Pastora que celebrou casamento homoafetivo diz estar recebendo ódio direcionado aos LGBTQIA+
O portal 7Segundos conversou com a líder religiosa que sofreu ameaças de morte após cerimônia

Há 10 anos e após muita luta da comunidade LGBTQIA+, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecia o direito de pessoas do mesmo sexo em constituir uma família. Isso em 2011. Dois anos depois, por meio da Resolução 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o casamento homoafetivo passou a valer no Brasil.
Entretanto, é um direito que ainda não é garantido por lei, apenas pela Justiça. Avançando um pouco no tempo, já em 2019, o STF decidiu enquadrar a homofobia e a transfobia no crime de racismo, até que o Congresso Nacional aprove uma lei sobre o tema.
Em meio à falta de garantias legislativas, Alagoas registrou a maior taxa de homicídios de pessoas desta comunidade por milhão de habitantes no Brasil em 2020, com 4,8 para cada um milhão de pessoas, número quatro vezes maior que a média nacional (1,28). Esses dados fora do Observatório de Mortes Violentas de LGBTQIA+.
Voltando um pouco no tempo, em 2016, a Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, foi expulsa do rol de instituições religiosas filiadas à Convenção Batista Brasileira. Por meio de uma carta, os líderes reiteraram a repulsa ao preconceito e afirmaram que aceitarão qualquer pessoa na congregação, "independente de condição social, econômica e sexual" (sic).
Porém, no último sábado (11), após a realização de um casamento homoafetivo entre duas mulheres nesta mesma igreja, a pastora que realizou a cerimônia, Odja Barros, recebeu diversas ameaças de morte pelas redes sociais.
Em uma delas, o homem, que dizia residir na capital alagoana, mandou uma foto de um revólver e uma bíblia, dizendo que daria cinco tiros na cabeça de Odja. O caso está sendo investigado pela delegada Luci Mônica, titular do 9º Distrito da Capital e que preside o inquérito policial, que deve ser concluído em breve.
O portal 7Segundos conversou com a pastora, para contar a perspectiva dela como líder religiosa sobre os acontecimentos.
7Segundos: A senhora recebeu ameaças, mas também muitas mensagens de apoio. Como senhora vê esse apoio que recebeu?
Pastora Odja: "Recebi muitas ameaças mas, sem dúvida, a onda que me cercou e que tem me cercado esses dias é muito mais de apoio, solidariedade e e amor, né? E eu me sinto extremamente grata a Deus por essas redes que a gente vai construindo no nosso caminhar. O trabalho que a gente desenvolve que é para além de Maceió e da igreja, tenho vários grupos ecumênicos com os movimentos sociais, como também Movimento Sem Terra. Me sinto acolhida, protegida, cuidada e apoiada. Nessa hora, isso significa um grande alento em meio à onda de violência, mas nossa resposta é de amor e solidariedade".
7S: Como cristã, como a senhora vê esse ódio com a comunidade LGBTQIA+?
PO: "Esse ódio religioso contra a comunidade LGBT, que eu estou sofrendo, realmente não é diretamente a mim, né? Assim, estou na verdade recebendo o ódio que é dirigido aos LGBTQIA+. Então eu, primeiro, me sinto muito mais solidária do que sempre fui a todas essas pessoas e fico pensando como é difícil viver numa sociedade homofóbica, uma sociedade que se diz cristã e religiosa que é tão homofóbica e violenta".
7S: Qual palavra de esperança a senhora pode passar para essas pessoas que são alvo de violência?
PO: "A palavra de esperança que deixo para as pessoas que são alvo dessa violência é que nesse momento é como se eu assumisse a dor delas, faço isso com muita convicção e continuarei fazendo. Me orgulho de fazer o que faço. A minha palavra de esperança, que é o que nos une, nos fortalece, [nós eu digo comunidade que celebra o amor]".
7S: Segundo o conceito do cristianismo, "Deus é amor". Mas por que as pessoas esquecem desse amor? Por que ele esta em falta no mundo atual?
PO: "Pois é, Deus é amor e parece que isso precisa ser lembrado mais do que nunca. Quem diz que ama a Deus e não ama o seu próximo está mentindo. Mas eu diria que as pessoas estão esquecendo isso porque elas estão mais tomadas de uma religiosidade. Então na defesa daquilo que a instituição religiosa entende como única verdade, às vezes se torna violenta pra defender essa história acaba abrindo mão do amor. Creio que essa dificuldade do momento é porque temos uma sociedade que se declara muito religiosa e pouco amorosa. A religião pode cegar e levar às pessoas a serem violentas. A fé já foi instrumento de muita atrocidade. Inclusive, na história do cristianismo. É muito perigoso essa religião que se afirma a única dona da verdade que nega outros grupos que pensam diferente".
Últimas notícias
Colisão envolvendo três carros provoca engarrafamento na AL-220, em Arapiraca

Jacaré encontrado próximo de residências é resgatado por moradores em Arapiraca

Corpos de líderes cristãos são encontrados em vala comum na Colômbia

Prefeitura de Pão de Açúcar retifica e prorroga edital de Concurso Público

Prefeito inicia comemoração do 78º aniversário de Junqueiro com corrida de rua

Alagoas possui 10 barragens com alto risco de acidente, afirma relatório da ANA
Vídeos e noticias mais lidas

Alvo da PF por desvio de recursos da merenda, ex-primeira dama concede entrevista como ‘especialista’ em educação

12 mil professores devem receber rateio do Fundeb nesta sexta-feira

Filho de vereador é suspeito de executar jovem durante festa na zona rural de Batalha

Marido e mulher são executados durante caminhada, em Limoeiro de Anadia
