Política

Flávio se isola na direita após receber bênção de Bolsonaro para 2026

Senador afirma que será adversário de Lula no ano que vem, mas partidos que poderiam formar aliança com o bolsonarismo têm outros planos

Por Metropoles 13/12/2025 11h11
Flávio se isola na direita após receber bênção de Bolsonaro para 2026
Flávio Bolsonaro - Foto: Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A oficialização da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência, anunciada na última semana, expôs o isolamento do senador entre partidos de centro e direita, que resistem a apoiar seu nome e seguem trabalhando para manter Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como alternativa competitiva para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026

Apesar da força eleitoral do clã Bolsonaro, que carrega, junto com o sobrenome, o espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dirigentes de siglas tradicionais do campo conservador afirmam publicamente que não pretendem aderir automaticamente ao projeto de Flávio.

Gilberto Kassab, por exemplo, é um dos que vocalizaram nesta semana que Tarcísio segue sendo a opção número 1 do PSD, sigla da qual é presidente nacional. Em declaração na quinta-feira (11/12), ele afirmou que deseja boa sorte a Flávio em sua campanha, mas que o atual governador de São Paulo “é o melhor candidato para o Brasil”.

Kassab ainda disse que, caso Tarcísio opte por tentar a reeleição no estado e sair da disputa à presidência no ano que vem, o PSD deve lançar um nome próprio. Os cotados, no momento, são os também governadores do Paraná, Ratinho Jr., ou Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.

A posição de Kassab também encontra eco em outros partidos, que já deixaram claro que se fiam em outras opções para além do filho 01 de Bolsonaro.

O deputado Doutor Luizinho (PP-RJ), líder de um bloco na Câmara que reúne partidos de direita e centro, afirmou que a movimentação do senador pode fortalecer a busca da centro-direita por um nome próprio e que a decisão de Flávio “libera” a federação para construir outro projeto.

Até mesmo o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), aliado de primeira ora de Bolsonaro e ministro da Casa Civil durante a gestão do ex-presidente, afirmou dias depois do anúncio da escolha de Flávio que até apoiaria o senador, dado a sua proximidade, mas deu um recado: “Política não faz só com amizade”.

Idas e vindas de Flávio


A pré-candidatura ganhou contornos ainda mais complexos devido às idas e vindas do próprio Flávio nos dias posteriores ao anúncio formal, feito na última sexta-feira (5/12)
Após surgirem especulações de que a escolha de seu nome pelo pai poderia ser um “balão de ensaio”, o senador declarou que sua permanência na corrida teria um “preço”, associando-o à aprovação da anistia no Congresso que beneficiasse Bolsonaro e outros condenados pelo 8 de Janeiro
Dias depois dessa fala, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautou o PL da Dosimetria, embora tenha dito a jornalistas que a decisão não era um resultado de pressões externas. O texto foi aprovado na madrugada de quarta-feira (10/12), após um dia de confusão na Câmara, e agora segue para o Senado, onde deve ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na próxima semana.

Com a repercussão negativa, Flávio recuou e passou a afirmar que sua candidatura seria irreversível, tentando afastar a impressão de que estava condicionando sua decisão a avanços na pauta da anistia ou a outro “preço” político.

A mudança, porém, reforçou a leitura de fragilidade política entre dirigentes partidários e caciques de partidos que já relutavam em apoiá-lo.

Ainda assim, no início da semana, Flávio se reuniu com líderes partidários, incluindo Ciro Nogueira e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, em um jantar em sua casa na tentativa de angariar apoio.

No dia seguinte, o senador afirmou: “Não é balão de ensaio, não tem volta. Mas a gente faz aqui o apelo de culpa: tem que caminhar com a gente desde o início”, pontuou sobre sua candidatura.

A oficialização de seu nome para o pleito do ano que vem ocorreu após uma visita de Flávio ao pai, que cumpre pena na sede da Polícia Federal em Brasília.

Segundo o filho 01, Jair Bolsonaro deu a bênção ao projeto eleitoral do filho, optando por manter o controle do espólio político dentro do clã, afastando a possibilidade de entrega desse capital eleitoral a figuras externas, como Tarcísio.

A decisão, contudo, veio em meio a uma disputa interna do próprio núcleo familiar que tinha a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no centro depois que a ex-primeira-dama questionou publicamente uma costura política do PL no Ceará e foi cobrada pelos enteados.