Editorial

Após matéria do 7Segundos, mulher conhece a solidariedade e retoma tratamento de esquistossomose

Moradora de São Sebastião não consegue andar há quatro anos devido doença

Por 7Segundos 21/07/2020 16h04 - Atualizado em 21/07/2020 16h04
Após matéria do 7Segundos, mulher conhece a solidariedade e retoma tratamento de esquistossomose
Maria Adriele precisa de ajuda com alimentação, tanquinho de lavar roupas e exames médicos - Foto: cortesia

As doações de alimentos, roupas, móveis e agora a garantia de realização do exame necessário para que a moradora de São Sebastião, Maria Adriele dos Santos, 22, retome o tratamento para esquistossomose, reacendeu a esperança para que ela volte a andar não apenas à família dela, mas também a todos os que fazem o 7Segundos. As mensagens de agradecimento enviadas por ela, relatando que após a matéria publicada no portal, tem recebido contato de várias pessoas que têm a intenção de ajudar, são um pequeno exemplo de como a informação pode melhorar a vida das pessoas.

Maria Adriele perdeu o movimento das pernas aos 18 anos devido a esquistossomose. O parasita Schistosoma está alojado na coluna dela, mas devido a falta de condições financeiras, não conseguiu fazer um exame de ressonância pedido há três anos, necessário para dar prosseguimento ao tratamento da doença. A história dela chegou ao 7Segundos depois que Fabiana Farias, da Rádio 96FM, que já havia feito matéria com a moradora de São Sebastião, divulgar que ela estava precisando de ajuda para alimentar os filhos e de um tanquinho para lavar roupa.

Apesar do grave problema de saúde, tudo que ela dizia precisar, naquele momento, era de comida para alimentar os filhos. Mãe de três crianças pequenas, uma delas de colo ainda, e com um marido que não pode trabalhar porque é responsável pelos afazeres domésticos e dos cuidados pessoais de Adriele, a família tinha ido para a casa da irmã dela porque não havia alimentos para preparar refeições em casa. A única renda da família é o benefício recebido pela jovem, mas o dinheiro é insuficiente para pagar aluguel, as contas e ainda comprar alimentos para o mês inteiro. 

Adriele só falou sobre seu problema de saúde quando foi indagada pela reportagem sobre o porquê de ela não conseguir andar. A doença que ela tem, esquistossomose, geralmente surge em pessoas que vivem em locais pobres, sem banheiro e sem acesso a água potável. Como está diretamente ligada à infraestrutura básica, já desapareceu em muitos locais, mas em Alagoas, ainda há incidência da doença. É transmitida pela fezes de pessoa infectada, que vão parar em lagoas ou minações de água não-tratada e penetram na pele das novas vítimas.

A transmissão geralmente acontece em locais onde há água parada e presença de caramujos. Quando se aloja no baço ou no fígado, provoca o crescimento anormal desses órgãos e o aumento do abdome, provocando o que se chama popularmente de "barriga d'água". As pessoas moram em residência com fossas e abastecimento de água não correm risco de pegar a doença, que pode ser fatal se não for tratada.

Na moradora de São Sebastião, ele se alojou na coluna e, por conta disso há quatro anos ela perdeu o movimento das pernas e também passou a usar sonda. Para a reportagem, ela contou que estava na “fila de espera” para fazer o exame, que foi pedido com urgência três anos atrás, e que o médico que a atendia “a abandonou”, porque o tratamento não podia prosseguir sem o exame. Ela afirma que, depois de tanto tempo do tratamento paralisado, não tem certeza de que poderá voltar a andar. Mas tem esperança.

“Graças a vocês do 7Segundos e a Fabiana Farias, finalmente vou conseguir fazer o exame, pela secretaria [de Saúde de São Sebastião] mesmo. Está marcado para o dia 27 em Arapiraca. Estou tão feliz porque agora tenho comida em casa, ganhei muita coisa que precisava e ainda vou fazer o exame. Sou muito agradecida a vocês e a Fabiana”, afirmou.

Na primeira matéria, além do pedido de ajuda de alimentos, Adriele dizia que um tanquinho de lavar roupa seria de grande ajuda para a família. Mesmo com dificuldade e em cima de uma cadeira de rodas ela lavava as roupas na mão, fazendo um esforço que às vezes acabava levando-a ao hospital. Após a matéria, surgiram várias pessoas dispostas a doar um tanquinho. A solidariedade foi tanta que, além do tanquinho, pessoas também se comprometeram em ajudar com outros móveis, como uma cama de solteiro com colchão para o filho de Adriele, que dorme no chão, e um armário de cozinha, que serão doados por uma mulher de Arapiraca que está de mudança.

A felicidade da dona de casa, que descobriu que “ainda existem tantas pessoas boas no mundo”, é a sensação de dever cumprido para o 7Segundos. É uma sensação boa para os repórteres que nos últimos meses têm dedicado boa parte do seu tempo de trabalho para falar sobre a pandemia, ou de violência. Não porque notícias ruins “vendem mais”, mas porque e o mundo que vivemos. 

Apesar dessa dura realidade, nunca deixamos de acreditar no poder transformador da informação. Para Adriele, esse poder mostrou que “ainda existem pessoas boas no mundo”; para os oprimidos e vítimas de injustiças, mostra que existe a possibilidade de reparação e de melhorias; e para todos mostra que uma realidade mais justa e com menos sofrimento é possível. Para que faz o 7Segundos, mostra que estamos cumprindo o papel de agentes para que essa esperança se torne realidade.