e consulta, se há uma forte suspeita de que a paciente esteja com câncer já é solicitada uma triagem oncológica nesses locais e, caso seja confirmado, já se abre um prontuário de forma imediata para o início do tratamento.