Capital

Bandas autorais, covers e festas eletrônicas: música alternativa cresce em Maceió

Em 2016, nos finais de semana há pelo menos um show alternativo e duas festas eletrônicas

Por Tais Albino* e João Arthur Sampaio** 24/06/2016 18h06
Bandas autorais, covers e festas eletrônicas: música alternativa cresce em Maceió
- Foto: Reprodução

Um aglomerado de jovens na porta da casa de show, com roupas tidas como estranhas. Moças com chapéus pouco habituais para o clima quente, rapazes com pedras purpurina colorida no rosto e tiaras de unicórnio. Lá dentro uma quantidade maior de pessoas “iluminadas” por luzes negras e brilhando com neon. Música alta e frenética, três pessoas se beijando ao mesmo tempo no meio do salão e pistolas de brinquedo arremessando bebida nos convidados de cima do palco. De repente todos param de dançar, fazem um círculo, e assistem três garotos em formação performarem ao som de Beyoncé.

Não é uma balada gay no meio da Rua Augusta, no centro São Paulo. Na verdade essa reunião fica na Rua Barão de Jaraguá, em uma casa de show chamada Orákulo, na parte baixa da cidade de Maceió. Sim, Maceió, essa cidade de pouco mais de um milhão de habitantes, com hábitos conservadores, e um público consumidor quase exclusivamente de festas e shows com música de cultura de massa, como forró, swingueira e brega.

As baladas de música eletrônica, os bares de rock e todos os lugares que promoviam música alternativa, ou seja, toda música que ia contracultura de massa, costumam fechar as portas muito cedo em Maceió. Mas em 2016 o cenário de música alternativa já se encontra bem diferente. Durante a semana há pelo menos um show de uma banda autoral ou cover e em média duas festas eletrônicas.

Ainda em 2016 a casa de show de forró mais consolidada e antiga da cidade, o Maikai, vem abrindo espaço para esse nicho. A empresa está prestes a abrir outra casa de show voltada para esse público, se chamará Match e terá capacidade para 400 pessoas. A promessa é que em 2017 mais três bares sejam inaugurados, dois em pontos estratégicos da cidade e um na parte alta da cidade, para também comtemplar esse público. 

As Festas 

Beatriz Cabús de 20 anos quando não está perto da semana de prova de seu curso de Direito, entra no Facebook e confere os eventos que foi convidada para o final de semana. Geralmente são de dois a quatro, olha a lista de presença, analisa qual tem mais a ver com seu estilo e decide sua programação para o final de semana.

As festas lotadas com discotecagem em Maceió costumam acontecer nas casas Ovni e Orákulo. O público tem em média de 18 a 23 anos e metade ou mais da metade se declara LGBTs. Procuram essas festas não só pelo gosto, mas também pelo conforto. Tanto pela identificação, quanto pelos frequentadores dessas festas terem como característica marcante a forma de pensar e de se vestir de um jeito fora ou contra padrões socialmente aceitos. Garantem que há menos brigas e assédio a mulheres. 

Em quase um ano de Festa Santa não houve nenhum registro de briga ou assédio. Beatriz se sente bem mais segura como mulher nesses eventos. “Quando outras tribos não invadem, fica tudo muito tranquilo. Ninguém chega puxando meu cabelo. As pessoas parecem todas amigas”.
O Orákulo surgiu como um bar de rock internacional, mas não tinha público frequentador suficiente. Com um tempo por uma questão de comércio e lucro foi se tornando uma casa mais diversificada. Hoje a casa de show/bar mais eclética da cidade.

Por ser uma casa muito variada se desponta também no meio do que até então não era popular, como shows de Reggae e principalmente festa de música eletrônica. A “Rocknbeats” é uma festa que acontece em todo país, com temas específicos e sempre com muito neon. No Orákulo ela acontece uma vez por mês, quase sempre com casa cheia. Reprodução

Saindo do seguimento pop, mas ainda nas festas de discotecagem, a Festa Santa segue no estilo Trap, que é um subgênero musical derivado do Rap, e música eletrônica. A festa já chegou a levar mil e duzentas pessoas para o Orákulo, e foi criada por duas universitárias que queriam variar mais as festas de discotecagem. 

Karoline Nascimento e Marcela Angra são produtoras dessa festa há quase um ano. Para Karoline, de 20 anos, que além de produtora é DJ, tanto na sua festa como em outras, o público sempre esteve aqui (em Maceió), só faltavam festas e diversificação delas.

Wagner Melo, proprietário do Orákulo, em uma viagem de negócios a São Paulo alguns anos atrás observou uma movimentação parecida com que se pode enxergar nessas festas de agora, mas em maior escala. Com tempo viu que essas festas começaram a surgir naturalmente na cidade, a partir das próprias turmas frequentadoras que organizavam as poucas festas que havia à época. As novas festas eram pequenas e com o tempo foram se profissionalizando, criando produtoras. Foi quando começou a abrir parcerias e trazer essas festas para sua casa.

As bandas

O cenário de bandas alternativas em Maceió não é grande. Mas surpreendentemente, duas ou três vezes por semana tem shows de bandas autorias e covers. Existe uma grande quantidade de bandas covers na cidade, devido à falta espaço para bandas autorias tocarem seu próprio som, que desencadeia uma falta de interesse da população. Mas isso vem mudando, é fácil perceber nos finais de semana com os bares e Pubs lotados. 

Caíque Guimarães trabalha há dez anos com música alternativa na cidade, é um dos donos do coletivo Popfuzz. Ele acredita que nessa nova movimentação aconteceu pelo aumento de lugares para se ir, e que o público agora tem aonde ir e podem escutar as bandas autorais se interessando por elas e assim elas vão se fidelizando. 

Ele aprendeu a duras penas que o público alternativo maceioense não é tão grande, quando com a Popfuzz que produz há 10 anos o festival maionese, resolveu fazer algo maior em 2014. O resultado foi que o festival não atingiu o público estimado e a produtora passou o resto do ano arcando com os prejuízos. “Acredito que esse novo cenário é muito valido, o público não está aumentando, mas está tendo lugares para onde ir. Eles apareceram e isso é maravilhoso.” 

Popfuzz é uma produtora de 10 anos, já produziu vários artistas e festivais. O público que frequenta as festas produzidas por eles são pessoas, assim como os proprietários, de vinte cinco a trinta anos, diferente dos frequentadores dessa nova movimentação que em sua maioria é de pessoas que acabaram de sair colégio ou que estão nos primeiros anos de graduação.

Caíque juntamente com seus sócios, agora pensa em formas de atrair esses novos frequentadores. As novas produtoras têm sido essenciais no aumento dos shows e festas, por olharem de uma forma única para esses artistas, sem pensar exclusivamente no financeiro, mas também no crescimento das bandas que produzem. 

A Alagou é um exemplo disso. Criada em 2013 por um casal com o objetivo de difundir a música que gostavam, eles contam com um blog que divulga clipes, eps e matérias sobre bandas daqui e de outras cidades do Nordeste, através de um selo virtual que lança os artistas e agencia toda parte de mídia. A produtora em si promove festas e shows (bandas autorais e covers), gerando uma média de um a seis eventos por mês. Marcelo e Luanna Melo sabem que sua produtora desempenha um papel importante no crescimento desse segmento.

ReproduçãoUmas das bandas que o Alagou contrata para eventos é a banda Bad Cooper. É uma banda de punk rock alagoana formada por cinco integrantes e ativa desde 2014. Seus shows são enérgicos, público muito jovem e músicas satíricas. A plateia acompanha dançando em um ritmo acelerado e em algum momento de clímax do show os intrigantes tiram suas camisas. A banda é relativamente nova, mas já fidelizou um bom público e consegue marcar em média dois shows mês, considerando o tamanho da cena maceioense, é um bom número. 

A banda acredita que o engajamento faz a cena se movimentar. Os meninos da banda criam seus próprios eventos, convidam bandas para fidelizar mais ouvintes. Se matem ativos nas redes sociais, assim como outras bandas da cena. 

Para eles uma cena funciona através de contatos e movimentação. É isso que Caíque da Popfuzz também acredita. “Ultimamente as bandas vem criando autoestima, se movimentando, fazendo coisas por elas próprias, isso faz a cena se fortalecer”. De acordo com Izael Filipe e George Cavalcanti, integrantes da Bad Cooper, o Pub Fiction e outros bares são umas das chaves para esse crescimento. 

O Pub Fiction

Localizado em ponto estratégico do Bairro da Jatiúca, o Pub Fiction é um pequeno bar com capacidade para 150 pessoas. É sofisticado em toda sua decoração inspirada no filme “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino. Reprodução

Marcos Bruno proprietário do local idealizou toda a ideia de que o Pub se tornaria. Formado em economia e administração e integrante da Banda $ifrão, ele estudou o mercado até chegar ao planejamento do que seria hoje. 

O local é conhecido por ser quem dá espaço para bandas autorais. As bandas como a Bad Cooper, sons autorais como Yo Soy Toño mencionam a acessibilidade que eles têm para marcar seus shows. 

Antônio Oiticica, integrante da Dof Láfá e que tem seu projeto paralelo Yo Soy Toño, explica que projetos autorais tinham uma grande dificuldade com locais, pelo fato de não terem um público tão grande para lotar grandes casas de shows e nem como financiar as mesmas.
Também conhecido como Tonho, o vocalista da Dof Láfá é um dos músicos mais influentes e conhecidos no cenário alternativo de Maceió. Espaço esse que vem conquistando desde 2010 com a Dof Láfá e 2014 com seu projeto solo Yo Soy Toño.

"Sempre tive banda, desde a época do colégio. Mas quando conheci o pessoal da Dof, a gente se envolveu mais com a galera da cena autoral daqui, pra saber como funcionavam coisas como estúdio, gravação, lançamento e agenda de shows", relata.

Segundo ele, o tamanho reduzido do Pub ajuda as bandas menores a lotar a casa com facilidade.Reprodução

Marquinhos, como é chamado intimamente pelos artistas e até por frequentadores mais assíduos da casa, fez tudo conscientemente. Pensou tanto na parte financeira, mas também como músico, olhava para a cidade e sentia falta de um lugar como o que agora é dono. Ele sabe da importância do seu empreendimento no que ele chama de “novo movimento”. “Eu sei da importância do pub para tudo isso e vejo também o engajamento dessas bandas, as produtoras que tem olhado diferente e outras casas que tem aberto portas”.

Onde a mídia entra 

As redes sociais tem um papel essencial em todo este processo, principalmente o Facebook, na criação eventos onde possíveis frequentadores, olham nas listas de presença e conferem se pessoas do seu convívio também compareceram. Quando se trata do aparecimento do seguimento alternativo nas agendas culturais de grandes sites Maceioenses o crescimento ainda é lento, mas é possível observar que agora os eventos maiores já são citados e todo final de semana ao menos um dos pubs está na programação dessas agendas. Foi pensando nesse défice que o instagram Maceió Alternativa (@mczalt) foi criado. 

Pregando a politica de não postar eventos que de alguma forma incentivem a repressão feminina e sem fins lucrativos, a enfermeira Lia Lima e a cantora e arquiteta Lorena Firmino criaram em 2015 está agenda online no instagram. “Sentimos a necessidade dos artistas daqui, que precisam mostrar o material que tem e não tinham espaço nas agendas ditas culturais” Explica Lia Lima. O Maceió Alternativa já alcança dez mil seguidores no instagram e os eventos que são divulgados não ficam apenas na música, cobrem também toda a parte dos Teatros e Galerias da cidade. Hoje o instagram é procurado por uma boa quantidade de artistas que conhecem o trabalho e pedem para mostrar uma música nova, um EP, e divulgar shows e elas se mantém muito solicitas.
 

Reportagem de: Taís Albino * estagiária e João Arthur Sampaio **estudante