José Ventura
O caçador
Fim do mês de outubro e o verão no agreste do Estado começava desfolhar árvores, secar capim, esturricar a terra. Aves selvagens ficavam mais vulneráveis á mira de caçadores.
O sol esquentava e Balbino, Antônio José, Zé Cirino e Seu Zeca, equipados com embornais e espingardas artesanais “soca tempero”, iam caçar em uma extensa capoeira que se alargava desde o atual Vale das Águas, avançando pela Perucaba, Lagoa da Pedra até o Sítio Fernandes. Essas terras eram habitadas por nambus, codornizes, sabiás, camaleões e o cobiçado teiú, lagarto que guisado rendia apetitoso prato.
Abater um desses animais era troféu comemorado pelo “arguto” caçador que se dizia de refinada mira. A volta da capoeira nem sempre era acompanhada de euforia, nem de empáfia. A caçada sem caça levava os caçadores á frustração de explicar que o dia foi da caça e não deles.
Animados na esperança de outro dia ser o do caçador, se espalharam mato a dentro, pisando leve, escutando ruído nas folhas secas, aguçando a visão para encontrar a caça caçada.
Olhar fixo, quase hipnótico em dois nambus presos em uma arapuca, deixou Seu Zeca de coração acelerado.
Arapuca é uma armadilha de paus montados em sentido cruzado, amarrados com cipó, fazendo lembrar uma pirâmide oca.
Preparava-se inicialmente a ceva, grãos de milho espalhados numa clareira dentro do mato.
Atraídas pela alimentação as aves comiam o milho e deixavam o rastro que era possível identificar se era nambu, codorniz ou outra que estava sendo cevada. Armava-se, então, a arapuca com grãos de milho debaixo do desarme.
Seu Zeca extasiado resolveu pegar as aves, matá-las, enfiá-las no embornal e exibi-las no final da caçada aos colegas o triunfante troféu.
Dirigindo-se a arapuca, pensou. “oxe, se eu pegar as aves, matá-las e mostrar aos amigos, eles vão questionar a ausência de marcas do tiro,” Parou, recuou alguns metros, mirou as aves presas e abriu fogo contra elas. Espantados com o estampido da soca tempero, os dois nambus ganharam a liberdade num vôo rápido que rapidamente desaparecerem no meio da capoeira.
A mira da espingarda apontada para as aves atingiu o cipó que amarrava os paus da arapuca, desmontando-a e abrindo as portas para liberdade.
Final da caçada, colegas perguntaram a Seu Zeca em que havia atirado e em que caça.
Com um sorriso frustrado, disfarçado, gaiato, “não, não fui eu. Eu não dei um só tiro hoje, deve ter sido outro caçador”, respondeu Seu Zeca.
Na venda do senhor Abílio, estava o garoto Jorge do Acindino quando os caçadores retornaram da caçada. Em tom gaiato e zombeteiro, Jorge abriu o verbo. “...mas Seu Zeca, o senhor atirou na minha arapuca e quebrou ela toda? Quando eu cheguei o senhor estava apontando a espingarda para ela, eu me escondi numa moita e vi os passarinhos indo embora quando quebrou a arapuca”
Uma só gargalhada encheu a venda do senhor Abílio, e num tom amistoso e brincalhão, Seu Zeca foi condenado a pagar a pinga (cachaça Chora na Rampa) para todos os presentes.
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