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Murilo enfrenta cartolas em luta por futuro do vôlei

Por 7 Segundos com Globo Esporte 18/12/2014 09h09
Murilo enfrenta cartolas em luta por futuro do vôlei
Jaque, Artur e Murilo - Foto: Marcos Riboll

Em fase final de recuperação de um problema no ombro direito, Murilo acreditava que o seu fim de ano seria tomado apenas por sessões de fisioterapia, treinamentos e cuidados com o seu pequeno filho, Arthur. Porém, a rotina do ponteiro de 33 anos mudou bastante há exatamente uma semana, quando a Controladoria Geral da União (CGU) apontou uso indevido da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) de dinheiro público proveniente do milionário patrocínio do Banco do Brasil. Foi o estopim para que um dos mais vitoriosos esportes do país entrasse em uma grande crise, aumentada pela suspensão temporária do apoio do banco estatal. Indignado e sentindo traído por ter ajudado a CBV a construir uma imagem limpa, Murilo, titular da seleção brasileira, não conseguiu se calar diante da situação e assumiu a função de líder dos jogadores, encabeçando protestos - como o uso de narizes de palhaço na rodada do último fim de semana - e assumindo de vez a condição de importante voz do desporto nacional.

Bem articulado e com posicionamentos firmes, o ganhador de dois títulos mundiais (2006 e 2010), duas medalhas de prata olímpicas (Pequim 2008 e Londres 2012) e seis canecos da Liga Mundial vem se transformando em um ícone também fora das quadras. Ciente do seu papel, ele espera que a onda de protestos não sirva de alerta apenas para o esporte.

- Não é um protesto só dos jogadores e técnicos. É um apelo do público em geral e do nosso país. O Brasil está precisando mudar essa imagem de país da impunidade. As pessoas que cometem erros precisam pagar por seus erros - disse Murilo, após treino na sede do Sesi-SP, na Vila Leopoldina, em São Paulo.

Com ainda mais visibilidade, o marido da ponteira bicampeã olímpica Jaqueline diz que espera ter uma participação cada vez mais importante na vida política do vôlei nacional. Depois de anos apenas elogiando a estrutura do esporte, fazendo coro às conquistas dos dirigentes, Murilo conta que chegou a hora de mudar de lado. 

- Para ser sincero, eu não penso no que eu vou deixar em relação a tudo isso. Eu penso que em decorrência de todos esses títulos que eu conquistei e pela importância que eu tenho para o vôlei nacional, eu tenho que me pronunciar. E acho que eu escolhi o lado certo: o lado dos atletas.

A denúncia do CGU de problemas ocorridos na gestão de Ary Graça como presidente da CBV causou, de acordo com Murilo, um efeito colateral imediato. Como o cartola, que deixou a entidade nacional no início deste ano, também é presidente da Federação Internacional de Vôlei, o ponteiro acredita que a pesada punição dada pela FIVB na semana passada é uma retaliação comandada por Ary. Por conta de uma confusão durante um jogo contra a Polônia e ausência em duas entrevistas coletivas do Mundial da Polônia, em setembro, Bernardinho foi suspenso por 10 partidas e recebeu uma multa de US$ 2.000 (cerca de R$ 5.400); o líbero Mário Junior foi suspenso por seis jogos; o próprio Murilo pegou uma partida; e Bruninho recebeu multa de US$ 1.000 (R$ 2.700). Após a pena ser anunciada, a CBV decidiu abrir mão de sediar as finais da Liga Mundial, em julho de 2015. Para o camisa 8 da seleção brasileira, a tendência é que a FIVB passe a pegar ainda mais pesado com a equipe nacional, prejudicando o caminho verde-amarelo nas grandes competições entre nações.

- A gente achava que tendo um presidente brasileiro na FIVB, não que facilitaria nossa vida, mas que não teríamos problemas. Mas infelizmente é o contrário, parece que joga contra o seu país. 

Após a informação de que a CBV estaria desviando dinheiro pago pelo Banco do Brasil, Murilo começou a puxar pela memória situações em que a entidade alegava não ter condições financeiras de bancar melhorias para as seleções brasileiras. Um dos exemplo foi o pedido negado de troca de colchões e troca de equipamentos de musculação no CT de Saquarema.

- O CT já está completando dez anos e a gente tem brigado por algumas mudanças. Mas às vezes, a gente precisa escutar que não tem dinheiro, por exemplo, para trocar os colchões. A gente precisa de colchão novo, porque eles já estão há dez anos lá, mas eles falam que precisa ir devagar porque não tem dinheiro. A academia já tem dez anos, tem maresia e tal e a academia já está bem velha, mas eles dizem que não tem verba, e trocaram só alguns aparelhos. Aí você vai pensando e vai começando a ver que são coisas pequenas perto do que estamos falando. Imagina se estivessem investindo todo esse dinheiro desviado. A gente teria um centro de primeiro mundo.