Dr. Bumbum e mãe são presos após quatro dias foragidos
Denis Furtado foi indiciado pela morte da bancária Lilian Calixto, no domingo (15). Ele foi achado pela PM em um centro empresarial na Barra.
O médico Denis Cesar Barros Furtado, o Dr. Bumbum, e mãe dele, Maria de Fátima Furtado, foram presos na tarde desta quinta-feira (19). Os dois estavam foragidos desde domingo (15), quando a bancária Lilian Calixto morreu de complicações após se submeter a procedimento estético na casa de Denis, na Barra da Tijuca.
Eles foram encontrados por policiais do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) em um centro empresarial na Barra. Para chegar até eles, o setor de inteligência do batalhão contou com informações do Disque Denúncia que oferecia recompensa de R$ 1 mil por informações do paradeiro do médico e da mãe.
Às 16h13, Denis e a mãe chegaram à 16ª DP acompanhados do advogado. Nenhum dos dois conversou com a imprensa.
Em seu perfil em uma rede social, Dr. Bumbum postou um vídeo em que fala sobre a morte da bancária. A declaração foi publicada às 16h, quando ele já estava preso. Denis diz que a morte de Lilian foi uma "fatalidade".
"Boa tarde. Como todo mundo sabe, aconteceu uma fatalidade. Mas uma fatalidade que acontece com qualquer médico. Uma paciente minha, após um procedimento de bioplastia de glúteo que eu já realizei 9 mil, ela saiu do consultório muito bem, e umas 6 horas após, ela chegou ao óbito algumas horas após, com parada cardíaca. É um mistério ainda a causa da morte, mas é uma injustiça o que estão falando de mim na televisão. É uma injustiça me acusarem de não ser médico. Eu tenho CRM antigo. É uma injustiça dizerem que o procedimento não é habilitado.”
"Na realidade, nós estávamos aguardando a prisão dele para as 16h. Tanto da mãe como do filho. A Polícia Militar conseguiu encontrar ele no escritório do advogado", explicou a delegada Adriana Belém.
"Eles vão ficar aqui na delegacia. Tem muita coisa pra esclarecer. São muitas perguntas pra fazer. Como se dava aquela atividade. Se havia autorização. Como se deu a morte da paciente. Porque que ele não ficou no hospital. Ou seja. As perguntas que todo mundo se faz nesse momento."
Prisão de Denis Furtado foi feita a partir de ligação do Disque-Denúncia
O boletim médico do Hospital Barra D’Or, em que a bancária Lilian Calixto foi socorrida horas depois do procedimento estético, informou que ela chegou ao local com falta de ar, taquicardia e pele azulada, como mostrou o RJ2 nesta quarta-feira (18).
A polícia montou cerco em um shopping da Barra da Tijuca e chegou a dar voz de prisão a Denis, mas o médico conseguiu fugir - ele destruiu a cancela do estacionamento.
O caso
Lilian seguiu a indicação de uma amiga e entrou em contato com Denis há seis meses. Ela queria retocar o bumbum e marcou o procedimento.
Ao marido e à família, a bancária disse apenas que faria uma viagem para o Rio de Janeiro. Só a amiga que recomendou o Dr. Bumbum sabia do procedimento.
Também indicação da amiga, o taxista que levou Lilian ao condomínio de Denis, na Barra da Tijuca, tornou-se a testemunha-chave do caso. Lilian pediu que o motorista esperasse. A bancária já tinha começado a passar mal quando, desconfiado da demora, o taxista ligou para a passageira.
Denis desceu da cobertura, deu R$ 300 ao taxista e disse que ele poderia ir embora, alegando que Lilian ficaria para jantar. Ainda assim, o motorista ficou e viu, tempos depois, quando a SUV do médico deixou a garagem com Lilian, em direção ao hospital.
O taxista também descobriria que a bancária tinha morrido, avisando a polícia.
A bioplastia
A polícia apreendeu na casa de Denis recipientes com PMMA (polimetilmetacrilato). Trata-se de um tipo de acrílico usado para preenchimento em aplicações prometidas como definitivas.
Mas parecer do Conselho Federal de Medicina de 2013 listava denúncias a respeito da técnica. "Diversos médicos renomados relatam em seus consultórios que a falta de uma solução para o problema está acarretando aos pacientes graves complicações", diz a entidade.
Niveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em São Paulo, diz que não há estatísticas exatas sobre as complicações do PMMA, mas que procedimentos com a substância não são aconselháveis. Há muitos relatos de complicação.
"O uso de PMMA não é indicado. Vai contra tudo o que é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Ele não é absorvido pelo organismo e esse é um problema com ele", informa
"Deve ser utilizado por médicos em pequenas quantidades", explicou Hermann Tiesenhausen, diretor de Comunicação do Conselho Federal de Medicina.
Cronologia
Sábado, 14 de julho
Lilian chega ao Rio, vindo de Cuiabá (MT). À tarde, pega um táxi previamente contratado e vai ao encontro de Denis.
A promessa era fazer o procedimento em uma clínica, mas o endereço passado é o da cobertura do médico, em um condomínio da Barra da Tijuca.
Lilian não recua da cirurgia, mas pede ao taxista que a espere.
O procedimento atrasa, e Lilian liga para o motorista mais de uma vez para avisá-lo.
Durante a cirurgia, a bancária passa mal.
Às 22h, preocupado, o taxista liga para o número de Lilian.
Quem desce é Denis, que mente dizendo que a cliente ia ficar para jantar. Ele dá R$ 300 para o taxista e o manda embora.
O taxista desconfia e resolve ficar. Pouco depois, ele vê o médico saindo de carro com Lilian, acompanhado da mãe dele, da namorada e de uma técnica.
O taxista os segue de longe, e Denis chega com Lilian ao Hospital Barra D’Or.
Câmeras do hospital gravam a chegada às 22h50. Lilian, numa cadeira de rodas, ainda está consciente, mas apresenta falta de ar e taquicardia. Sua pele está azulada.
A namorada de Denis providencia a entrada da bancária na internação. O Dr. Bumbum se identifica como médico, mas omite o que aconteceu.
Internada, Lilian conta tudo aos médicos do Barra D’Or.
Domingo, 15 de julho
Na madrugada, o quadro de Lilian se agrava. Ela sofre pelo menos três paradas cardíacas e morre.
Informado da morte da paciente, Denis deixa o hospital. O taxista vê a SUV do médico saindo do estacionamento e descobre, na recepção, que sua passageira tinha morrido.
O motorista avisa à amiga de Lilian. Ela confirma com o hospital, que chama a polícia.
Equipe da 16ª DP (Barra) localiza o médico.
Renata liga para o taxista e pede para encontrá-lo para devolver os pertences de Lilian. Ela marca na "clínica" de Denis, um salão de beleza no Shopping Downtown.
A polícia monta um cerco e dá voz de prisão ao Dr. Bumbum. Ele consegue fugir.
A SUV do médico é encontrada abandonada tempos depois.