As trajetórias do Biquíni Cavadão e de Herbert Vianna estão ligadas desde o início e sem essa conexão as histórias de ambos seriam bem diferentes.

Herbert foi namorado da irmã do vocalista Bruno Gouveia, em 1983. O romance não seguiu adiante, mas a amizade dos ex-cunhados durou a vida toda.

Enquanto Bruno deu pitacos sobre o nome que a futura banda do músico paraibano teria, Herbert também foi decisivo sobre o mesmo assunto ao sugerir Biquíni Cavadão para batizar o projeto do amigo.

Se as trocas de figurinhas parassem por aí, já seriam relevantes historicamente. Mas Herbert foi além. Generoso, se ofereceu para tocar guitarra no primeiro single do Biquíni, Tédio, e articulou também o primeiro contrato da banda com uma grande gravadora.

Durante a carreira, sempre que pôde, esteve presente nos trabalhos o grupo, compondo, tocando e orientando os amigos sobre os melhores rumos a tomar. E Bruno sempre teve uma dívida de gratidão com Herbert. Para quitá-la, planejava desde 2007 a gravação de um disco tributo que abrangesse a obra de Herbert além do Paralamas. "Fomos postergando. Sempre aparecia alguma outra coisa para fazer. Isso nos tirava o foco, já que não queríamos registrar um disco de qualquer jeito", relembra Bruno Gouveia.

Por isso, ele, Álvaro "Birita" Lopes, Miguel Flores e Carlos Coelho precisaram adiar a ideia por dez anos. Em 2017, o grupo começou a transformar a ideia em realidade e, no começo de 2019, concluíram Ilustre Guerreiro, com 8 faixas. "O título escolhido é o significado literal de Herbert. A história e todas as superações do cantor demonstram que não existia nome melhor para ele", analisa.

O disco é quase como uma reunião dos amigos do compositor e resgata sucessos de Herbert no Paralamas, em carreira solo e como compositor para estrelas do axé, como Daniela Mercury e Ivete Sangalo. "Herbert foi um dos primeiros músicos a criar pontes com artistas de diversos gêneros, sem preconceito. Ele presenteou Daniela Mercury com a maravilhosa Só Pra te Mostrar, que resgatamos no álbum. Para Ivete, ele cedeu Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim, também presente. Isso demonstra o quão versátil o cara é. E também criou um desafio para nós, que precisamos repensar todas essas músicas tão distintas", garante.

Com produção de Liminha, parceiro história de Herbert em discos como Selvagem (1986), Os Grãos (1991) e Brasil Afora(2009), Bruno descreve a experiência como uma celebração ao amigo, que prosperou como artista e precisou recomeçar ao sofrer um acidente aéreo em 2001 que tirou a vida da mulher dele, Lucy, o movimento das próprias pernas e parte de memória — mas que não foi suficiente para afastá-lo dos palcos. "Além de uma obra bonita, a história dele também é. A superação de tragédias é uma marca tanto na vida do Herbert como na minha, que perdi um filho de 2 anos em acidente de helicóptero, em 2011. Perdas fazem com que as pessoas reinterpretem muitas coisas, inclusive letras de músicas. E reinterpretar foi nosso maior desafio nesse projeto", descreve. 

Para fazer as versões, Bruno confirma que precisou pensar bastante antes de mexer nos arranjos e produções originais — que, na visão dele, já são perfeitos. "É difícil mexer em gravações que já são referências de criatividade em produção, execução e gravação. Por isso que entramos no estúdio com a ideia de pensar tudo do zero. Se fosse para regravar de forma parecida, não teria sentido, pois já são ótimas", explica.

A decisão do disco ter apenas oito músicas foi uma forma de conseguir encaixar todas na próxima turnê da banda. "São poucas faixas, porque não queríamos deixar nenhuma de fora. E com esse número vamos incluir todas nas apresentações ao vivo", garante Bruno.