PF suspende e afasta delegado que prendeu ex-ministro Milton Ribeiro
No ano passado, Bruno Calandrini acusou a cúpula da PF de interferência no inquérito

A Polícia Federal suspendeu preventivamente e afastou do cargo o delegado Bruno Calandrini. O investigador foi responsável pelo inquérito que prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, da gestão Jair Bolsonaro (PL).
A decisão, assinada pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, foi publicada na última quinta-feira (20) no boletim interno da PF ao qual a CNN teve acesso.
“Suspender preventivamente e afastar do exercício do cargo, até decisão final do processo Administrativo Disciplinar instaurado pela Corregedoria, de 15 de setembro de 2022”, diz o documento.
De acordo com a decisão, Calandrini “deverá manter seus dados cadastrais atualizados (endereço e telefones) junto à Comissão Permanente de Disciplina, bem como informar o local em que poderá ser encontrado, caso venha a se ausentar do domicílio”.
Entenda o caso
O delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre os desvios no Ministério da Educação (MEC), convocou dois delegados da cúpula da PF para serem interrogados sobre a operação que teve como alvo o ex-ministro Milton Ribeiro.
Calandrini quis interrogar em setembro do ano passado Rodrigo Piovesano Bartolamei, chefe da Superintendência de São Paulo, e Caio Rodrigo Pellim, diretor da área de combate ao crime organizado e número 3 da PF, sobre a suspeita de interferência na investigação que levou à prisão de Ribeiro.
A investigação envolvendo Milton Ribeiro abriu uma guerra interna na PF.
Calandrini acusou a cúpula da PF de interferência na investigação em uma mensagem em grupo com colegas da corporação e foi vazada, culminando na sindicância.
Segundo o delegado, houve “decisão superior” para que Ribeiro não fosse transferido para Brasília, conforme determinação judicial.
“Em razão da decisão superior, deixei de ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”, escreveu o delegado.
“Falei isso ao Chefe do CINQ [Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores, da Polícia Federal] ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial”, escreveu o delegado na mensagem a colegas.
Depois de acusar a direção da Polícia Federal de interferir na investigação, a sindicância concluiu que a suspeita levantada pelo delegado não tinha fundamento e um procedimento administrativo disciplinar foi aberto contra ele.
O procedimento pode, no limite, resultar até na demissão do delegado.
À época, o então ministro Milton Ribeiro foi preso em Santos e deveria ser transferido para prestar depoimento em Brasília.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a prisão, mas a transferência não foi feita.
O delegado Raphael Soares Astini, chefe de Santos, disse que ouviria o ministro na cidade santista e que ele não poderia ser levado para Brasília. Astini também virou alvo de investigação no inquérito de Calandrini por suposta interferência.
Astini apresentou um pedido de habeas corpus no STF alegando que a medida adotada por Calandrini se trata de uma investigação paralela, sem autorização e como vingança pessoal.
A CNN procurou o delegado Calandrini, mas não obteve retorno. O delegado Astini disse que não pode comentar o caso. Bartolamei e Pellim não foram encontrados pela reportagem.
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