Arapiraca

Basquete em cadeira de rodas chega à Arapiraca

Por Clau Soares, especial para o 7Segundos 10/08/2014 18h06
Basquete em cadeira de rodas chega à Arapiraca
Arapiraquenses participam dos treinos - Foto: Clau Soares

Há cerca de um mês, um grupo de dez jogadores de basquete está em Arapiraca para treinar. Eles se preparam para concorrer nas competições regional e também nacional. “Vamos para ganhar”, diz o treinador Pablo Lucini, com um forte sotaque uruguaio, apesar de ser naturalizado brasileiro e estar no Brasil há quase 20 anos. Esta seria mais uma história de um time, se não fosse o fato de que neste os atletas são pessoas com deficiência física e praticam o esporte em uma cadeira de rodas.

Os jogadores, a maioria é de Maceió, estão hospedados em Arapiraca, a convite da Associação de Deficientes Físicos e Mentais de Arapiraca (Adfima). Eles saem da capital alagoana na segunda-feira, treinam as terças e quartas, no Agreste alagoano, e retornam na quinta-feira. “Ficamos quatro dias, entre ida e volta. É uma rotina diferente”, explica o atleta André da Silva, de 27 anos.

Cada um deles carrega uma história de superação a partir do encontro com o esporte. André perdeu as pernas aos 13 anos, após um acidente com uma arma de fogo. Ele estava brincando quando a arma disparou. O tiro atingiu a coluna. Em virtude das complicações, os membros inferiores tiveram que ser amputados. Antes do basquete, a vida dele era beber álcool o dia todo. Hoje, é um dos destaques do time.

“Basquete é a minha vida, é o meu mundo. ‘Não venha com outro que eu não quero”, afirma André. Ele conta que, no começo, quando foi convidado por Pablo, na Associação de Deficientes de Alagoas (Adefal), não aceitou. Foi necessário que o treinador insistisse várias vezes até que ele, finalmente, dissesse ‘sim’. Agora, ele prefere estar com eles. “Conto as horas quando estou em casa para sair e encontrar o time. É uma família”, diz.

O diretor da Adfima, Adriano Targino, explica que a realização de treinos no interior de Alagoas visa apresentar a modalidade à sociedade local. “A Associação está fazendo um investimento em qualidade de vida para a pessoa com deficiência”, diz. Para ele, não basta que a pessoa seja reabilitada fisicamente, mas que possa exercer outras atividades, como o esporte.

Em Alagoas, somente a Adefal possuía uma equipe. Agora, Arapiraca também começa a se engajar, com a participação de dois para atletas nos treinos que sempre acontecem, à tarde, no Ginásio João Paulo II, no Centro do município. A ação tem o acompanhamento de um educador físico, um técnico em enfermagem e ainda um fisioterapeuta que dão assistência aos jogadores.

O treinador Pablo Lucini quer que mais pessoas com deficiência participem e vejam no esporte uma saída, um recomeço. “Se não encaixar aqui (no basquete), pode ser em outro esporte. ‘O mais importante é não ficar em casa, pensando que a vida acabou”, frisa. Ele lembra que, em Arapiraca, também são ofertados natação, atletismo e vôlei sentado.

O para atleta Carlos Antônio Guedes do Nascimento é um exemplo da mudança que o esporte pode promover. Aos 28 anos, ele já participou de vários campeonatos, ficando entre os 20 maiores pontuadores do País, além de ter sido condecorado duas vezes com o título de melhor jogador. No basquete, há sete anos, ele está feliz, após superar a depressão ao perder a perna em um acidente de trabalho, aos 21 anos.

“Eu sempre quis ser jogador de futebol”, revela, ao contar que inclusive compôs, antes do acidente, o time infanto-juvenil do CSA. Os planos mudaram, mas não a paixão pelos esportes. “O basquete, para mim, é sensacional. ‘Não consigo ver a minha vida sem ele”, diz. Entre sorrisos, ele conta que chega a brigar com a esposa porque prefere ir jogar a ficar em casa. “Se eu tiver de escolher, vou jogar”, brinca.

Aos deficientes que ainda não praticam nenhum esporte, Carlos deixa o recado: “que olhem para a vida e vivam com mais prazer. As pessoas que têm deficiência acham que não podem fazer outras atividades. Isto não é verdade. O que eu digo é que elas passem a nos visitar e conhecer o esporte paraolímpico”.

Os treinos são abertos ao público e ocorrem às terças e quartas, das 15h às 19h, no Ginásio João Paulo II, no Centro de Arapiraca. 
 


Parcerias
Para garantir a realização de projetos deste tipo, a Adfma conta com recursos provenientes de uma clínica própria, localizada na Rua Engenheiro Camilo Collier, no bairro Primavera, que possui convênio com o SUS.

No entanto, os recursos não são suficiente para pagar todas as despesas, por isso a Associação está realizando a campanha “Seja você um colaborador”, que visa angariar fundos para a efetivação dos projetos que incluem a reabilitação, a prática de esporte, ações culturais e inclusão no mercado de trabalho. Tudo voltado para a pessoa com deficiência.

Os patrocínios, a maioria de empresários locais, também são fundamentais. Inclusive, é com esta ajuda que as cadeiras adaptadas para o basquete estão sendo pagas. O projeto tem ainda o apoio de secretarias municipais da Prefeitura de Arapiraca.

Perfil da Adfima no Facebook: https://www.facebook.com/adfima.adfimaarapiraca