Chuva apaga a poesia, mas sonho permanece no coração de jovem escritor arapiraquense
Leandro Oliveira se inspirou em memórias da infância para escrever livro
O menino que nasceu na comunidade Bálsamo, zona rural de Arapiraca, desde pequeno cresceu no meio do natureza, tomando banho de chuva ao ar livre, sentindo o cheiro de terra molhada e colhendo fruta madura nas mangueiras, cajueiros e outras frutíferas da região.
Leandro da Silva Oliveira, 22 anos, não poderia imaginar que essa infância tão rica em contato com os elementos da natureza foram essenciais para o processo criativo de poesia que ele iria desenvolver anos mais tarde.
Em entrevista ao Portal 7Segundos, ele relatou que sempre gostou de ler, e os primeiros traços de sua poesia começaram ainda na infância, quando tinha 10 apenas anos de idade.
"Eu já tinha a sensibilidade para a poesia dentro de mim, mas a minha professora do ensino fundamental, Epifânia Ferreira, me ensinou a colocar os pensamentos no papel. A partir desse aprendizado eu nunca mais parei", relatou o jovem escritor.
Leandro Oliveira na lavoura de fumo no povoado Bálsamo onde mora
As poesias que ele escrevia relatando a vivência da infância eram anotadas em um caderno. Quando Leandro precisou morar com a tia, ele pegou seus pertences pessoais, entre eles, o caderno de poesias, e guardou em uma caixa em um salão ao lado da casa.
"Em 2018, eu passei a trabalhar com minha tia nas feiras livres, e estudava no período noturno. por isso fui morar com ela. Quando fui pegar o caderno tive uma grande tristeza: as pingueiras da chuva molharam a caderno. De quase 60 poesias, só consegui recuperar oito", relatou
Mas esse foi apenas um dos obstáculos enfrentados por Leandro no caminho poético que ele ainda iria percorrer. Com a perda das poesias, o jovem escritor acabou criando um bloqueio e ficou um período sem escrever as poesias que ele tanto amava.
Na vida pessoal, o jovem também enfrentou outras dificuldades para poder ultrapassar os obstáculos que a vida impõe. Com o objetivo de vencer na vida e oferecer uma condição de vida de menos trabalho para os pais, Leandro viajava por vários municípios no interior do estado para vender hortaliças.
"Trabalhava na roça em um horário, para ajudar meus pais e o outro horário eu ia para a escola. No final de semana, acompanhava minha tia para feira em Penedo, Taquarana, Maribondo e São Miguel dos Campos. Além do perigo das estradas, fazia muito frio em cima do pau de arara", relatou.
Leandro Silva também foi vendedor de biscoitos, entregador, repositor, ajudante de açougueiro e entres outras atividades.
Apesar de todas as dificuldades, trabalhando durante o dia, estudando a noite, Leandro sempre teve na resiliência e gratidão molas propulsoras para ele não desistir do sonho de infância e publicar o livro de poesias.
Leandro é formado em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia Institucional e Educação Infantil
Após um período, Leandro voltou a escrever as poesias, e já cursando o ensino médio na Escola Lions Club, voltou a escrever poesia e declamar nos eventos culturais realizados pela escola.
Mas foi cursando a faculdade de Pedagogia que o jovem escritor, participou de vários projetos, entre eles um coordenado pela professora Claudia Rego, intitulado "Aprendbrinq". Durante esse período, Leandro conta que recebeu muita motivação e incentivo de para escrever um mural de poesia em um congresso promovido pela faculdade.
Em janeiro de 2021, após dois anos desde que a chuva destruiu quase todas suas poesias, dentre outras dificuldades imposta pela vida, o jovem escritor, finalmente conseguiu publicar o livro intitulado "Deixe-me ser poesia".
"Inicialmente eu havia titulado o livro com "Poesia-me", mas diante de tantos percalços que ocorreram até eu conseguir publicar resolvi mudar o título para "Deixe-me ser poesia", relatou o escritor.
Ministrando aula aula em uma escola particular de Arapiraca
Resumo da obra
O prefacio do livro " Deixe-me ser poesia" foi assinado pela professora da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) Maria Ângela Marques. No texto de apresentação, a professora afirma que a obra é composta por uma diversidade de poemas que relatam os municípios alagoanos, com suas histórias, suas riquezas, sua cultura, seus valores, seu povo e seu cotidiano, tornando a leitura e o conhecimento desses municípios algo prazeroso para o leitor, fazendo com que este conheça o encanto das pessoas e das terras alagoanas.
Em “Homenagem arretada aos 102 municípios de Alagoas”, Leandro Oliveira, trouxe nosso regionalismo alagoano, nas suas diversas regiões, do agreste, sertão, zona da mata ao litoral; com alegria simplicidade e muita emoção, contando como é viver e sentir os costumes de toda esta população alagoana.
"A obra está dividida em duas partes onde a primeira traz poemas intitulados com os 102 municípios alagoanos, citando seu contexto histórico e as experiências de seu povo, e a segunda parte, releva emoções vividas pelo autor, conhecimentos culturais de seu lugar, e personalidade de sua família", escreveu a professora.