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Menina denuncia padrasto por estupro após palestra sobre educação sexual

De acordo com o Sindicato dos Professores do Espírito Santo, após esses trabalhos nas escolas, aumentam o número de alunos denunciando os crimes

Por Gazeta Online 27/11/2018 11h11
Menina denuncia padrasto por estupro após palestra sobre educação sexual
Além desse caso, outros tiveram os acusados presos e as vítimas acolhidas pelos órgãos competentes - Foto: Reprodução

Em Vila Velha, no Espírito Santo, uma menina de onze anos conseguiu contar que estava sendo vítima de estupro após assistir a uma palestra preventiva de educação sexual na sua escola. Segundo o delegado Lorenzo Pazolini, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, o padrasto da vítima foi preso após a denúncia.

“Ela já sofria com os abusos há um tempo, mas só conseguiu falar sobre o assunto com a professora, que denunciou o caso. A vítima inicialmente foi levada a um abrigo. Depois, foi encaminhada aos cuidados de parentes próximos e o padrasto foi detido”, lembrou.

Palestras e aulas sobre educação sexual nas escolas é uma forma eficaz de fazer com que crianças percebam que são vítimas e consigam buscar coragem para contar o que estão sofrendo.

De acordo com o Sindicato dos Professores no Estado do Espírito Santo (Sinpro/ES), após esses trabalhos educativos nas escolas, aumentam o número de alunos denunciando os crimes. A professora e psicóloga Paula Janaína Costa, que é diretora jurídica do Sinpro/ES, diz que é comum que alunos relatem abusos após palestras porque muitas vezes a própria criança não percebe que está sendo vítima.

“Em alguma situações, a criança sente que tem algo errado acontecendo, mas por não ter a mesma consciência sexual do adulto, não entende. Ela fica confusa porque na maioria das vezes o abusador é uma pessoa próxima, querida e de confiança. Sem contar que o adulto costuma ter com a criança uma relação de poder e intimidação. Pelas palestras, muitas vítimas identificam o abuso imediatamente e procuram o professor, que tem o papel de acolher e acionar o Conselho Tutelar”, explicou a  diretora do Sinpro/ES

A professora explica que, quando os casos de violência sexual acontecem no ambiente familiar, as vítimas acabam vendo na escola um lugar seguro para pedir ajuda.

“Há crianças que não sabem verbalizar, mas quando abrimos o canal do diálogo, elas mostram o toque que receberam, fazem desenhos. E o professor também é treinado para observar as mudanças de comportamento ou se o aluno desenvolve brincadeiras sexuais que não condizem com a idade dele”, relatou.

A educadora disse ainda que a forma que a educação sexual é tratada depende da grade curricular de cada escola. Mas afirma que professores e pais de alunos se reúnem frequentemente para discutir como o trabalho deve ser realizado.

CASOS DENUNCIADOS

Cunhado

Em agosto de 2017, uma professora interrompeu um ciclo de abusos sexuais que uma menina de 10 anos enfrentava desde os 8 anos. Ao perceber que a criança ia mal na escola e andava cada dia mais triste, ela abordou a garota.

Ao conversar com a educadora, a menina teve uma crise de choro. Depois, sentiu-se protegida e confiante para contar que era abusada pelo cunhado. O comerciante de 50 anos foi preso.

Padrasto

Um ajudante de pedreiro de 23 anos foi preso acusado de estuprar a enteada, de 12 anos, em um bairro de Vila Velha. O crime aconteceu em setembro de 2017. Com os abusos, a vítima começou a mudar de personalidade, algo percebido pelos professores da escola, que chamaram a menina para conversar. A vítima contou sobre os abusos e o padrasto foi indiciado por estupro de vulnerável e preso.

Medo do pai

Em junho deste ano, um homem de 26 anos foi preso acusado de abusar sexualmente da filha de 5 anos, em Guarapari. O fato aconteceu em janeiro e foi presenciado pela outra filha do abusador, de 7 anos. A suspeita dos abusos só foi levantada após os professores da menina notarem que ela passou a ficar agressiva. Eles notaram também que a menina tinha medo quando o pai a buscava no colégio.

Lembranças

Um homem de 51 anos foi preso por estuprar a filha adolescente por sete anos em Cariacicia. O caso foi descoberto em novembro deste ano. E o crime só chegou à polícia depois que uma colega da escola da vítima percebeu que a amiga estava se automutilando e procurou a coordenação do colégio. Assim que escola soube da situação, o Conselho Tutelar foi avisado e comunicou a DPCA. À polícia, o pai da menina negou as acusações.

Choro no pátio

Uma crise de choro incontrolável no pátio da escola fez uma menina de 11 anos contar que era abusada, há seis meses, pelo vizinho e amigo da família, um servidor público federal aposentado, de 52 anos, em Cariacica. Segundo a Polícia Civil, a menina costumava ir à casa do suspeito para brincar com a filha dele, que tem a mesma idade dela. Foi em dezembro de 2017, quando a menina ainda tinha 10 anos, que os abusos começaram.

PROJETO AMEAÇA LIMITAR O TEMA NAS ESCOLAS

Em pronunciamento feito ao vivo por meio das redes sociais, no início do mês, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) se posicionou contra a educação sexual nas escolas. Em sua avaliação, a maioria dos brasileiros “quer isso”.

“Quem ensina sexo é papai e mamãe e acabou, ponto final, não precisamos discutir esse assunto”, disse Jair Bolsonaro, no pronunciamento.

Bolsonaro defende ainda o projeto Escola Sem Partido, que proíbe, entre outros, que o professor participe do “processo de amadurecimento sexual dos alunos”.

No último dia 22, o parecer do relator, deputado Flavinho (PSC-SP), foi lido pela primeira vez na comissão especial. Esse foi o último passo para que o projeto estivesse apto para votação.