Modelos negras são comparadas a escravas em conversas no Whatsapp
As mensagens foram trocadas durante um desfile em Brasília e divulgadas na internet
Mulheres negras foram alvos de ofensas racistas em um grupo de Whatsapp enquanto participavam de um concurso de moda em um shopping no Distrito Federal, no último sábado (13). A troca de mensagens envolvia ao menos cinco pessoas e prints da conversa foram publicados na internet.
O evento contemplava a primeira seletiva do Top Cufa, um concurso de beleza dedicado a mulheres que vivem nas periferias do Brasil, com foco na valorização da negritude. 180 modelos de 16 a 25 anos competiam no desfile dentro do shopping.
Um dos cinco sujeitos que aparecem na conversa, intitulado como "Alex", escreve que "tá tendo um desfile só de preta aqui" no centro de compras. "Coisa horrorosa", comenta ele.
Em sequência, um outro sujeito identificado como "Muniz" fala em tom jocoso que "Alex" tirou uma foto do desfile e encaminha a imagem de escravas enfileirados, com cestas em cima da cabeça. Um terceiro indivíduo contesta a "zoeira" e um quarto, apelidado "Dandan", responde: "Agora o cara é obrigado a achar as preta bonita? [sic]".
A publicação das conversas ganhou repercussão na internet e o caso foi registrado na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial na segunda-feira (15) pelo organizador do evento e presidente da Central Única das Favelas (Cufa), Bruno Kesseler.
"Não podemos ser coniventes com esse tipo de situação que, infelizmente, ainda ocorre no Brasil", disse.
O presidente da Cufa ainda explicou que os prints das conversas foram recebidos por uma das modelos que desfilava no sábado.
"Ela recebeu esses absurdos de um garoto negro que estava no local e que namora uma garota negra. É bom ver que não houve tolerância ou vista grossa diante dessas ações", comentou.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, que suspeita de que os autores sejam adolescentes. "Tudo indica que aquele era um grupo de WhatsApp de escola e de colégio", diz Bruno. Caso for confirmado o envolvimento de menores de idade, o caso será encaminhada para a Delegacia da Criança e do Adolescente."
A Delegacia Especial de Repressão aos crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a pessoa idosa (Decrin) confirmou que tratará o caso como "racismo" e não como "injúria racial".