Blog do André Avlis

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Título da Argentina também serviu para quebrar paradigmas de um saudosismo conservador incoerente

Dos 26 jogadores campeões apenas um joga na Argentina

20/12/2022 06h06 - Atualizado em 20/12/2022 09h09
Título da Argentina também serviu para quebrar paradigmas de um saudosismo conservador incoerente

Um título que, além de quebrar um tabu, quebrou modelos predefinidos e inconsistentes.

Os mais saudosistas, e muitas das vezes conservadores, utilizam algumas retóricas para desaprovar práticas e comportamentos atuais. Mas talvez seja assim em qualquer época. Desde que o resultado não seja negativo, é claro.

Uma das frases mais utilizadas traz o antigo como modelo a ser seguido. Contrapondo os próprios períodos. É o tal do "antigamente não tinha isso". Mas sempre teve. Como sempre existiu alguém para falar essa frase.

Fico imaginando os anos 20, quando jogadores usavam toucas; a moda do 'bigodinho' dos anos 50; o black power dos anos 70; o corte de cabelo mullet dos anos 80/90; os cortes diferentes dos anos 2000.

Sem sombra de dúvidas, em todos estes tempos houve alguém externando o 'amor' pelo tradicional. Desde que o resultado não tenha sido negativo, é lógico.

Ou vocês acham que, por exemplo, alguém reclamou do 'corte cascão' e a chuteira prateada de Ronaldo em 2002 ou dos brincos que Romário usava em 94 ou de Pelé parando para amarrar as chuteiras em 70 para fazer propaganda da marca que o patrocinava?

O paradoxo vem através do resultado. Se deu certo, tudo se torna lindo. Se perdeu, as regras de 'etiqueta' e a aversão ao novo dão as caras.

Na Copa do Catar, para tentar buscar explicações por mais um revés da Seleção Brasileira, vários 'amantes do antigo' usaram todas as narrativas para desaprovar as atitudes e práticas dos atletas. Lógico, porque perdeu.

Pela a ironia do destino, a Argentina, o maior rival do Brasil, foi campeã dissipando as regras tradicionais criadas e impositivas.

Um goleiro que dança, pinta o cabelo, quebra protocolo e fecha o gol. Di Maria que se torna decisivo, cheio de tatuagens, fazendo gol utilizando uma chuteira branca e "não raíz". O craque e camisa 10 com cabelinho na régua, barba bem feita e chuteira colorida.

Além de uma seleção 'internacional', com apenas um jogador atuando no país (o goleiro Armani do River Plate) e um técnico que rompeu com o habitual para mudar as escalações e sistemas em todos os jogos a partir de suas inteligentes percepções - e está sendo elogiado porque deu certo, lógico.

Paradigmas sendo exterminados em plena Copa do Mundo. Tudo isso para quebrar - dentro e fora do campo - o saudosismo conservador e seus fundamentos incoerentes.

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