Fábio Lopes
No Brasil há pena de morte para jornalistas
Se muitos se comoveram com a pena de morte da Indonésia ao traficante brasileiro é bom saber que aqui há pena de morte para jornalistas. E crianças, jovens e adultos.
Só que jornalistas e cidadãos do bem ou inocentes não são traficantes.
Basta ver o índice de homicídios e balas perdidas no Rio de Janeiro e outra cidade qualquer brasileira onde o tráfico impera.
No caso dos jornalistas especificamente, a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj – divulgou o “Relatório Anual da Violência contra Jornalistas e a Liberdade de Imprensa no Brasil”, informando que o número de agressões a jornalistas diminuiu em 2014.
Entretanto, o número de assassinatos a profissionais da imprensa aumentou. Isso é ou não é pena de morte?
Foram 129 agressões contra profissionais da imprensa no ano passado. O número foi menor que em 2013 quando foram registradas 181 agressões. Ainda assim é alarmante.
O presidente da Fenaj, Celso Schröder, explica que ainda há na sociedade brasileira setores que exercem algum tipo de poder econômico, político ou eventualmente criminoso que são incapazes de conviver com a atividade jornalística.
Ele tem razão. E os casos de agressão e morte acontecem muito quando há denúncias de abuso econômico e corrupção, principalmente na política.
Segundo o Relatório Anual 65 agressões ocorreram a jornalistas nas manifestações de ruas, atingindo 50,39%. Em 2013 dois jornalistas morreram aqui no Brasil. Em 2014 foram três casos.
Um deles aconteceu no centro do Rio de Janeiro, em fevereiro do ano passando, quando o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, foi atingido por um artefato explosivo e em seguida morreu. Os acusados estão presos e vão a júri popular.
Em Miguel Pereira, no interior do Rio de Janeiro, o jornalista Pedro Paulo foi assassinado na porta de casa por denunciar corrupção envolvendo políticos da cidade.
No interior da Bahia, em Teixeira de Freitas, a vítima foi o jornalista Jeolino Lopes da Silva Xavier morto a tiros em março de 2014, dono do Portal N3.
Eles fazem parte de crimes que ainda não foram solucionados.
Aqui mesmo em Arapiraca há casos de violência contra profissionais da imprensa. O radialista Alves Correia já sofreu um atentado e quase perde a vida por causa da profissão.
Dirigentes da Fenaj e também da FIJ – Federação Internacional de Jornalistas cobram dos governos e dos empresários de comunicação ações para conter a violência contra a categoria, além de políticas públicas de proteção.
No entanto, a pena de morte aqui no Brasil é assim. Basta escrevermos casos de corrupção ou o que desagrade a autoridades públicas ou lá quem quer que seja que estamos à mercê dessa violência covarde e cruel.
É preciso repensar o Estado como um todo. É preciso que se saiba discernir os fatos, as coisas. É preciso fazer o trabalho correto e se for denunciado que se defenda até que se prove o contrário. E não agir de tamanha violência.
Precisamos cada vez mais ter apoio dos governos, mesmo que eles sejam denunciados pela corrupção a que venham praticar.
Como também precisamos exercer a liberdade de imprensa e de expressão com responsabilidade e conduta ética.
É preciso saber distinguir o que se critica e o que se defende. Porém de uma coisa nós jornalistas temos a certeza: de que sem a imprensa não há liberdade alguma.
No Brasil, há pena de morte para jornalistas. E para a democracia também.
Sobre o blog
Jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Assessor de comunicação da SMTT Arapiraca, professor de Comunicação e Expressão do Senac Arapiraca. Blogueiro com experiência em TV, Rádio, Impresso, Online e Assessoria de Comunicação nos Estados de AL, PE e MA.