Alagoas

Alagoas sai na frente e promove curso para formação de audiodescritores

Por Redação com Agência Alagoas 09/08/2015 20h08
Alagoas sai na frente e promove curso para formação de audiodescritores
Casamento de Fabrícia Omena e Jean Bernardo - ambos com deficiência visual -, e a autodescritora Lívia Mota (ao centro). Casal usou a Autodescrição na cerimônia do matrimônio - Foto: Márcio Ferreira

Para diminuir a exclusão social daqueles que possuem alguma limitação física, sensorial ou intelectual – as chamadas pessoas portadoras de necessidades especiais ou deficientes -, o Governo de Alagoas tem dedicado atenção especial aos projetos que ampliam as oportunidades desses indivíduos. É fundamental para qualquer cidadão brasileiro fazer parte de um convívio social, independentemente de ter, ou não, algum tipo de limitação.

Em prol do desenvolvimento da tradução visual, enquanto recurso de tecnologia assistiva nos equipamentos de prestação de serviço público ou privado, a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), em parceria com o Instituto Guerreiros da Inclusão, promoveu o I Curso de Audiodescrição “Imagens que Falam”, em Alagoas.

O projeto busca suprir as lacunas deixadas por barreiras comunicacionais, enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual, como assistir televisão, ir ao cinema ou ao teatro, bem como iniciar o processo de adequação à Lei Brasileira de Inclusão (LBI) - Lei 10.098/2000 e ao Decreto 5.296/2004, como à portaria 188/2010 do Ministério das Comunicações - entre outros dispositivos legais que visam proporcionar acessibilidade aos cegos em eventos culturais, de lazer, educação e no trabalho.

De acordo com a secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, Roseane Cavalcante, a formação de profissionais audiodescritores é um grande passo no fortalecimento da acessibilidade audiodescritiva com qualidade. Proporcionar que pessoas cegas tenham acesso a essa tecnologia vai ampliar significativamente a credibilidade do Estado no campo da inclusão social.

“A confiança do governador em abraçar essa luta garante que poderemos, juntos, mudar essa realidade da falta de acessibilidade. Essa causa é nossa responsabilidade e fico feliz em saber do engajamento de tanta gente.Essa causa não é apenas da pessoa com necessidades especiais, mas de todos que têm consciência e sensibilidade”, ressaltou a gestora.

Governador garante apoio às políticas inclusivas

Preocupado em prover alternativas que também contemplem os alagoanos portadores de necessidades especiais, o governador Renan Filho recebeu na última sexta-feira (7) o professor-doutor Francisco Lima, orientador do curso de Audiodescrição. Na ocasião, o chefe do Executivo alagoano ratificou o compromisso do Governo no apoio às políticas inclusivas.

“Sempre me preocupei em buscar alternativas que minimizassem as dificuldades de pessoas portadoras de necessidades especiais. É fundamental promover recursos de acessibilidade para quebrar as barreiras dando condições para que todos cidadãos possam encarar a vida de uma forma mais segura, confortável, natural e digna”, destacou o governador.

Com seu cão-guia, a labradora Ocra, Francisco Lima agradeceu e parabenizou o governador Renan Filho pelo empenho dedicado às pautas de inclusão em Alagoas e confirmou a continuidade da parceria didática e docente com o governo do Estado.

Curso abre perspectiva para o crescimento do mercado de trabalho

O casal Fabrícia Barbosa de Omena, 28 anos, jornalista, e Jean Bernardo da Silva 37 anos, professor de tradução em braile da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), superou o impedimento visual e compareceu ao curso “Imagens que Falam”. Em sala de aula, de mãos dadas e fones de ouvido, ambos ouviram o professor atentamente com interesse em conhecer o mercado de trabalho para consultores em audiodescrição e observar o aprendizado dos futuros profissionais.

“A gente pôde aprender um pouco mais sobre a audiotradução, principalmente para ir ao teatro, ao cinema e, quando houver imagens ou gestos, elas poderão ser descritas da forma correta para nós com necessidades especiais ”, comemorou Fabrícia.

Na primeira etapa do Curso de Tradução Visual com ênfase em Audiodescrição “Imagens que Falam”, em Alagoas 55 participantes concluíram a carga horária presencial obrigatória. A próxima fase será realizada em setembro deste ano, por meio de plataforma de Educação à distância. Ao final do curso, Alagoas entrará no circuito dos estados brasileiros que contam com profissionais informados sobre tecnologia assistiva e estarão aptos para continuar com uma profissionalização especializada.

Jean Bernardo explica que, em tempo de crise, o mercado de trabalho pressente que existe uma demanda crescente para o setor e que será cada vez maior ao longo dos anos. A exemplo disso, no Curso de Formação em Letras – Libras, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi desenvolvido um núcleo de acessibilidade que vai garantir, em pouco tempo, que pessoas com necessidades especiais sejam melhores amparadas na Ufal, abrindo oportunidade para mão de obra especializada em tradução audiodescritiva.

“Pouco a pouco as pessoas com deficiência estão sendo estimuladas a ocupar o seu lugar, como qualquer pessoa sem limitações. A competência é resultado do esforço e da dedicação, então é possível encontrar pessoas com deficiência, com muita competência, mas que continuam precisando de auxílio”, explicou Jean.

Neste mês de agosto, a Semudh programou uma série de atividades voltadas para pessoas com limitações. Está previsto na programação a inauguração da Central de Interpretes de Libras (Cil), ações educativas durante a semana da pessoa com deficiência, além da confirmação de Maceió como sede do próximo Encontro Nacional de Audidescritores.

Experiência de um casal cego em casamento com recurso audiodescritivo

Diante da oportunidade de participar de um curso pioneiro, Fabrícia Omena descreve a importância de transformar imagens em realidade, o valor de trazer para o campo visual,aquilo que insiste em permanecer na memória de quem não pode enxergar.
Aos poucos, no embalo das palavras descritivas da audiodescritora Lívia Motta, o traje do noivo, o vestido da noiva, a emoção dos convidados não passaram despercebidos na tradução em palavras. Objetos, móveis e personagens, que antes o casal não podia ver, agora são detalhados e materializados em imagens mentais.

“É maravilhoso poder contemplar que as pessoas estão cada vez mais dispostas a compartilhar o que elas enxergam com a gente que não pode enxergar. Saber que outras pessoas como nós terão a oportunidade de enxergar momentos mágicos, como foi nosso casamento, se torna tão importante em nossas vidas e é simplesmente surreal. Nós precisamos vivenciar isso”, conta Fabrícia Omena

O vídeo do casamento de Fabrícia e Jean viralizou nas redes sociais e tornou-se inspiração a uma campanha publicitária de um banco nacional.

“Eles continuam cegos, mas podem enxergar pelos meus olhos”, disse Lívia Motta, a audiodescritora que participou o casamento de Fabírica e Jean.