Cidade do interior de SP inicia liberação de Aedes geneticamente modificado
Cidade é a primeira do país a receber a nova linhagem do mosquito; iniciativa tenta reduzir casos de dengue.
Um mês após o prazo informado inicialmente, Indaiatuba (SP) inicia, na manhã desta quarta-feira (23), a liberação da nova geração do "Aedes do Bem", como chama a empresa que produz o mosquito geneticamente modificado para diminuir os casos de dengue, zika e chikungunya. A cidade é a primeira no país a receber a nova linhagem do inseto transgênico.
Em janeiro, a Oxitec, empresa responsável pela mutação genética das espécies, e o governo do município, haviam informado que a previsão de soltura era para abril, mas trâmites burocráticos adiaram o começo dos trabalhos.
De acordo com a Prefeitura, a liberação acontecerá nos bairros Morada do Sol, Cecap, Jardim Itamaracá e Jardim Moacyr Arruda, com chance de ampliação. Os bairros Jardim Oliveira Camargo e Jardim São Conrado serão monitorados para efeitos de comparação, mas não receberão a linhagem do Aedes.
A Oxitec recebeu a autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para realizar os testes da nova espécie do "Aedes do Bem" em Indaiatuba no mês de agosto. A empresa informou que o monitoramento das áreas será realizado com "ovitrampas" (armadilhas para ovos) e armadilhas para mosquitos adultos. As amostras serão coletadas uma vez por semana e enviadas ao laboratório para análise.
Os mosquitos serão soltos durante 12 meses, de três a seis vezes por semana. Segundo a Oxitec, a quantidade dos insetos é baseada de acordo com a estimativa populacional do local. Veja o cronograma de liberação:
Cecap – 500 mosquitos por habitante/semana
Jd. Itamaracá – 100 mosquitos por habitante/semana
Jd. Moacyr Arruda – 100 mosquitos por habitante/semana
Morada do Sol – 500 mosquitos por habitante/ano
A Prefeitura de Indaiatuba informou que foram notificados 42 casos de dengue na cidade neste ano, com 9 confirmações (8 autóctones e 1 importado). As notificações de zika (4) e chikungunya (5) foram descartadas após exames.
Aedes do Bem
O "Aedes do Bem" é necessariamente macho, já que os mosquitos machos não picam ou transmitem doenças. Ele cruza com as fêmeas selvagens e as larvas geradas por ela, indiferentemente do sexo, não chegam à fase adulta, como consequência, a população da espécie na região é diminuída.
A nova linhagem desenvolvida tem as mesmas características da primeira, utilizada em Piracicaba (SP) e Juiz de Fora (MG), mas com a diferença de que, depois que o macho cruza, somente as descendentes fêmeas morrem.
Os filhotes machos herdam apenas o gene do mosquito transgênico e a cada cruzamento, seguem as mortes somente das fêmeas, diminuindo a sua população. Os novos machos herdam os genes do mosquito modificado e, após cada cruzamento, seguem as mortes somente das fêmeas, diminuindo a sua população.
Os mosquitos machos não picam e nem transmitem doenças. Somente as fêmeas picam os humanos, pois precisam do sangue para produzir os ovos. Com isso, os riscos de transmissão da dengue, chikungunya e zika diminuem.
Aedes do Bem em fábrica da Oxitec em Piracicaba antes de serem soltos, em 2015 (Foto: Claudia Assencio/G1)
Piracicaba
Em abril do ano passado, foram divulgados os resultados do uso do mosquito transgênico em três bairros de Piracicaba. A iniciativa alcançou 81% de supressão de larvas selvagens do Aedes aegypti na área tratada, em comparação com a área não tratada.
"Com níveis de liberação do mosquito trangênico 59% inferiores no ano passado, na comparação com 2015, o índice de supressão demonstra a força e o efeito duradouro da solução da Oxitec", afirmou a empresa.
No bairro São Judas, região onde o Aedes do Bem foi liberado pela primeira vez em meados de 2016, a redução de larvas selvagens do Aedes aegypti alcançou 78%, na comparação com a área não tratada, em apenas seis meses.