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Jogador com passagem no ASA fala sobre o problema do desemprego no futebol

Por Claudio Barbosa com Estadão Conteúdo 10/10/2017 16h04
Jogador com passagem no ASA fala sobre o problema do desemprego no futebol
Rai em seu escritório como corretor de seguros - Foto: Amanda Perobelli/Estadão Conteúdo

Vida de jogador de futebol nem sempre é tão boa como o torcedor imagina. O Estadão publicou uma matéria que trata do desemprego e das dificuldades enfrentadas por muitos deles. Um dos personagens da reportagem é o volante Rai, que já vestiu a camisa do ASA, na temporada 2014.   

Na reportagem ele lembra que após sair da Portuguesa de Desportos, em 2012, começou a ter dificuldades para encontrar outro clube, e teve de vender sua BMW. Tinha de reduzir custos. Quando os calotes se tornaram mais frequentes - no Vilhena, de Rondônia, ele chegou a ser ameaçado de morte por cobrar cinco meses de atraso no salário -, o jogador de 32 anos se tornou corretor de seguros. Seu último clube foi o Taubaté (SP). Hoje, espera uma proposta do futebol chinês, mas a bola virou plano B.

Para Bruno Henrique Silva Carvalho, o desemprego piorou o que era já difícil. No primeiro semestre, ele atuou pelo Suzano, time da quarta divisão do futebol paulista, mas não recebia salários. "Os dirigentes diziam que o time era uma vitrine e que não precisava de salário", diz o atleta de 21 anos. Depois de seis meses sem receber, foi dispensado porque o time não terá mais competições para disputar em 2017.

Hoje, para ajudar a renda na família, ele vende doces caseiros, feitos pela própria mãe. Após os treinos, sai pelas ruas de Suzano, na grande São Paulo, oferecendo brigadeiros, beijinhos, pães de mel. O pai, Marcelo, é eletricista de manutenção e a mãe, Maria Elenir, é faturista no hospital da cidade. Bruno tem um irmã nova, de dez anos.

O desemprego

Rai e Bruno Henrique mostram alguns dos efeitos do desemprego entre os jogadores de futebol. De acordo com a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, o Brasil possui hoje 18 mil atletas profissionais. A entidade avalia que os índices de desemprego variam ao longo por ano por causa da mudança no número de competições. Os clubes menores, aqueles que não disputam as Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro simplesmente fecham as portas no segundo semestre, pois não tem competições para disputar. Com isso, milhares de atletas ficam a Deus dará. "No mês de abril, temos cerca de 30% dos atletas trabalhando no Brasil todo. No final do ano, esse número cai para apenas 6%", afirma o presidente Felipe Augusto Leite.

Outros dramas

Marco Antônio da Silva Oliveira, campeão da Série A3 do Campeonato Paulista com o Nacional. Aos 29 anos, ele não renovou contrato e simplesmente não tem onde jogar até o final do ano. “ O calendário brasileiro está ruim para nós, que não temos nome no cenário do futebol brasileiro", diz o jogador.

A questão não se esgota na venda de carros de luxo e nos bicos para completar a renda. Existe um problema emocional quando um jogador fica desempregado. Outros jogadores ouvidos pelo Estado citam a cobrança familiar - as contas não param de chegar - "O maior desafio é manter a motivação, treinar sozinho e não desistir", confessa o zagueiro Guilherme Bernardinelli, ex-Santos.

Depois de uma temporada na terceira divisão espanhola, o jogador de 25 anos deu de cara com a falta de oportunidades no retorno ao Brasil. Enquanto aguarda a abertura da próxima janela de transferências, ele contratou um personal trainer para manter a forma, mas já pensa em um plano B. Diariamente, dá expediente na área administrativa da empresa do pai, uma fábrica de injeção plástica.

Qualificação

Em vários casos, os jogadores esbarram na falta de qualificação profissional para buscar uma recolocação no mercado.

O meio campista Rai, que abriu a matéria do Estdão, é tema de encerramento também. Ele é um caso diferente, porque tem sua própria empresa de seguros, a DR Group, e grande parte dos seus clientes é formada por jogadores de futebol, seus colegas de profissão. 

Outros que não conseguem fazer o chamado “pé de meia”, conseguir uma qualificação- ou criar seu próprio negócio- ou até mesmo uma função diferente no futebol, acaba enfrentando problemas no seu dia-a-dia.