Cultura

Raphael Montes: o autor por trás da tríade de suspense, crime e horror

Um leão não mata outro por ciúme; avaliando a partir desse contexto, escritor traz à tona a capacidade humana de cometer crimes e transforma isso em histórias

Por 7segundos com assessoria 10/11/2025 13h01
Raphael Montes: o autor por trás da tríade de suspense, crime e horror
Raphael Montes: o autor por trás da tríade de suspense, crime e horror - Foto: Ascom

Quando um crime brutal é cometido, muitas vezes o adjetivo atribuído ao suspeito é “monstro”. Matar uma pessoa, usar a carne dela para promover jantares e ganhar dinheiro com isso — com os convidados, que são pagantes, tendo plena consciência do que estão saboreando. Isso poderia ser classificado como uma monstruosidade ou algo até repulsivo. Mas os caminhos que levaram quatro jovens a fazer isso resultaram na construção de uma das obras mais comentadas da literatura contemporânea brasileira. E o criador por trás delas atende pelo nome de Raphael Montes.

O homem de sorriso fácil e óculos de grau é a mente literariamente criminosa por trás dessa e de outras histórias igualmente tenebrosas. E ele vai além para explicar a base temática dos seus livros, ao explicar que o crime é algo inerente ao ser humano. “Um leão não mata outro por ciúmes ou por roubo. A gente tem a mania de chamar de “monstro” quem comete um crime, mas o trágico é perceber que isso é profundamente humano”, afirmou ele, durante participação na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, mostrando que os caminhos e os porquês que levam alguém a cometer um crime podem se transformar em sucesso nos mais variados formatos: livro, série, novela e filme.

Uma surpresa a cada página


Os meandros da mente que levam uma pessoa a tirar a vida de outra fascinam Raphael, que trabalha múltiplos personagens, de um ponto de vista perturbador, como em Dias Perfeitos (2014), escrito sob a ótica de um psicopata. Ler o livro é pensar, a cada página virada: “Que cara maluco”. Desde o sequestro de Clarice até o final, a psicopatia de Théo gera curiosidade sobre qual a próxima atrocidade que ele vai fazer — e pensar. Do início até o fim, as reviravoltas cativam e, quando menos se espera, o leitor está imerso em uma história de amor insano, pautado pela dor, e que termina de forma surpreendente.

Embora a crítica costume focar no suspense policial e no thriller psicológico, a dimensão do horror é inseparável de sua obra, dando conta da tríade que o define. Em Jantar Secreto (2016), por exemplo, a repugnância moral do crime de canibalismo é elevada a um patamar de horror físico e social. Essa veia mais sombria também é evidente em O Vilarejo (2015), uma coletânea de contos que mergulha no gênero do terror, com histórias macabras e atmosféricas baseadas nos Sete Pecados Capitais.

O próprio Raphael destacou isso: “As pessoas sempre dizem que nunca sabem como meus livros vão terminar. E eu acho ótimo, porque eu também não sei quando começo. Eu vou descobrindo junto, escrevendo. Acho que é isso que me mantém interessado na história.” Logo em seguida, ele falou que as reviravoltas são uma de suas marcas. “Eu acho curioso que o leitor já começa o livro sabendo que vai ser enganado. Ele sabe que em algum momento eu vou aprontar alguma coisa, mas mesmo assim ele quer ser enganado. É um pacto que a gente faz”, explicou.

E, assim, as pessoas se mantêm interessadas na próxima história escrita pelo carioca, cuja carreira literária começou lá em 2012, com Suicidas, um thriller policial que aborda a morte de nove jovens da elite do Rio de Janeiro, encontrados em um porão em condições que sugerem um jogo de roleta russa.

O sucesso


Montes ascendeu e, com o sucesso, vieram debates sobre temas polêmicos, mas suas histórias conquistaram milhões de leitores — já traduzidos para mais de 20 idiomas. Apesar do sucesso literário, Raphael também passou a contar histórias para o audiovisual. Seus personagens ganharam rosto em adaptações: Netflix, com Bom Dia, Verônica; Globoplay, com Dias Perfeitos; e HBO Max, com Beleza Fatal.

Seu mais recente romance, Família Feliz (2021), também virou filme com Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini e está disponível no Globoplay. “Família Feliz é narrado do ponto de vista de uma mulher em depressão pós-parto. Eu não sou uma mulher, nem vivi isso, mas tentei me colocar no lugar dela, entender sua dor e sua solidão”, afirmou Raphael.

Mas, apesar do sucesso nas telas, ele ainda prefere os livros. “Eu gosto muito de escrever roteiro, é um desafio diferente, mais coletivo, têm outras cabeças pensando junto. Mas o livro é o meu lugar. É onde eu posso ser completamente livre, fazer o que eu quiser com os personagens”, confessou.

Literatura deve fazer pensar


O suspense e o romance policial, antes gêneros dominados por autores internacionais no Brasil, ganharam uma voz verde e amarela. E, com ela, vieram a originalidade das histórias, o fluxo envolvente dos enredos e a capacidade de fazer refletir. Raphael não escreve para ensinar, mas para fazer pensar, mostrando que o suspense pode funcionar como um espelho da mente humana. “O bom livro, antes de tudo, diverte. Mas enquanto o leitor se diverte, você pode levantar perguntas, provocar reflexões. A literatura não deve dar respostas — ela deve fazer o leitor pensar”, concluiu Raphael Montes.

É desse jeito, escrevendo no horário da noite desde antes de lançar o primeiro livro, que Raphael traz seu lado controverso e disruptivo, que confronta o politicamente correto e faz milhares de pessoas se apaixonarem por histórias subversivas, mostrando a crueza da capacidade humana de ser má — porque essa dicotomia não funciona — nem todo mundo é mau ou bom o tempo todo.

Sobre a Bienal


A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.

Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.

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