Humano, apenas um rótulo

Wendel Palhares*
E se um dia você descobrisse que é um robô? Se, de repente, um simples teste de verificação online – o CAPTCHA que todos enfrentamos ao acessar sites – não apenas falhasse, mas negasse sua humanidade?
Essa é a crise existencial vivida por Lara Vermeulen, protagonista de I’m Not a Robot, curta-metragem vencedor do Oscar de 2025, dirigido e roteirizado pela holandesa Victoria Warmerdam. Disponível no canal da The New Yorker no YouTube, o filme levanta uma das questões mais perturbadoras da era digital: ser humano ou robô seria apenas uma questão de rótulo?
O filósofo Clóvis de Barros Filho resume o que a filosofia há milênios sugere: nossa humanidade estaria na capacidade de escolha e subversão da ordem. Seria isso que nos distingue dos animais e das máquinas. Um cachorro segue sua natureza, um computador opera dentro de sua programação. Mas Lara? Mesmo após a descoberta de sua condição artificial, ela desafia. Tenta decidir. Recusa o papel que lhe foi imposto.
Se essa é a essência do humano, então a fronteira entre nós e as máquinas já começou a ruir. Inteligências artificiais que antes apenas reproduziam padrões agora tomam decisões por si mesmas. Aprendem, erram, reavaliam. O livre-arbítrio, antes exclusivo do homem, começa a se expandir para sistemas digitais. Se uma IA pode questionar, mudar de ideia e até simular emoções, será que a humanidade é realmente uma condição biológica ou apenas um rótulo que atribuímos?
A ironia da trama está no fato de que Lara, ao contrário dos outros personagens, é a única que manifesta características genuinamente humanas. Ela sente angústia, medo e dúvida. Questiona sua própria existência. Quer entender o que está acontecendo. Enquanto isso, os outros dois personagens principais, seu parceiro Daniel e a vendedora Pam, se comportam com uma frieza mecânica. Para Pam, a revelação de que Lara pode ser um robô é irrelevante – afinal, no mundo dela, identidade é apenas um dado ajustável no mercado de autômatos. Para Daniel, nada muda. Ele não a vê como alguém que precisa ser compreendida, mas como algo funcional dentro da relação.
I’m Not a Robot escancara essa dúvida. Lara, que hesita e resiste, parece muito mais humana do que Daniel e Pam, que seguem suas vidas sem questionamento, presos a suas próprias programações. Se até os humanos podem agir como máquinas, a pergunta se inverte: e se, no fundo, nós já fôssemos robôs?
*Jornalista, secretário de Comunicação de Alagoas e Mestrando em Comunicação Digital pelo IDP
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