Direitos Humanos

Conselho de Combate à Discriminação de Alagoas fortalece luta contra o preconceito

Paolla foi nomeada como titular do conselho em setembro deste ano

Por Felipe Guimarães* 10/10/2021 08h08
Conselho de Combate à Discriminação de Alagoas fortalece luta contra o preconceito
Paolla Paullye Freitas de Araújo, titular do Conselho - Foto: Arquivo pessoal

A comunidade LGBTQIA + de Alagoas ganhou uma nova representante para a defesa de seus direitos. No dia 27 de setembro, a transexual Paolla Paullye Freitas de Araújo, de 29 anos, foi nomeada como titular do Conselho Estadual de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

Paolla recebeu a nomeação de titular como representante do Centro da Cidadania e Direitos Humanos - Pró-Vida, sendo a segunda mulher trans a se ter conhecimento ocupando um cargo no governo de Renan Filho (MDB). A primeira foi Jade Soares, assessora técnica da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh).

Em busca de entender a nomeação de Paolla e conhecê-la melhor, o 7Segundos entrou em contato com a nova defensora dos direitos das minorias sexuais e de gênero em Alagoas para uma conversa amigável.

Bastante disposta a nos responder, Paolla nos contou um pouco mais a respeito de sua nomeação. Segundo a titular, sua escolha partiu de uma decisão coletiva.

“Para mim é uma honra poder ocupar esse espaço e atuar junto a outras lideranças históricas. A indicação para nomeação foi uma decisão coletiva, onde represento a população LGBTQIA +, do Centro da Cidadania e Direitos Humanos Vida - CCDH VIDA.”, comentou.

Questionada sobre como funciona o Conselho, Paolla esclareceu se tratar de uma entidade fiscalizadora do poder público e que também propõe políticas públicas para o benefício da comunidade LGBTQIA + no estado de Alagoas. Uma de suas propostas, inclusive, é a inserção da comunidade no mercado de trabalho.

“As ações do Conselho, são construídas coletivamente, com a participação dos demais membros do Conselho. Uma das bandeiras que estou defendendo é de desenvolvimento de projetos de empregabilidade. Como conselheira, pretendo atuar no combate a quaisquer tipo de discriminação, inclusive, no mercado de trabalho”, respondeu.

A sua luta pela inserção dessa população no mercado de trabalho não é única no estado. A Semudh é responsável por articular ações voltadas à integração da comunidade LGBTQIA + no mercado de trabalho, por meio da Superintendência de Políticas para os Direitos Humanos e a Igualdade Racial.

Essas ações envolvem a construção de currículos e digitalização de documentos em sintonia com a articulação de parceria com a iniciativa pública e privada, o levantamento de cursos de capacitação e diálogos de acompanhamento e fortalecimento da participação dessa parcela da população, voltados para economia criativa e sustentável; e a aproximação com a Promotoria Regional do Trabalho para viabilização de ações de inserção no mercado de trabalho para comunidade trans e travesti do Estado.

Além das articulações, a pasta também realiza, em conjunto às instituições de ensino superior da capital, à Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego – SETE e ao SEBRAE, atividades relacionadas à construção de parcerias e promoção de diálogos sobre empreendedorismo, associativismo, economia solidária e à quebra do estereótipo dentro da temática trans, por meio da sensibilização e disseminação dos direitos da população LGBTQIA+.

Vigiar e articular

De acordo com Paolla, o trabalho prestado pelo Conselho deve ser feito em parceria com o poder público, fortalecendo o serviço prestado pelas secretarias e entidades, como o trabalho prestado pela Secretaria da Mulher de Alagoas.

“Enquanto sociedade civil, só podemos alertar a nossa população sobre os riscos de vulnerabilidade a violência. Com as proposições do Conselho, cabe ao poder público desenvolver ações de prevenção e de combate a violência, como também cabe à justiça penalizar os culpados”, esclareceu.

Primeira casa de acolhimento LGBTQIA+ de Alagoas. Foto: ascom CAERR


Além do poder público, Alagoas conta também com o Centro de Acolhimento Ezequias Rocha Rego (CAERR) o primeiro e único centro de apoio a comunidade LGBTQIA+ em Alagoas, responsável por oferecer cursos profissionalizantes, acolhimento psicológico e oferecer moradia as pessoas expulsas de casa por sua família por conta da sua orientação sexual e identidade de gênero.

Na visão de Paolla, uma parceria com o CAERR é possível, porém a titular não confirmou se esta união com a ONG está firmada oficialmente.

“O Conselho já atua com 11 entidades, representando a população LGBTQIA +. E toda e qualquer parceria, acredito que seja fundamental”, disse Paolla.

Finalizando a nossa entrevista, Paolla disse ainda não ter tido acesso aos projetos a serem feitos pelo Conselho Estadual de Combate à Discriminação, contudo, a titular reforçou o seu compromisso em fortalecer a causa.

“Ainda não tive acesso aos projetos que o Conselho está desenvolvendo, porém, estarei à atenta a defender a inclusão de projetos e ações voltadas para as mulheres e homens trans”, afirmou.

Violência

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Alagoas registrou 17 casos de violência contra as minorias sexuais e de gênero em 2020. Comparando esses dados com 2019, o número de casos de lesão corporal apresentou um aumento de 25%.

Enquanto isso, segundo uma pesquisa feita pelo Observatório de Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil, publicada neste ano, a região Nordeste foi apontada como a com o maior número de assassinatos de pessoas LGBTQIA +, com 113 casos registrados.

José Acioli Filho foi morto por um suposto namorado. Foto: reproução


Nessa pesquisa, Alagoas aparece como o terceiro colocado no ranking de estados mais violentos do Brasil. Com uma taxa de 4,8 mortes por bilhão de habitantes.

Até o momento, em 2021, já foram registrados 12º assassinatos de pessoas da comunidade em Alagoas, conforme aponta o Grupo Gay de Alagoas (GGAL). O último crime registrado, foi o assassinato do professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), José Acioli Filho, encontrado morto em sua residência no Jaraguá, após ter marcado um encontro romântico com o seu algoz.

*Com supervisão da Editoria