Ativista indígena lança campanha "ÍndioNãoÉFantasia na internet e gera discussões
Katú vem recebendo muitas mensagens de apoio, mas também muitas críticas e ataques

Penas, pinturas corporais e cocares que remetem a povos indígenas devem ser usados como fantasias de carnaval? A ativista Katú Mirim, de 31 anos, afirma que isso é racismo e lançou a campanha #ÍndioNãoÉFantasia para questionar a representação estereotipada de culturas.
"Isso é racismo, não é homenagem", dispara Katú no vídeo publicado no sábado (3) e que até a tarde desta sexta-feira (9) contava com mais de 258 mil visualizações no Facebook
No vídeo, ao lado da hashtag #ÍndioNãoÉFantasia, a indígena critica a aparição de celebridades ornamentadas com símbolos indígenas em baile de carnaval promovido pela revista de moda Vogue Brasil. Desde então, Katú vem recebendo muitas mensagens de apoio, mas também muitas críticas e ataques.
A ativista apagou sua página no Facebook perto das 16h desta sexta-feira, após dizer que sofreu ameaças no seu perfil.
Em entrevista, ela afirma que o objetivo da campanha foi chamar a atenção para o respeito à causa indígena e denunciar a representação de pessoas ou culturas como fantasias.
“Eu não vim dizer o que as pessoas podem e não podem fazer, vim pedir para elas refletirem sobre nossa existência. Eu tenho muitos vídeos didáticos, eu canto, mas nunca me escutaram. No momento que eu faço um vídeo curto pedindo respeito, eles me massacram. Eu peço que olhem para os povos indígenas, nos respeitem, lutem conosco”, afirma.
A indígena alerta que não é só nesse momento de folia que o assunto deve ser debatido, já que o preconceito ou estereótipo acontecem o tempo todo, desde a educação infantil.
"Se as pessoas não entendem que dizer que 'índio só pode viver no meio do mato, sem usar coisa do branco' é um estereótipo, fica complicado para elas perceberem que as representações das fantasias de ‘índio’ são somente a perpetuação desse pensamento", diz. E complementa:
"Acham que é homenagem, porque é ‘exótico’, ‘algo natural do Brasil’, que faz parte da cultura brasileira... mas se você pergunta a qual povo aquela pessoa está homenageando ao se fantasiar, ela não saberá responder, até porque dificilmente as pessoas conhecem nossa pluralidade étnica”
Busca pelas origens
Katú se reconheceu indígena após adulta, ao entrar em uma jornada de resgate a suas origens. Ela foi adotada como Kátia Rodrigues aos 11 meses de idade por um casal de brancos no interior de SP, depois de ser abandonada pela mãe. Neste período, já entendia que era vista como diferente pelos demais, mas a descoberta de suas origens veio somente na adolescência, quando teve contato com seus pais biológicos.
“A primeira pessoa que me leu como indígena foi meu pai adotivo, depois fui lida como ‘índia’ na escola, colocavam o cocar na minha cabeça, diziam que eu era selvagem feito os índios. As pessoas me liam como indígena por causa do fenótipo, fenótipo esse que eu não acho que eu tenha”, diz.
Ela conta que, por muito tempo, negou seus traços biológicos: usou cabelo descolorido, lentes azuis e não tomava sol para ficar o mais "branca" possível.
Confira o vídeo da campanha #ÍndioNãoÉFantasia.
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