Está marcada para às 09:30hs da manhã desta terça-feira (27) a audiência de instrução prevista para seis testemunhas e as duas pessoas denunciadas pelo ministério público como réus no processo que julga a morte da jovem Roberta Dias, que desapareceu em 2012 na cidade de Penedo, região do Baixo São Francisco. A audiência será realizada em formato virtual.

Será a primeira audiência de instrução do caso a ser realizada após o início da pandemia e também a primeira após o laudo pericial emitido pelo Laboratório de Genética Forense do Instituto de Criminalística de Alagoas confirmar que os restos mortais encontrados enterrados no mês de abril, na Praia do Peba, entre os municípios de Piaçabuçu e Feliz Deserto, são de Roberta Dias, caracterizando o crime de homicídio.

Inicialmente, cinco testemunhas foram intimadas a prestar depoimento hoje ao juiz titular da 4ª Vara Criminal da Comarca de Penedo, Nelson Fernando de Medeiros Martins. Três delas na condição de testemunhas referidas, aquelas que inicialmente não são arroladas nem pela defesa nem pela acusação, mas, que o juiz considera importantes por disporem de alguma informação relevante sobre a materialidade ou autoria do fato. Nessa condição, irão depor hoje um policial militar, um policial civil e um oficial de justiça.

Outras duas testemunhas convocadas para prestar depoimento hoje são testemunhas arroladas pela defesa dos réus Mary Jane e Karlo Bruno. Além dessas, o juiz convocou uma sexta testemunha. Trata-se do delegado regional de Penedo, Fernando Lustosa, intimado a prestar depoimento por ser a autoridade policial do município responsável por receber o laudo emitido pelo Instituto de Criminalística sobre os restos mortais de Roberta Dias, considerado uma das mais importantes peças do processo.

Réus

Como o juiz Nelson Fernando de Medeiros concedeu prazo de 30 dias para a defesa e a acusação se manifestarem a respeito do laudo emitido pelo IC comprovando que os restos mortais encontrados em abril deste ano são da jovem Roberta Dias, e esse prazo concedido pela justiça ainda está em curso, é provável que os dois réus no processo, Mary Jane Araújo Santos e Karlo Bruno Pereira Tavares, não sejam ouvidos nesta terça (27), já que o interrogatório dos réus só pode ser feita após o cumprimento de todas as etapas da instrução processual.

O promotor de justiça da Sitael Jones Lemos, da 4º Promotoria de Justiça de Penedo, informou ao Portal7Segundos que o ministério público já arrolou 16 testemunhas para o caso e todas já foram ouvidas, algumas na condição de declarantes (testemunha dispensada por lei de prestar o compromisso com a verdade por manter algum vínculo de amizade ou de parentesco com os réus).

Semana passada, o promotor Sitael Lemos orientou a família de Roberta Dias a adiar o sepultamento da jovem, marcado para o dia 21 de julho, justamente porque ainda existem prazos a serem cumpridos dentro do processo e ainda, por existir a possibilidade da defesa de Mary Jane Araújo e Karlo Bruno, denunciados como autores da morte de Roberta Dias, solicitar a contraprova do resultado do laudo pericial divulgado pelo Laboratório de Genética Forense no Instituto de Criminalística, confirmando que os restos mortais encontrados em abril de 2021 enterrados em um areal na Praia do Peba, em Piaçabuçu, são de Roberta Dias.

Denúncia

Mary Jane Araújo e Karlo Bruno Tavares foram denunciados pelo ministério público como réus no processo em agosto de 2018, poucos meses após o vazamento da gravação de um áudio periciado pela PF contendo uma conversa de Karlo Bruno com uma outra pessoa que não foi identificada, onde Karlo Bruno conta com detalhes de como ele teria executado Roberta Dias com a ajuda do amigo, Saulo Araújo, namorado de Roberta à época, inclusive, revelando o local onde teriam enterrado o corpo da jovem, justamente na região entre Feliz Deserto e Piaçabuçu, onde os restos mortas de Roberta Dias foram encontrados em abril de 2021, 9 anos após seu desaparecimento.

Mary Jane Araújo é mãe de Saulo Araújo, então namorado de Roberta, apontado também como o pai da criança que Roberta Dias esperava quando desapareceu pouco depois de sair de casa para fazer uma consulta de pré-natal na cidade de Penedo, onde morava com a mãe.

O promotor de justiça Sitael Lemos informou ainda que na época do desaparecimento de Roberta Dias, Saulo Araújo, que tinha 17 anos, chegou a ser representado na Vara da Infância de Penedo por ato infracional análogo ao homicídio, cuja penalidade é convertida em medidas socioeducativas, mas, que o andamento dessa representação ficou prejudicado porque à época não havia a denúncia contra os outros acusados. Hoje, como Saulo já é de maior, ele só pôde ser ouvido pela justiça na condição de testemunha, como prevê a lei, explicou o promotor.

Mônica Reis, mãe de Roberta Dias, disse à reportagem do Portal7Segundos que apesar de estar aliviada por ter encontrado os restos mortais da filha e poder realizar o sepultamento dela assim que a justiça permitir, espera agora que os culpados sejam punidos perante à justiça dos homens. Quando indagada sobre a situação de Saulo, namorado de Roberta Dias e pivô de todo o caso, Mônica respondeu: "mesmo que ele não pague perante a nossa justiça, ninguém fica impune aos olhos de Deus", desabafou.

O início

Roberta Dias tinha 18 anos de idade e estava gestante quando desapareceu no dia 11 de abril de 2012 depois de sair de casa para fazer uma consulta de pré-natal em Penedo, onde morava com a mãe. Foi a última vez que a jovem foi vista na cidade. Após o desaparecimento, as investigações da polícia levaram à suspeita de que Mary Jane Araújo, mãe do então namorado de Roberta, Saulo Araújo, que na época tinha 17 anos, teria envolvimento com o sumiço da jovem porque a família de Saulo seria contra o relacionamento dele com Roberta.