Cidades

Mestra da cultura indígena empreende usando saberes ancestrais

Líder na Aldeia Mata da Cafurna gera renda com espaço integrativo que oferece artesanato, alimentação e ervas

Por ASN AL 19/04/2023 14h02
Mestra da cultura indígena empreende usando saberes ancestrais
A história de resistência da líder Koram Xucuru será contada em livro, através do projeto “Biografias Colaborativas", que será lançado em breve através da Lei de Incentivo à Cultura e apoio do Sebrae - Foto: Reprodução/ASN AL

Olhar para o passado e encontrar as respostas para um futuro melhor usando a sabedoria e as práticas ancestrais. É nesta perspectiva que a mestra da cultura indígena, técnica de enfermagem, terapeuta holística e “mezinheira” Koram Xucuru vem empreendendo, gerando renda, curando pessoas e melhorando a vida dos indígenas da etnia Xucuru Kariri que vivem na Aldeia da Mata da Cafurna, em Palmeira dos Índios.

Filha de uma das fundadoras da aldeia onde vive, Koram Xucuru criou o Magia da Terra, um espaço de cuidados que oferece práticas integrativas como fitoterapia, argiloterapia, reiki xamânico, reflexologia e uso dos cristais, além da aromaterapia, que usa cheiros, óleos e tinturas para problemas do corpo e da mente.

“Eu ofereço cursos de aromaterapia, levando essa sabedoria das plantas para indígenas e não indígenas. Oferto os cuidados do meu povo, como os nossos saberes e novas técnicas misturadas às várias práticas ancestrais para o atendimento, usando ervas e alimentação como cura. Promovo cursos, rodas de conversa e momentos de cuidados”, explica.

Mas se engana quem pensa que Koram Xucuru só empreende com as terapias integrativas no Magia da Terra. O artesanato indígena, outra prática ancestral, é um dos protagonistas do projeto. A Mata da Cafurna é conhecida como uma das aldeias que produz o artesanato de melhor qualidade, que a líder indígena classifica como biojoias.

“Nossos adornos eram só para ficarmos bonitas, mas quando as terras foram invadidas e não mais demarcadas, vimos que podíamos vender nosso artesanato. O artesanato indígena tem história, energia das sementes, ossos, madeira, penas, não é uma fantasia, por isso temos que ter muito cuidado, essas energias são sagradas”, defende.

Porém, o artesanato produzido pelos índios não era considerado artigo de primeira necessidade. A questão para a empreendedora era: como manter a vida e a família com a venda do artesanato? Ela encontrou a solução na diversificação do negócio. “Associamos artesanato, alimentação e ervas. Produzimos colares, brincos, pulseiras, adornos para a cabeça, cocares, lanças, arcos e flechas, zarabatanas e vendemos em eventos, feiras e faculdades, além de enviarmos para a ONG Tideuã, em Salvador (BA). Com a pandemia, passamos a usar a banana para gerar renda, produzindo doces, geleias, o fruto desidratado, farinhas, bolos e maionese vegana feita com a biomassa da banana verde”, revela a empreendedora, lembrando que os doces são preparados com uma receita da sua aldeia, usando frutas orgânicas, misturadas com açúcar demerara e condimentos.

Biografia

Koram Xucuru terá sua história de protagonismo feminino e empreendedorismo indígena contada em livro, através do projeto “Biografias Colaborativas”, que será lançado em breve pela Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura, com o apoio do Sebrae Alagoas. Além da líder indígena, serão apresentadas na obra as trajetórias de vida de uma marisqueira, uma artesã que usa folhas de plantas em seus trabalhos, de uma recicladora de resíduos sólidos e uma artista que produz peças do bordado Singeleza.

A líder indígena tem uma vida desafiadora e desde cedo se mostrou uma mulher decidida. Contrariando a vontade da mãe, que era parteira, Koram Xucuru viu na área de Saúde sua missão de vida, estudou, tornou-se técnica de Enfermagem, foi considerada “rebelde” por ensinar sabedoria indígena fora da aldeia, levou o primeiro computador para dentro da sua comunidade, empreende e quer levar conhecimentos diversificados para o seu povo, para que eles possam crescer de forma sustentável, sem perder a essência e nem esquecer suas práticas e rituais tradicionais.

Para isso, ela vem participando de atividades no Sebrae Alagoas, como palestras sobre Economia Circular e Vantagens da Formalização.

Érica Pereira, analista da Unidade de Soluções e Inovação do Sebrae Alagoas, explica que a ideia é que o livro inspire outras mulheres por meio das histórias e que a renda gerada pela venda dos exemplares seja direcionada aos negócios das empreendedoras.

Paralelamente, o Programa Sebrae Delas apoia o projeto promovendo capacitações para estas mulheres. “Oferecemos palestras, cursos, oficinas e consultoria, que são ações dentro das temáticas de liderança feminina, sustentabilidade, vantagens da formalização do microempreendedor individual e plano de negócios”, explica.