A Polícia Federal (PF) já iniciou as investigações sobre o suposto uso eleitoreiro de uma associação de moradores em São José da Tapera, no Sertão de Alagoas, onde um diretor teria usado a entidade para fins de compra de votos nas eleições municipais do ano passado.

Todo o caso veio a público após o vazamento de um áudio do presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Bairro 10, em Tapera, o agente de saúde Jailson Nunes, em um grupo de WhatsApp.

No áudio, denunciado pelo Ministério Público Eleitoral, conforme o processo 0600168-91.2024.6.02.0051, da 11ª Zona Eleitoral de Pão de Açúcar, que é 'peça' da investigação da PF, Jailson fala que a associação que preside só iria entregar as cestas básicas para as famílias que votassem, na época, no vereador e candidato a reeleição, Luciano Maia (MDB), neto do ex-prefeito de Pão de Açúcar, coronel Elísio Maia, já falecido. O político, que foi o oitavo mais votado, obtendo 709 votos, é ligado ao prefeito reeleito Jarbas Ricardo (MDB).

“Vou ser bem sincero de coração, só vai estar com a gente quem realmente nos acompanhar. E eu tô sabendo de um por um, eu não vou mentir que eu não tô doido. Infelizmente, eu tive que tirar quase 20 famílias, e quando elas chegarem na associação para receber o P.A.A. (Programa de Aquisição de Alimentos, do Governo de Alagoas), eu vou ser bem claro, infelizmente [...] nós não vamos dar mais”, disse Jailson Nunes.

E o presidente da associação, entidade que foi criada em 2019 e atende cerca de 1500 pessoas, vai mais além em seu áudio.

“Os caras estão jogando contra a gente, nós vamos ter que jogar também, porque não adianta eu ficar me acabando, indo para Maceió, ir para reunião, se organizar, pedir ao governador, pedir a deputado, pedir tudo, trazer as coisas para comunidade e ajudar vocês, as famílias, e na hora que nós precisarmos vocês ajudarem outra pessoa que nunca deu um bom dia a você. Aí, minha amiga, fica muito difícil pra mim”, falou o servidor municipal.

No final de um outro áudio o agente de saúde deixa transparecer que quem manda na associação é o vereador Luciano Maia.

“A partir de agora, vou trabalhar apenas com 150 famílias, e não com mais nenhuma. Foi o que ele me pediu, e eu preciso obedecê-lo, já que ele é quem está fazendo as solicitações ao governador e ao deputado”, declarou o presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Bairro 10.

Por decisão da Justiça, Jailson Nunes e o vereador Luciano Maia não podem ter nenhum tipo de contato até o final das investigações, porém, em Tapera, pessoas ligadas aos dois investigados confirmam que Jailson e o vereador são constantemente vistos juntos em festas na zona rural e que o presidente da Associação, sempre que pode, viaja para Maceió, onde tem encontros com o político em seu apartamento, no bairro do Farol.

As oitivas da PF em Tapera, em relação a esta investigação, não tem cessado. Várias pessoas já foram ouvidas e outras devem ser notificadas para depoimentos. Os policiais admitem que pelo teor dos depoimentos, apesar do medo de algumas das testemunhas, o possível uso eleitoreiro da Associação pode revelar um grande esquema de compra de votos no município, que envolve várias pessoas. Se houver confirmação de toda a denúncia, o vereador reeleito pode perder o mandato.