@trisalamoraocubo A gente é filho de trisal e...... #filhodetrisal #lgbt #lgbtqtiktok #lgbtq🌈 #familiadiversa #diversidade #trend #viral #fy #foryou #trisal #poliamor #filhos #bebes #familia #revelacao #bragancapaulista #atibaia #sp ♬ Epic Music(863502) - Draganov89

"A gente é filho de trisal, é claro que a reunião de pais fica lotada só com a minha família". "A gente é filho de trisal, e não, eu não faço terapia por causa disso". Foi assim, contando como é ser parte de uma família com duas mães e um pai, que os quatro filhos de um trisal viralizaram nas redes sociais.

Os pais das crianças são Marcel Mira, de 40 anos, Priscila Mira, de 39, e Regiane Gabarra, de 34 anos, que conversaram com o gshow sobre a popularidade que vêm ganhando nas redes sociais. Somente no TikTok, o vídeo que mostra o ponto de vista dos filhos sobre a família já ultrapassou a marca de 6,3 milhões de visualizações e 500 mil curtidas.

Os três estão juntos há 5 anos, mas nem sempre a vida a três foi simples. Marcel e Priscila eram evangélicos e viviam um casamento tradicional. Até que uma amiga de trabalho de Priscila mudou o rumo das coisas.

"A gente era tipo casal 20, muito certinho e eu nunca tinha sentido atração por mulher. Conheci a Regiane no trabalho e, quando percebi, estava apaixonada por ela. Foi estranho demais! Pra desencanar dessa vontade de ficar com ela, propus um ménage (relação entre três pessoas) como presente de aniversário de casamento para o meu marido. Eu fiz o convite e aqui estamos, 5 anos e 2 meses depois, com quatro filhos", conta Priscila.

E, nesse caminho, como em toda relação, os três passaram por dificuldades. Viveram "um misto de paixão, medo, ciúmes, insegurança, posse e amor" que, aos poucos, foi encontrando lugar. Por conta do preconceito, Priscila teve que romper com a religião, a família, amigos e os três até mudaram de cidade.

"Em dezembro de 2018, começamos a ficar com a Regiane e, em dezembro de 2019, fomos morar juntos em uma cidade maior, decidimos sair da cidade porque contamos a relação e era uma cidade pequena, deu muita fofoca e os meus pais não receberam bem a notícia", conta Priscila.

As filhas Sara Mira, de 16 anos, e Isabela Mira, de 11, são fruto do casamento de Priscila e Marcel. Já Reginaldo, de 19 anos, é filho de Regiane. Pierre, o mais novo, de um ano, é filho de Marcel e Regiane Gabarra. Mas nada disso faz diferença: todos vivem como uma só família, com duas mães e um pai.

"Explicar para eles foi a parte mais tranquila. Os mais velhos, claro, se assustaram quando contamos que éramos três, mas, após alguns minutos de conversa, entenderam que nada mudava e que a gente se gostava e desde então lidam muito bem com tudo! O Reginaldo me chama de mãe e a Sara tem a Regiane como mãe também! A Isabela, quando fomos contar, ela falou que já sabia e que pra ela estava tudo bem e que ela achava o máximo", conta Priscila.

Preconceito nas redes sociais

Depois que a família ganhou notoriedade, e só no Instagram já contabiliza quase 97 mil seguidores, tiveram que lidar com muitos comentários preconceituosos. Mas o trisal acredita que as redes sociais podem ser uma ferramenta importante justamente para que mais pessoas conheçam e entendam as relações poliamorosas.

"A gente criou as redes para se aproximar de outras pessoas que vivem relações poli. Aqui não é bagunça, é sério, são pessoas que se amam e que querem fazer dar certo. A gente abriu o Instagram e o TikTok para disseminar o amor mesmo, mostrar que existem famílias não convencionais que são normais, têm respeito, valores. Não é promiscuidade, nem bagunça", afirma Priscila.

O que diz a lei brasileira

A legislação brasileira as uniões não-monogâmicas como a de Marcel, Priscila e Regiane não são reconhecidas. "Na lei, inclusive na Constituição, essa união poliafetiva não é reconhecida. Porque a Constituição fala que é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, e esse texto é repetido no Código Civil", explica o advogado de Felipe Azedo, especializado na área de família.

Apesar disso, em agosto de 2023, um juiz do Rio Grande do Sul reconheceu a união poliafetiva de três pessoas, um homem e duas mulheres. "Na sentença, ele mandou o cartório de registro civil fazer a escritura de união poliamorosa, mas é uma decisão isolada, né? E pode ser que alguém ainda haja recurso. É um campo muito incipiente ainda. A tendência dos tribunais superiores tem sido de não aceitar", explica o advogado.

Para Marcel, Priscila e Regiane, a solução encontrada foi... o divórcio. "Eu e o Marcel nos divorciamos no papel em 2021. O fato de que só nós dois tínhamos uma relação reconhecida diminuía a Regiane e queríamos que fosse uma relação igual. Então, no papel, todos somos divorciados, até termos o reconhecimento de relações poliamorosas", explica Priscila.