Economia

Benefícios do INSS vão passar por pente fino, segundo governo Bolsonaro

A medida é parte de um conjunto de ações que serão apresentadas pelo governo para modernização e aperfeiçoamento da legislação.

Por 7Segundos Com Folha 06/01/2019 12h12
Benefícios do INSS vão passar por pente fino, segundo governo Bolsonaro
Ilustração

O governo Bolsonaro planeja enviar ao Congresso Nacional uma MP (Medida Provisória) que prevê regras previdenciárias para deflagrar um pente fino em todos os benefícios pagos pelo INSS (instituto Nacional do Seguro Social). Para garantir o empenho de técnicos do INSS, a MP vai estabelecer o pagamento de um bônus de R$ 57,50 aos analistas e outros profissionais que identificarem irregularidades em aposentadorias e pensões.

A medida é parte de um conjunto de ações que serão apresentadas pelo governo para modernização e aperfeiçoamento da legislação. Existe a expectativa de que as novas regras consigam gerar uma economia de R$ 9,3 bilhões por ano, já descontados os valores de bônus pagãos aos técnicos.

O valor corresponde a 4,2 do déficit previsto no RGPS (Regimento Geral de Previdência Social) para este ano. É um valor irrisório perto do total do rombo, que deve chegar a R$ 220 bilhões.

Com a Medida Provisória entram na mira dos fiscais a pensão por morte, a aposentadoria rural e o auxílio-reclusão. Segundo dados do governo, a Previdência paga cerca de 35 milhões de benefícios por mês.

Uma das mudanças, no caso de concessão de pensão por morte, é exigir, para quem não era formalmente casado, além da demonstração de dependência econômica, a chamada prova documental contemporânea — um documento que comprove a união na ocasião da morte.

O governo entende que a regra atual, que permite a comprovação de união estável apenas com apresentação de testemunhas, abre brechas para simulações e fraudes. Na aposentadoria rural, a MP substitui a declaração do sindicato rural pela autodeclaração do segurado.

O auxílio-reclusão, benefício pago aos dependentes do trabalhador preso, passa a ter um período de carência (tempo mínimo de contribuição consecutiva ao INSS) de 12 meses. O benefício não poderá ser acumulado a outros e haverá aferição de baixa renda com base em uma média dos salários. Hoje, o limite de renda é definido a partir do último salário do trabalhador preso.

O governo estima que essa regra consiga reduzir a concessão do benefício para pessoas fora do perfil de renda, mas que estão desempregadas na véspera da prisão. Esse modelo de conferência dos benefícios que a equipe de Bolsonaro quer adotar com a MP é parecido com o usado pela gestão Michel Temer (MDB) no pente-fino realizado nos auxílios-doença e nas aposentadorias por invalidez pagos há mais de dois anos.

Desde 2016, os peritos médicos previdenciários estão recebendo R$ 60 por exame extra realizado nos postos do INSS. Até 15 de dezembro de 2018, quase 1,2 milhão de perícias tinham sido realizadas no pente-fino dos benefícios por incapacidade.

Cerca de 651 mil segurados, praticamente a metade dos que foram avaliados nos exames periciais, tiveram o pagamento cortado. A economia com esses pagamentos foi de R$ 13,8 bilhões.

Segundo pessoas que participaram da elaboração da MP, o bônus dos peritos será prorrogado por mais um ano, o pente-fino dos benefícios por incapacidade será estendido e a atuação dos médicos será ampliada.

Eles trabalharão também em ações judiciais e em casos de revisão de BPC (Benefício de Prestação Continuada). As perícias do pente-fino, que até então convocaram benefícios sem avaliação há mais de dois anos, chegarão a segurados que recebem auxílio ou aposentadoria por invalidez há mais de seis meses.

O governo estima gastar R$ 56,9 milhões com o pagamento do bônus aos técnicos e analistas previdenciários. Em 2018, o INSS tentou viabilizar o pagamento de uma bonificação para acelerar a análise de pedidos de benefícios e revisões e reduzir os gastos com a correção monetária da fila de espera, mas o dinheiro não foi liberado.

Sempre que o INSS leva mais de 45 dias para responder a um pedido, o benefício, quando concedido, é pago com correção pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

O governo calcula uma despesa superior a R$ 600 milhões ao ano com essa correção, além de aumento nas disputas judiciais. Levantamento realizado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) estima que mais de R$ 92 bilhões são pagos todos os anos após decisão judicial.

A expectativa da gestão Bolsonaro é que o incentivo à conclusão de processos com suspeita de irregularidades resulte em uma economia mensal de R$ 188 milhões, que poderia ser ampliada pela perspectiva de cobrar a devolução do que foi pago irregularmente.

Para essa apuração, a medida provisória define que serão considerados suspeitos os benefícios com indícios de acumulação indevida (quando um segurado mantém dois benefícios que não poderiam ser pagos ao mesmo tempo), suspeita de morte do beneficiário e BPC fora dos parâmetros previstos em lei.

Os critérios são baseados em apontamentos do TCU em fiscalizações e auditorias. Segundo o INSS, 955,2 mil processos estavam parados, em fevereiro de 2018, com suspeitas de irregularidades. A média anual de análise de processos nas APS (Agências da Previdência Social) ficou, entre 2010 e 2017, em 178.335 casos.