Política

PMs se esconderam no banheiro durante ataques ao STF, revelam documentos

Prejuízos provocados pela invasão no 8 de janeiro passa de 11 milhões, segundo materiais compartilhados pela Corte com a CPMI do 8 de janeiro

Por CNN Brasil 05/07/2023 18h06
PMs se esconderam no banheiro durante ataques ao STF, revelam documentos
Atos criminosos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 - Foto: Joedson Alves/Anadolu Agency via Getty Images

Um grupo de policiais militares do Distrito Federal se escondeu em um banheiro do Supremo Tribunal Federal (STF) durante os ataques criminosos à Corte no dia 8 de janeiro. Enquanto isso, agentes da Polícia Judicial tentavam conter os invasores que depredavam o local.

O custo do quebra-quebra causado pelos vândalos foi estimado em R$ 11,4 milhões, segundo documentos compartilhados pelo STF com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.

O relatório produzido pela Corte detalha o gasto estimado para restaurar por completo todos os bens danificados no 8 de janeiro. A cifra milionária pode ser ainda maior porque não inclui 112 itens de valor inestimável que foram estragados, roubados ou destruídos, como um dos nove lustres de cristal no estilo Napoleão III, datado de 1870. O item foi quebrado pelos vândalos e não pôde ser restaurado.

Uma parte do tempo que durou o ataque violento contra o patrimônio público foi gravada pelas câmeras do circuito interno do STF, que também se tornaram alvo dos vândalos assim que eles perceberam que estavam sendo filmados.

Os dispositivos flagraram o momento em que os agentes de segurança da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) entraram no banheiro para se esconder dos golpistas que depredavam as instalações do edifício-sede, segundo relataram fontes que assistiram ao material.

O jornal “O Estado de S. Paulo” solicitou à Corte via Lei de Acesso à Informação (LAI) o compartilhamento da integra dos vídeos, mas o pedido foi negado sob a alegação de que as imagens gravadas “são de caráter reservado e não poderão ser fornecidas a terceiros”. Fontes relataram à reportagem que a corregedoria da PM instaurou procedimentos internos para apurar a conduta dos policiais flagrados na ação.

No dia 8 de janeiro, 54 policiais judiciais estavam escalados para fazer frente a eventuais ameaças que surgissem nas manifestações. Eles têm a função de proteger o patrimônio da Justiça e podem atuar apenas dentro dos limites da Corte. Após a invasão, 21 agentes de outros tribunais foram deslocados ao STF para reforçar a segurança. Enquanto a polícia judicial protege da porta para dentro, cabe à PM-DF impedir que quaisquer manifestantes se aproximem dos prédios públicos.

Por esses e outros motivos, a atuação da PM-DF está entre as prioridades da investigação conduzida pela CPMI. Na última semana de junho, o STF encaminhou ao colegiado os relatórios que detalham cada item danificado durante a invasão golpista e que podem guiar as próximas fases da apuração.

Na lista de objetos inestimáveis depredados constam bens históricos, como o jarro em porcelana no estilo Luiz XV, que aguarda até hoje para ser restaurado. Dentre os itens “não localizados”, ou seja, que foram roubados pelos golpistas, constam um prato de madeira de Belarus, uma bandeja de metal da Índia, utensílios de vidro das Filipinas e as togas de quatro ex-ministros da Corte.

Somente a aquisição de novas togas para ministros e advogados custará R$ 9.500. A substituição das cortinas foi estimada em R$ 1,2 milhão. Outros R$ 2,6 milhões foram provisionados para a compra de equipamentos para a TV Justiça, que faz a transmissão ao vivo diretamente do plenário de todas as sessões de julgamento do STF. A mão de obra para reconstruir o edifício ficou avaliada em R$ 339 mil.

Tropa desmobilizada

Em janeiro, foram reveladas imagens de câmeras externas do STF que flagraram o momento em que a Tropa de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal desmontou, no dia dos ataques, um bloqueio tático posicionado próximo ao Congresso Nacional que servia para impedir a invasão dos golpistas aos demais prédios públicos localizados na praça dos Três Poderes.

Policiais de alto escalão que depuseram na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do DF alegaram que a barreira foi desmontada para socorrer o então comandante da corporação, Fabio Augusto Vieira, que se feriu num confronto com golpistas no Congresso.

Um pequeno grupo de PMs chegou a confrontar os golpistas na via de acesso ao STF, mas recuou diante da ofensiva das pessoas que desciam do Congresso. Pessoas que trabalham na Corte disseram que policiais judiciais chegaram até a emprestar equipamentos de proteção aos policiais militares, que não estariam com o material adequado para a contenção de manifestantes violentos.

Veja o custo dos estragos no STF:

Instalação de cortinas – R$ 1,2 milhão
Aquisição de togas – R$ 9.500
Reforma de sofás – R$ 61 mil
Substituição de carpete – R$ 149 mil
Equipamento da TV Justiça – R$ 2,6 milhões
Cadeira de mármore – R$ 3.2000 (cada)
Mesa de centro em madeira – R$ 6.300 (cada)