Esportes Brasil

A Depressão e o alcoolismo fizeram a opção por Adriano

Por Com Cosme Rimolí- R7 03/01/2017 23h11
A Depressão e o alcoolismo fizeram a opção por Adriano
Adriano na Seleção Brasileira - Foto: Reprodução

O Imperador Adriano, como era chamado no áuge de sua carreira, trocou tudo isso pela Vila Cruzeiro. O Portal 7 Segundos reproduz o resumo de um texto produzido por Cosme Rímoli, do portal R7, que retrata bem a decadência do ídolo.

Comunidade da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. .

"Comunidade" é uma maneira mais delicada de batizar a favela. Milhares de casas de alvenaria, deixam os tijolos à vista, sem tinta. Vielas e mais vielas. Mais de 500 policiais formam a Unidade de Polícia Pacificadora. Tentam, sem sucesso, conter o tráfico.

A favela é dominada pelo Comando Vermelho, não é segredo para ninguém. Os gatos de luz e tevê a cabo dominam os postes. Esgoto corre a céu aberto em várias vielas.

Adriano seguiu o destino que escolheu. Está fazendo exatamente o que quer. Trocou seu talento como goleador pelo direito de viver na favela. Cercado de namoradas, amigos. Festas, farras, churrascos em lajes. Nem quando era um dos maiores atacantes do mundo fazia distinção entre os parceiros que pertencem ao crime dos evangélicos, dos trabalhadores. Trata todos da mesma maneira.

Seu apelido é Didico.

Não tem compromisso com nada. A não ser desfrutar o que resta do que conseguiu ganhar em uma carreira ceifada pela metade. Ela acabou exatamente no dia 4 de agosto de 2004. Nove dias depois da maior conquista de sua carreira. A Copa América do Peru.

"Esse título vai para o meu pai. Ele é o meu grande amigo desta vida, meu parceiro, sem ele não seria nada", me disse após a vitória diante da favorita Argentina. O título só veio porque Adriano conseguiu empatar a partida no último minuto do segundo tempo e levar a decisão aos pênaltis.

"O Adriano fará história no futebol brasileiro. Ele é forte, canhoto, talentoso. É atacante para as próximas três Copas do Mundo." A previsão era do empolgado técnico campeão, Parreira.

A morte do pai

Mas bastaram nove dias e Almir Dias Leite, pai de Adriano, morreria de infarto. Ele tinha uma bala alojada no crânio. Tomou um tiro em uma festa na Vila Cruzeiro. Conviveu com dores lancinantes. A bala perdida se alojou muito perto do cérebro e uma cirurgia seria sentença de morte. Mas acabou falecendo aos 45 anos.

Desde a morte do pai, Adriano mergulhou na mais profunda depressão. Buscou alívio no álcool. Seu então empresário, Gilmar Rinaldi, fez de tudo para tentar livrar o jogador do vício. Queria até interná-lo à força.

Em uma longa entrevista, ele confessou que tomava porres e era protegido pela direção da Inter de Milão. Sincero e corajoso, ele expôs todo o seu sofrimento. "A morte do meu pai deixou um buraco enorme na minha vida. Ele morreu em agosto de 2004. Foi a pessoa que me fez quem eu sou. Devo tudo a ele e a minha família. Eu acabei ficando muito sozinho, me isolando quando ele morreu. Foi a pior coisa. Me vi sozinho, triste, deprimido na Itália”.

E seguiu o relato

“Eu passei a beber, só me sentia feliz bebendo. Eram festas todas as noites. E bebia o que passava pela frente: vinho, uísque, vodca, cerveja... muita cerveja. A situação ficou fora de controle. Eu só conseguia dormir bebendo. Acordava e não sabia nem onde estava. Eu era jogador de um dos maiores times do mundo. Comecei a ter problemas com o treinador, o Mancini, com os companheiros. Eu chegava bêbado para os treinos da manhã.

Com medo de perder a hora dormindo, eu ia bêbado mesmo. Isso aconteceu várias vezes”.

Ele não queria mais viver.

"Estava sofrendo muito, comecei a desacreditar até em Deus, a quem sou muito apegado. Estava na Itália ainda. Deus não existe, eu dizia. Às vezes, pensava que, se fosse para fazer minha família chorar e sofrer, eu preferia ir embora. Nunca tive medo de morrer, de fazer nada da minha vida. Sempre fiz o que acho que tinha que fazer. Aquilo que quero, eu faço. Esse é meu lado homem. Foi muito complicado."

Episódio triste

Adriano ainda enfrentou um episódio que poucos sabem. Pouco antes da Copa de 2006, quando formava o Quarteto Fantástico, com Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. A revelação foi feita ao site esportivo da Globo.

"Dias antes de embarcar para a Alemanha, Adriano foi festejar com os amigos da Vila Cruzeiro na boate Quebra-Mar, no início da orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. O grupo, segundo versão de pessoas próximas ao jogador, contava com alguns foragidos da Justiça. Ao deixar a boate, a comitiva do Imperador foi abordada por policiais e levada para um local nas redondezas de Realengo.

"Um dos grandes amigos do atacante tentou fugir, foi baleado e morreu. Segundo relatos de quem estava presente, há registros fotográficos do Imperador no local em que aconteceu a morte. A partir daí, o jogador conviveu com tentativas de extorsão, o que teria contribuído para desestabilizá-lo emocionalmente no Mundial."

O medo

Gilmar Rinaldi via Adriano se afundar no álcool. A depressão só aumentava. O empresário tinha medo que o jogador pudesse se suicidar. E insistia na internação. Insistiu tanto que romperam. "Fiz o que pude e o que não pude para tentar proteger o Adriano dele mesmo", me disse Rinaldi.

Depois da Inter, o atacante começou sua derrocada. Passou pelo São Paulo, Roma, Corinthians, Atlético Paranaense, Miami United. Cada vez os vexames eram maiores. Mais constrangedores.

"O Adriano jogou sua carreira fora. Seria o titular da Copa de 2010 e 2014 se quisesse. Não quis", lamenta Ronaldo Fenômeno.

Tristeza

O tempo passou. O jogador fará 35 anos em fevereiro. Está sem atuar para valer, desde 2009, quando foi campeão com o amado Flamengo. A frase predileta que Adriano usa para explicar a decadência é conhecida.

Um triste mantra. "Eu só fiz mal a mim mesmo." E como você fez, Didico...