Cosme Rogério
Dar um cheiro: arretada herança sino-lusitana
No carnaval passado, publiquei um texto discorrendo brevemente sobre a história de uma demonstração de afeto nascida na Ásia e difundida no Ocidente a partir da cultura greco-latina: o beijo. Não mencionei, no entanto, um substituto do beijo que é bastante específico do Nordeste brasileiro e que envolve nosso mais aguçado sentido: o cheiro.
Que seria do chamego sem um cheiro no cangote? Que seria do dengo materno sem o desejo de dar um cheiro em sua cria? Mas afinal, qual seria a origem desse mimo entre os nordestinos (mais um traço que nos distingue dentre o povo brasileiro), desconhecido entre os povos indígenas e africanos antes do contato com o europeu?
Segundo Camara Cascudo, um dos mais importantes estudiosos da cultura popular brasileira, apenas dois outros grupos humanos no mundo praticam a carícia de sentir o odor da pessoa amada: os esquimós e os chineses. Com esses últimos, os portugueses mantiveram estreito contato desde o século XVI, trazendo para o Brasil mais do que porcelanas.
Confirma a hipótese dessa influência chinesa na cultura nordestina o depoimento do militar português Wenceslau de Moraes, que serviu no Oriente no século XIX e explicou em seu livro “Traços do Oriente” a origem do gesto carinhoso tipicamente nosso. De acordo com ele, “os chineses não dão beijos... Não dão beijos, ou dão-nos de uma maneira muito diferente da nossa, sem o uso dos lábios, mas aproximando a fronte, o nariz, do objeto amado, e aspirando detidamente... O china beija o filhinho tenro, beija a face pálida da esposa, como nós beijamos as flores, aspirando-lhes o perfume; a assimilação é graciosa... Tendo agora por conhecida, e é coisa que não se contesta, a extrema agudeza olfativa dos chineses (os negociantes cheiram as moedas de ouro que julgam falsas, e assim conhecem o grau maior ou menor da liga de cobre), podemos talvez conceber uma vaga idéia do prazer da mãe, respirando sobre a carne fresca do filho um ambiente que ela não confunde como outro; o prazer do mandarim apaixonado, conquistando à brisa o perfume de uns cabelos negros, que ele aprendeu a adorar.”
Um cheiro!!!
Sobre o blog
Licenciado em Filosofia (FACESTA), mestrando em Sociologia (PPGS-UFAL), foi coordenador administrativo de núcleo regional da Secretaria Executiva de Economia Solidária, Trabalho e Renda de Alagoas (SERT), secretário Municipal de Cultura, Turismo e Esporte de Palmeira dos Índios, diretor da Casa Museu Graciliano Ramos e conselheiro do Fórum Estadual de Turismo de Alagoas (FORETUR-AL). Lecionou na Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL - Campus III) e na Faculdade São Tomás de Aquino (FACESTA). Atualmente, é professor da rede pública de ensino do Estado de Alagoas, comunicador, ator e produtor cultural.Arquivos
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