Pastor diz que é obrigação do cristão ser de esquerda e acolher homossexuais
Ed René se opôs ao conservadorismo religioso
O pastor Ed René Kivitz, líder da Igreja Batista de Água Branca, que recentemente disse no culto que tem medo de ser morto por um bolsonarista, concedeu uma entrevista para a Veja.
Entre os assuntos, o religioso falou sobre a política de armas e a cultura bélica e comentou sobre a aliança dos cristãos com o Presidente da República.
Uma das pautas comentadas por ele na entrevista foi se é possível ser cristão e ao mesmo tempo ser de esquerda.
“Nos últimos tempos, no Brasil, ‘esquerda’ virou um palavrão – quase um xingamento. Nas minhas redes sociais, as pessoas me chamam de comunista, socialista e esquerdista, como se estivessem me ofendendo. O termo ‘esquerda’ tornou-se uma injúria porque é associado aos regimes comunistas que perseguem cristãos, à luta pelos direitos reprodutivos da mulher (especialmente à questão do aborto), e às pautas identitárias, sobretudo àquelas relacionadas a comunidade LGBTS”, iniciou o pastor.
Segundo Kivitz, isso não passa de uma “caracterização pejorativa da ideia da esquerda”, pois quando alguém afirma ser de esquerda, é acusado de ser a favor do aborto e classificado como perseguidor de cristãos e ativista das causas LGBTQIA+.
“Toda a questão moral envolvendo a comunidade LGBTs está envolta numa tradição religiosa cristã de dois mil anos que condena pessoas homoafetivas ao inferno. Por isso, nós precisamos de um entendimento atualizado do evangelho e de um acolhimento amoroso dessas pessoas”, disse.
O pastor também ressaltou que a esquerda faz um trabalho importante junto aos Direitos Humanos, e em razão disso, é uma obrigação um cristão ser de esquerda.
“Dito isto, penso que caricaturar a ‘esquerda’ com essas questões é muito limitante. Agora, quando você trata a esquerda da perspectiva duma corrente ideológica que abarca o apoio dos direitos humanos, a busca duma sociedade mais igualitária, a promoção da justiça social – promovida não apenas pelas lógicas meritocráticas do Mercado, mas também pela atuação dos governos -, e o auxílio aos pobres, eu diria (nesse sentido) que não só é possível um cristão ser de esquerda, como é uma obrigação um cristão ser de esquerda”, disse.
Segundo o religioso, quando alguém lhe pergunta se ele é de esquerda, ele logo responde: “Se você está me perguntando se eu sou a favor do aborto e dos regimes comunistas e socialistas totalitários, eu digo que não. Agora, se você está me perguntando se eu sou a favor das pautas identitárias, dos direitos das mulheres e dos LGBTs, das questões raciais, do ideário dos direitos humanos e de um Estado que priorize os pobres e o enfrentamento da pobreza, então eu declaro que sou de esquerda”, finalizou.