Chile e Argentina buscam libertação na Copa América
As arquibancadas do Estádio Nacional de Santiago escondem dor e vergonha. Transformado em prisão no início do governo do ditador Augusto Pinochet em 1973, o hoje monumento histórico do país recebe a final da Copa América neste sábado, às 17h (de Brasília). Mais de 40 anos depois do terror, as seleções de Chile e Argentina entram em campo com um objetivo comum à história do local: a busca pela libertação. Os donos da casa sonham com o primeiro título de sua história, enquanto os hermanos tentam encerrar um jejum de 22 anos sem conquistas.
Um espaço na arquibancada remete ao passado. Cercado por grades, conserva bancos de madeira em homenagem a todos que ali sofreram. No alto, a frase ''Um povo sem memória é um país sem futuro'' foi o lema escolhido pelos ex-prisioneiros que transformaram o setor em um pequeno museu. A missão é clara: deixar que todos saibam - e não se esqueçam - o que se passou naquele local onde agora Chile e Argentina buscam a redenção. Estima-se que pelo menos 20 mil pessoas viveram no campo de concentração improvisado entre 12 de setembro, um dia após o golpe de estado, e novembro do mesmo ano.
- Aqui funcionou o maior campo de concentração do Chile. Milhares de homens, mulheres, chilenos e estrangeiros ficaram detidos nesse estádio. Os especialistas em tortura ficavam no velódromo ao lado. Nós, ex-prisioneiros, somos como Dom Quixote. Lutamos contra moinhos de vento que não gostam da história, que não queriam que existíssemos, que lamentam que tenhamos sobrevivido. Mas no fundo fico feliz por essa Copa América fazer com que o estádio seja novamente lembrado para o que foi criado. Depois de tudo, a redenção do Chile pode ser aqui. Estou confiante no título - avisa Wally Kunstmann, de 73 anos, que ficou seis meses presa durante a ditadura, passou vários anos exilada na Venezuela e hoje preside o projeto Estádio Nacional-Memória Nacional.
Atrás de um dos gols que pode consagrar Messi, Agüero, Vidal, Vargas e companhia, fica a chamada escotilha - ou entrada - 8 (cada uma recebia mais de 500 presos). O local foi escolhido para representar o projeto e abrigar o museu por ser o preferido dos prisioneiros graças à sua localização: era a única das ''celas'' de onde se dava para observar a rua. Ali, muitos se amontoavam para tentar mostrar que estavam vivos aos parentes que lhes procuravam.
Nas paredes, fotos e lembranças dos momentos de medo. Apesar das pinturas realizadas no local desde então, ainda é possível perceber o relevo dos riscos feitos pelos presos para contar os dias e não perder a noção de tempo. Na contagem da Copa América, faltam poucas horas para a bola rolar e o campeão ser decidido.
- É mais fácil perguntar o que não vivi nesse estádio. Aqui aconteceram coisas que até hoje não consigo esquecer. Nessa escotilha viviam entre 600 e 700 pessoas. Estamos pisando onde ficavam os colchões. Vi crianças morrerem, serem tratadas como cachorros. Completei 25 anos de vida preso. Hoje comemoro o dia 9 de outubro com minhas netas. Mas sempre lembro dos pães que ganhei de meus companheiros com um fósforo em cima. Foi o melhor ''bolo'' que comi até hoje - lembra Manuel Méndez, de 67 anos, que ficou 50 dias preso no estádio.
O Nacional deixou de ser campo de concentração improvisado em novembro justamente por causa do futebol. Era preciso disputar a partida pela repescagem das Eliminatórias da Copa de 74 entre Chile e União Soviética - o jogo nunca chegou a acontecer porque o rival se negou a comparecer por questões políticas; os chilenos ficaram com a vaga. A inspeção da Fifa foi feita com os presos escondidos nas escotilhas e o estádio foi aprovado. Wally até hoje diz que a maior entidade do futebol mundial foi cúmplice da ditadura naquele momento.
Chegou a hora de trocar os sentimentos. A dor e a vergonha ficam no passado, entram em campo a alegria e o orgulho de ser campeão. O embalado Chile e a favorita Argentina receberam o direito de lutar pela taça da Copa América neste sábado. Mas apenas um será libertado.
FICHA TÉCNICA
CHILE: Bravo; Isla, Medel, Francisco Silva e Beausejour; Díaz, Aránguiz, Vidal e Valdivia; Vargas e Sánchez. Técnico: Jorge Sampaoli.
ARGENTINA: Romero, Zabaleta, Otamendi, Garay (Demichelis) e Rojo; Mascherano, Biglia e Pastore; Messi, Di Maria e Agüero. Técnico: Gerardo Martino.
Data: 04/07/2015 Horário: 17h (de Brasília) Local: Estádio Nacional, em Santiago (Chile)
Árbitro: Wilmar Roldan (COL) Auxiliares: Alexander Guzmán e Cristian De La Cruz (COL)
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