Ex-ASA, goleiro Tom relata falta de água e comida em clube do Campeonato Goiano
"A gente enfrentou muitos problemas. A gente não tinha água. Às vezes não tinha nem o que comer depois do jogo".Foi com lágrimas e palavras fortes que o goleiro Tom, do Rio Verde (GO), expôs a dura realidade enfrentada por ele e seus companheiros de clube, que estão desde fevereiro com salários atrasados. Porém, esta não é uma história apenas de tristeza, mas também de superação.
Tom fez o desabafo para rádios goianas após sua equipe vencer o Goianésia há dois domingos, fora de casa, com gol no último minuto e menos dois jogadores. O placar evitou a queda do time, que teve sua salvação no Campeonato Goiano confirmada neste domingo, após combinação de resultados que rebaixou o Goianésia. A entrevista de Tom viralizou na internet, mas nem isso adiantou para o jogador receber seu salário.
Revelado pela Portuguesa (SP) e ex-goleiro da Lusa no profissional, Tom, de 25 anos, topou conversar com o LANCE! sobre os problemas vividos no Rio Verde. Liberado pelo clube para buscar um novo destino, ele não conseguiu deixar a cidade de Rio Verde rumo à Itaquaquecetuba (SP), onde mora sua família (esposa, filha e mãe na mesma casa), por não ter dinheiro para a passagem. Tom, primeiramente, detalhou a situação da falta de água e de comida.
"Ficamos sem condição de trabalho, levamos tudo na vontade. Logo na segunda rodada, contra o Goiás (derrota do Rio Verde por 2 a 0, em Goiânia), não tinha água para beber na concentração. O clube era responsável por pagar a água, mas não conseguiu manter essa situação. A gente teve que sair "tarde da noite" do hotel e comprar água "do nosso bolso" em um posto de gasolina, porque a boca dos meninos estava secando. No primeiro mês alguns receberam salário e outros, não. Depois começou a faltar comida. A gente até tinha um patrocínio de uma empresa de alimentos, que fornecia comida ao clube, mas essa comida saía do padrão para atletas. Era carne de porco, calabresa e salsicha todos os dias. Não tinha condições dessa forma. Aí eles suspenderam essa comida, mas também não substituíram" - disse o goleiro.
Tom e mais seis jogadores estão à espera dos salários pendentes para voltar para suas cidades. Eles estão hospedados na casa da sogra de um preparador de goleiros - o hotel que era pago pelo Rio Verde para estes atletas durante o campeonato foi cortado na segunda-feira da semana passada. Torcedores do Rio Verde, sensibilizados com a situação, decidiram organizar um jogo beneficente com a renda inteira destinada para os atletas, na última quinta-feira. No entanto, apenas 205 pagantes compareceram ao estádio e a renda de R$ 4.100 não foi suficiente para mudar muito a situação do grupo. Detalhe importante: Tom trabalhou na bilheteria do seu próprio jogo beneficente antes de atuar, pois tudo foi organizado às pressas e não havia pessoal disponível.
Diante das dificuldades financeiras, Tom tem sido ajudado por sua mãe, que aos 55 anos trabalha como faxineira. Depois do desabafo em campo, Tom tem recebido ajuda de diversos torcedores do Rio Verde, que param o goleiro pelas ruas e dão dinheiro. Ele admite que fica envergonhado, mas conta que aceitou as gentilezas.
"Eu me destaquei no campeonato, mostrei meu trabalho, hoje me sinto preparado para estar em um grande clube. Vem coisa boa logo" - finalizou.
A reportagem do LANCE! tentou contato com um diretor do Rio Verde para falar sobre os temas abordados pelo goleiro Tom, porém não obteve resposta."