Maceió

Acusada injustamente, estudante de Maceió passa 17 meses presa

Confira o relato dessa experiência traumatizante

Por 7 Segundos com Universa Uol 03/07/2021 11h11
Acusada injustamente, estudante de Maceió passa 17 meses presa
Jovem maceioense passa 17 meses presa por um crime que não cometeu - Foto: Reprodução

Já pensou ser preso por um crime que você nunca cometeu e ter todas as provas da sua inocência ignoradas? Foi exatamente isso que aconteceu com a jovem maceioense Maiara Alves da Silva, de 28 anos.

Em março de 2019, ela foi presa injustamente pela Polícia Civil, julgada e condenada a 24 anos de prisão por supostamente ter participado de um latrocínio contra um taxista.

Em entrevista concedida ao portal Universa Uol, a jovem relatou a experiência traumatizante:

"No dia 10 de março de 2019, acordei com a Polícia Civil em minha porta. Chamaram meu nome com um mandado de prisão, com uma condenação a 24 anos pelo latrocínio contra um taxista, ocorrido aqui em Maceió, em janeiro de 2014. Ali era o fim da minha vida. Eu estava amamentando minha filha mais nova, que na época tinha oito meses. Além disso, era um momento de luto pela perda da minha mãe -- que faleceu em meus braços -- um mês antes."Na hora da prisão fiquei em pânico. Meus três filhos estavam em casa, vendo aquela cena, e minha bebê chorando, pedindo meu colo. Fui conduzida à Delegacia de Homicídios e, enquanto tentava minha defesa, ouvia coisas absurdas! Quanto mais falava que era inocente, mas eu era ironizada. Um dos presentes chegou a dizer: 'a bandida é estudada'. Fiquei em silêncio", lembra ela.

No dia da audiência, houve o júri, mas Maiara não foi comunicada, sendo sentenciada mesmo sem ter a chance de se defender.

"Fui encaminhada para o sistema prisional no mesmo dia da prisão. Colocaram-me em uma cela sozinha, enquanto minha filha de oito meses gritava por mim. Fiquei em desespero e sem ação. Após oito dias, sai da triagem e fui para o módulo. Os primeiros dias foram os mais torturantes. Chorava muito com saudade dos meus filhos, e a revolta estava muito presente naquele momento. Não entendia o porquê de estar ali. Foi quando comecei a buscar refúgio em Deus", relatou.

"Os meses foram passando, tentava contato com o advogado anterior, mas ele nunca apareceu. Aí me vi abandonada por ele também. Meus filhos ficaram com a minha ex-cunhada durante esse tempo, não obtive direito a visitas durante o tempo que fiquei lá. Tive dor, saudade, humilhações. Tudo ali era motivo de revolta, que acabei transformando em fé. Na prisão, fiz curso de corte e costura, comecei a trabalhar na limpeza do sistema, fazia as orações da noite (as meninas oram às 19h). A convivência sempre foi tranquila, e sempre fui querida pela maioria das meninas", continuou.

"Quando já estava há um ano presa, uma das meninas saiu e relatou meu caso para a advogada Fernanda Noronha. Na semana seguinte, ela me visitou e perguntou o que havia acontecido. Como estava na pandemia, e Fernanda era do grupo de risco, ela passou para um colega de trabalho.Passaram-se alguns dias e ela começou a analisar meu processo e viu a quantidade de erros que havia. Alguns dias depois ela retornou ao sistema e disse: 'Você é inocente! Eu vou te tirar daqui!'", disse Maiara.

Em um mês, a advogada apresentou os erros processuais ao desembargador Washington Luiz, junto com uma carta escrita por Maiara um ano antes.

"Consegui minha liberdade novamente no dia 7 de agosto de 2020. Um fato determinante para provar minha inocência foi o testemunho de um amigo advogado de Arapiraca, que garantiu que no dia e hora do crime eu estava no velório do pai dele", continuou o relato.

"Ao sair, as meninas subiram nas grades e começaram a abalar a cadeia e todas gritavam: vai com Deus, Maiara, Deus é fiel. A doutora Fernanda falava que parecia o corredor da morte, envolta de lágrimas, e assim, saímos daquele lugar, aplaudidas pelas meninas do sistema carcerário", relembrou.

Após a experiência traumatizante, Maiara pretende lutar contra esse tipo de injustiça. Ela retomou o curso de Direito e atualmente está no terceiro período.

"Pretendo exercer minha profissão com ética, para que não aconteça com outras pessoas o que aconteceu comigo. Também pretendo prestar assistência às mulheres reclusas, fiscalizando processos que tenham indícios de inocência. Sabemos que em nosso país, há um grande índice de erros processuais", explicou.

"Atualmente trabalho como autônoma. Não recebi nenhum apoio, nem psicológico ou financeiro. Até meu auxílio emergencial, enquanto estava reclusa, foi sacado por terceiros se passando por mim. Até hoje estou com processo em aberto contra a Caixa Econômica. Luto para dar uma vida digna aos meus filhos, pois não tenho meus pais, nem familiares", continuou.

Maiara pretende processar o Estado pelo erro grave cometido contra ela.

"A fé é ilimitável. A justiça é falha, mas há um juiz maior em toda terra que julga com equidade", finalizou Maiara.