Com inovações, Alemanha trabalha emocional e vê sucesso na Copa
A Alemanha que humilhou o Brasil na semifinal, com propriedade e confiança fora do comum, chegou questionada nesta Copa.
Não pelo futebol, cuja qualidade técnica e disciplina tática são consolidadas. Sim pelo emocional, após fracassos em momentos decisivos desde 2006, sempre chegando perto e ficando pelo caminho.
A pressão, claro, não era a do tamanho dos brasileiros, que não souberam lidar com a questão jogando em casa. Mas havia. E os alemães se planejaram para fazer uma Copa leve, com momentos divertidos e ao mesmo tempo foco.
Na primeira manhã livre, o explorador sul-africano Mike Horn, que passou perto da morte em suas aventuras pelo mundo, fez uma palestra motivacional em alto-mar, em um passeio de barco. Os jogadores vestiram coletes salva-vidas, giraram velas e trabalharam o espírito de equipe. A competição começaria apenas dali a seis dias.
Os treinos também fugiram do convencional. Löw chegou a entregar pranchetas, papeis e canetas e fez uma gincana com os jogadores, para que acertassem questões táticas. Phillip Lahm e Thomas Müller foram os líderes de cada equipe.
Em outras ocasiões, outros esportes foram usados para descontrair, mas ao mesmo tempo aprimorar. Com uma bola de rúgbi, os alemães trabalharam a compactação na marcação.
Para descontrair, como ontem, a três dias da final da Copa do Mundo diante da Argentina, eles jogaram futevôlei no treinamento.
No dia a dia, um professor de yoga fica à disposição para sessões no Campo Bahia. Vários atletas já declararam que utilizam o método.
Físico e tática convergiram para o sucesso
Neuer, Lahm, Khedira, Schweinsteiger e Klose não chegaram 100%. Os dois últimos, preservados por Joachim Löw, ficaram no banco e nem sequer jogaram a estreia diante de Portugal. De acordo com a comissão técnica, Khedira e Schweinsteiger não poderiam jogar juntos como titulares, por falta de condicionamento - que aconteceu a partir das quartas de final diante da França.
A partir da melhora dos jogadores, duas mudanças táticas desde as quartas de final diante da França também foram consideradas decisivas para o sucesso alemão. Com Khedira e Schweinsteiger em boas condições, o treinador voltou Lahm para a lateral direita, colocando Boateng, que estava improvisado, na zaga ao lado de Hummels. Na frente, Klose também apareceu nas quartas e voltou a ser titular. Götze perdeu a vaga, e Müller, antes na função de falso 9, foi deslocado novamente para a ponta. O time ficou redondo e voando.
AS INOVAÇÕES ALEMÃS E O ESPÍRITO LEVE NA COPA
Palestra motivacional no barco
No terceiro dia de preparação no Brasil, a Federação Alemã convocou o explorador sul-africano Mike Horn para dar uma palestra aos jogadores durante um passeio de escuna no mar em frente à praia de Santo André (BA). Os jogadores atuaram como tripulação, girando velas e fazendo trabalho em equipe.
A intenção foi estimular o companheirismo e saber lidar com os limites do corpo humano. "A palestra me tocou, me impressionou, me deixou inspirado. Ele nos deu uma ideia de que você pode criar qualquer situação e suportá-la. A mensagem-chave era o quanto nós precisamos para nos ajudarmos em situações difíceis, e como ajudar os nossos companheiros ", disse o zagueiro Per Mertesacker.
Treinos para pensar e se divertir com outros esportes
A comissão técnica decidiu inovar nos treinos físicos, técnicos e táticos, o que já envolveu gincana entre os jogadores, partida de rúgbi, futevôlei e até basquete. Em uma ocasião, Joachim Löw distribuiu pranchetas, papeis e canetas e dividiu os jogadores em dois grupos, liderados por Thomas Müller e Phillip Lahm.
Eles tinham de resolver questões táticas da equipe em desafios propostos pelo treinador. Em outro treino, eles tinham de treinar marcação e compactação na modalidade do rúgbi, mas fazer gols como no futebol. No reconhecimento do Maracanã, antes das quartas de final contra a França, os jogadores brincaram de jogar basquete com a bola de futebol, tentando acertar latas de lixo antes do treinamento começar.
Concentração light e com familiares
Nos dias seguintes aos jogos da Copa, os jogadores alemães sempre receberam a visita da família no Campo Bahia. Liberados, alguns escolhiam a praia e tinham contatos com os fãs.
Outros encontravam-se com os familiares em uma pousada ao lado. Além disso, a Federação Alemã permitiu que Schweinsteiger desse umas "escapadas": foi à igreja no Recife, horas antes do duelo diante dos Estados Unidos, saiu para dar uma volta em Porto Alegre com o meia do Grêmio Zé Roberto, na véspera das oitavas de final contra a Argélia, e deixou-o passear na praia do Rio de Janeiro na véspera das quartas diante da França.
Meditação no Campo Bahia
Com um professor à disposição jogadores fazem yoga no dia a dia. Momento é usado quase sempre em dias de recuperação dos jogos, com trabalhos regenerativos.
Lazer e integração
Ao invés de quartos de hotéis e área delimitada, os alemães investiram em um complexo de casas e espaço comum para os jogadores aproveitarem o dia a dia como se estivessem numa comunidade.
A pedido dos jogadores, foi instalado um campo de minigolfe e uma sala improvisada de video game. Os jogadores raramente ficaram isolados em seus quartos e isso aumentou a boa relação do grupo.
A Alemanha perdeu o meia Marco Reus, seu craque, a dois dias da viagem para o Brasil.
Podia ter chegado num clima de velório e ter justificado sua ausência por um possível fracasso. Dessa vez, porém, não houve brecha para a cabeça dar errado.