General Heleno nega que Bolsonaro tentou golpe e minimiza participação de Cid em reuniões com militares
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na gestão de Jair Bolsonaro prestou depoimento à CPMI do 8 de janeiro nesta terça-feira (26)
O general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na gestão de Jair Bolsonaro (PL), negou tentativa de golpe de Estado por parte do ex-presidente, minimizou a participação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid nas reuniões com militares e disse que nunca discutiu assuntos políticos com seus subordinados no GSI.
As declarações foram dadas em depoimento à CPMI do 8 de janeiro do Congresso Nacional nesta terça-feira (26).
Heleno disse que Bolsonaro “nunca se propôs” a uma tentativa de golpe de Estado para permanecer no poder após as eleições do ano passado. “O presidente [Bolsonaro] disse várias vezes que jogaria nas quatro linhas e eu não tive intenção de fazê-lo sair das quatro linhas, não era minha missão”, falou.
“Ele nunca se propôs a partir nesse caminho. Ele tem a maneira dele de falar, mas jamais ele cogitou fazer isso”, acrescentou Heleno.
Questionado sobre a existência de uma “minuta do golpe” – documento que contaria com as etapas de um plano que possibilitaria ao ex-presidente Jair Bolsonaro seguir no poder mesmo após ter perdido as eleições –, o general declarou: “Nunca nem ouvi falar.”
Durante o depoimento, o general foi questionado sobre a suposta reunião em novembro de 2022 na qual o ex-presidente Bolsonaro teria discutido um plano de golpe de Estado com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. A informação seria parte da delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid à Polícia Federal.
Heleno negou conhecimento desta reunião e acrescentou: “O tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar em uma reunião dos comandantes de Força e participar da reunião, isso é fantasia.”
“Estão apresentando trechos dessa delação e me estranha muito porque a delação está ainda sigilosa, ninguém sabe o que o Cid falou”, completou.
Pouco depois desta afirmação, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) exibiu uma foto, disponível no Flickr oficial do Palácio do Planalto, que mostra Heleno e Mauro Cid durante uma reunião de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas, em fevereiro de 2019.
“Ele está ouvindo e está lá atrás do senhor. Ouvindo tudo. Mauro Cid ouvia tudo, está bem claro. Mauro Cid é sim um delator importante na delação premiada. Não adianta tentar tirar a imagem como se ele não participasse das reuniões e não soubesse o que está acontecendo”, declarou Correia enquanto mostrava a foto.
O general Heleno, então, justificou suas afirmações: “Ele [Mauro Cid] não é surdo, lógico que ele está escutando. Mas ele não participa. Ele não tem atuação nenhuma.”
“Nesta foto, Cid estava atrás esperando alguma necessidade de Bolsonaro. Ele não dá palpite, isso não existe. Então o que eu estou dizendo é perfeitamente lógico e viável. As pessoas aqui estão querendo me comprometer, não vão conseguir”, acrescentou.
O presidente da CPMI do 8 de janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA), tomou a palavra para afirmar que não considera que o general tenha faltado com a verdade: “Eu compreendi que o general disse ‘participava da reunião’ no sentido que sentava na mesa e tomava decisões. Veja só os assessores que estão aqui nos acompanhando. Eles estão participando da reunião e, ao mesmo tempo, não estão participando na mesma condição que nós deputados”.
Desentendimento com a relatora
O general também discutiu com a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), após uma pergunta a possibilidade de que as urnas eletrônicas tenham sido fraudadas nas eleições do ano passado.
Heleno respondeu: “Já tem o resultado das eleições, já tem um novo presidente da República, pô, não posso dizer que foram fraudadas.”
Em seguida, Eliziane replicou: “Então o senhor mudou de ideia, né?”
O comentário irritou o general, que exclamou em direção a seu advogado: “Ela fala as coisas que ela acha que está (sic) na minha cabeça. Porr*, é para ficar puto, né, p*ta que pariu!”.
Papel do GSI
Heleno também disse que o Gabinete de Segurança Institucional, órgão do qual ele foi ministro, existe para “manter o equilíbrio entre as instituições nacionais”.
“Jamais me vali de reuniões ou palestras, ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou político-partidários com meus subordinados no GSI”, declarou. “Deixei de ser ministro de Estado e não fiz mais contato com funcionários do GSI ou do Palácio do Planalto.”
O general negou qualquer participação do GSI no dia 12 de dezembro, quando manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília após a prisão do cacique José Acácio Serere Xavante. E também refutou a presença de funcionários do GSI na tentativa de se colocar um artefato explosivo no Aeroporto de Brasília, em dezembro passado.
“Não houve golpe”
O general Heleno também disse que não houve tentativa de golpe de Estado no Brasil após ser questionado.
“Não houve golpe. Para caracterizar uma tentativa de golpe em um país de 8,5 milhões de km² e mais de 200 milhões de habitantes é preciso uma estrutura muito bem montada. É preciso haver uma direção, uma cabeça muito preparada para conseguir fazer um golpe em plena era da comunicação, em plena era da tecnologia, que dê certo”, disse.
*Publicado por Fernanda Pinotti, com informações de Léo Lopes, Lucas Schroeder, Marcos Amorozo e Flávio Ismerim, da CNN