Leia uma das 55 redações que alcançaram nota máxima na redação do Enem
Texto sobre a "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet" é da estudante Isabel Petrenko Dória, de 18 anos

No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2018, 112.559 participantes (equivalente a 2,3%) zeraram a redação. Apenas 55 candidatos dos 4,1 milhão de concorrentes conseguiram a nota máxima. Segundo o Inep, órgão responsável pela prova, os principais motivos seriam redações entregues em branco (1,12%), fuga do tema (0,77%) e cópia do texto que servia de contexto (0,36%).
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (18), na página oficial do instituto. As notas individuais podem ser acessadas através da Página do Participante. Para fazer a consulta, o candidato deve fornecer CPF e senha.
Neste ano, o tema da redação foi "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet".
A estudante Isabel Petrenko Dória, de 18 anos, foi uma das candidatas que obtiveram nota 1.000 na prova. "Ao longo do ensino médio, busquei ficar atenta à estrutura exigida pela banca do Enem e redigir o maior número de temas possível. Para isso, procurava ler muitos artigos, na internet, que me atualizassem e ajudassem a entender o tema escolhido, busquei ler redações antigas e enriquecedoras e, também, a assistir a documentários e entrevistas com especialistas no assunto", conta ela, em entrevista ao jornal O Globo.
Leia abaixo a redação da estudante na íntegra:
No filme “O jogo da imitação”, o personagem Alan Turing consegue prejudicar o avanço da Alemanha nazista, posto que decifrou os algoritmos correspondentes ao projeto de guerra de Hitler. Diante disso, pode-se observar, desde a segunda metade do século XX, a relevância do conhecimento tecnológico para atingir certos objetivos. Contudo, diferentemente de tal contexto, atualmente, utiliza-se a tecnologia, muitas vezes, não para o bem coletivo, como representado pelo filme, mas para vantagem privada, mediante a manipulação de dados de usuários da internet. Destarte, é fundamental analisar as razões que fazem dessa problemática uma realidade no mundo contemporâneo.
Em primeiro lugar, cabe abordar a dificuldade de regulação dos sites quanto ao acesso aos dados de quem está inserido no ambiente virtual. De acordo com Sartre, o homem deve zelar pelo bem coletivo em detrimento do individual, uma vez que ele está articulado a uma comunidade. No entanto, a tecnologia, atualmente, rompe com tal lógica altruísta, pois prioriza-se o lucro gerado pela manipulação do indivíduo. Isso ocorre porque muitas empresas detêm habilidades técnicas para traçar perfis individuais, direcionando, por conseguinte, o consumo, além de influenciar escolhas e gostos de cada um. Logo, verifica-se também uma ruptura com a filosofia kantiana de que a pessoa deve ser um fim em si mesma e não um meio de conseguir alcançar interesses particulares.
Ademais, outro fator a salientar é a falta de informação do público no que tange à internet. Diante do advento da Era Tecnológica, a priori com a Terceira Revolução Industrial e, posteriormente, com a Quarta, nota-se uma educação incompleta e que não prepara o indivíduo para um mundo imerso em computadores e inteligência artificial. Nessa perspectiva, apesar de, desde a infância, estar em contato com tablets e celulares, a criança cresce sem saber discernir corretamente quais informações podem ser publicadas ou se seu dispositivo está realmente seguro.
Torna-se evidente, portanto, a necessidade de repensar a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet. Assim, cabe ao Executivo combater o domínio de elementos pessoais dos consumidores, por meio do investimento na área de tecnologia de informações do Ministério de Ciência e Tecnologia, que deverá aprimorar seu sistema de identificação de uso impróprio de tais dados. Desse modo, poderá ser alcançado o objetivo de proteger os brasileiros inseridos na esfera cibernética. Outrossim, compete ao Ministério da Educação promover a inclusão de disciplinas como Ética e Tecnologia , mediante a alteração na Lei de Bases e Diretrizes da Educação, que impulsionará uma maior difusão da percepção crítica acerca do mundo virtual e de como utilizá-lo, a fim de mitigar a manipulação da conduta dos consumidores. Dessa forma, além de formar cidadãos mais capazes de reconhecer tal adversidade, será possível construir uma sociedade mais bem intencionada e preocupada com o bem coletivo.
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