[Vídeo] Foi a melhor decisão da minha vida, afirma pai que deixou emprego para cuidar da filha com autismo
Há sete anos Ricardo Miranda se dedica aos cuidados da filha Sofia
Quando um casal decide ter e ou adotar filhos sabe que a vida será transformada completamente pelo resto de suas vidas. Um novo ser em um lar é uma experiência única, envolvida em um conjunto de emoções intensas e desafiadoras.
Até o domingo, Dia dos Pais, o 7Segundos traz uma série de reportagens especiais alusivas ao Dia dos Pais. Em uma dessas reportagens contamos a história de Márcio Rodrigo tem o privilégio de ter um padrasto que luta por ele.Em outra reportagem, contamos histórias de pais idosos que vivem na Casa dos Velhinhos, em Arapiraca. E também a história de um pai que cursou a faculdade junto com o filho deficiente.
Nesta reportagem vamos mostrar que um pai que decidiu largar o emprego para cuidar excluivamente da filha que foi diagnosticada, aos dois anos e meio ,com o Transtorno Espectro Autista (TEA).
O Portal 7Segundos foi até a casa de Ricardo e Márgara, localizada no bairro Nova Esperança, em Arapiraca para contar a história deste casal que dedica a vida para oferecer melhores condições de adaptação, interação e desenvolvimento da filha que nasceu com Trastorno do Espectro Autistac(TEA).
Ricardo Miranda, 44 anos, e Márgara Rodrigues, 47 anos, decidiram ter filhos cinco anos após o casamento e a pequena Sofia Rodrigues Miranda, que hoje tem 11 anos, chegou para transformar a vida deles.
Ricardo e Márgara são um exemplo de união, companheirismo, dedicação e amor
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno relacionado ao desenvolvimento neurológico. Sua caracterização é feita pelos sinais e sintomas apresentados pela pessoa, que compreendem dificuldade em se comunicar, dificuldade de interação social e por interesses ou movimentos repetidos.
Márgara Rodrigues conta começou a perceber alguns comportamentos diferentes na filha desde os dois anos de idade, mas nunca tinha ouvido falar em autismo.
- Uma das primeiras características diferente em relação a outras crianças é que ao iniciar a andar Sofia girava nas pontas dos pés. A falta da fala também chamava a minha atenção. Quando ela acordava de madrugada, eu chegava no berço e Sofia não estava chorando. O choro é uma forma da criança se comunicar com o mundo externo. Eu achava tudo aquilo diferente mas não sabia que estava relacionado às características do autismo, relata a mãe.
O pai conta que um dia assistindo a uma reportagem na televisão de Rodrigo Brívio - educador físico especialista em autismo e síndrome de down, percebeu que a criança autista que ele estava desenvolvendo atividades fisicas tinha as mesmas características da Sofia.
Foi nesse momento que ele entendeu que a filha era autista.
Ricardo Miranda conta que uma das características clássicas do autismo na maioria das crianças é quando você dar um carrinho de brinquedo e elas não brincam da forma convencional. A criança coloca o carro de cabeça para baixo e com a mão fica brincando com as rodinhas. O casal lembrou que a filha repetia muito esse gesto com um carrinho da Barbie que ela tinha.
- O primeiro dia que eu olhei para minha filha como autista foi quando passei uma noite toda pesquisando sobre o assunto na internet e no outro dia fui busca la na escola .
Quando eu cheguei lá eu vi a Sofia embaixo da televisão que estava na parede olhando pra cima, enquanto as outras crianças estavam brincando interagindo umas com as outras. Nesse momento eu tive certeza que ela tinha o Transtorno de Espectro Autista.
Diante dessa nova realidade da família, Ricardo e Márgara não perderam tempo, e buscaram ajuda de uma equipe multidisciplinar e num período de um mês, eles já tinham o dignóstico de autismo.
Parelelo ao tratameno de Sofia, eu e Ricardo também começamos a nos preparar para cuidar de uma criança autista. O Espaço Trate - órgão municipal ligado à Secretária de Saude de Arapiraca foi muito importante para nós desde o diagnóstico e durante todo o tratamento. Lá nós participamos de rodas de conversa onde cada pai e mãe compartilha suas experiências e a gente vai aprendendo a lidar com os comportamentos da criança autista, relatou Márgara Rodrigues.
Congressos e cursos na área de autismo, terapia comportamental dentre outros também são constantes da vida do casal que busca a todo momento conhecimento e técnicas que possam ajudar no desenvolvimento da filha.
- Desde pequeninha ela sempre gostou muito de brinquedos e imagens com figuras de sapinhos. Aos quatro anos de idade ela pronunciou a primeira palavra: sapo. Eu chorei muito foi uma grande emoção. Era como se ela tivesse dito papai, lembrou Ricardo.
Atualmente Sofia cursa a 5ª série do ensino fundamental.
Pedido de demissão do emprego
A filha de Ricardo Miranda tinha dois anos e meio de idade quando ele e a esposa descobriram que ela era autista. Um ano após esse diagnóstico, ele decidiu deixar o emprego em uma revenda de motos em Arapiraca para se dedicar exclusivamente à Sofia.
- Não foi uma decisão fácil. Mas foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida. Após sete anos me dedicando exclusivamente à Sofia, eu vejo a evolução dela e tenho certeza que é esse tempo ensinando e aprendendo a ter paciência com as limitações dela que vamos evoluindo de forma lenta mas gradativa e constante. Não foi fácil, não é fácil, e não será fácil. Nós, pais, temos que buscar as melhores condições de suavizar as dificuldades que sempre vamos ter com um filho especial, afirmou.
A esposa, que é funcionária pública e trabalha na área administrativa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) disse que a decisão partiu do marido mas ela ficou muito apreensiva no início porque achava que ele não iria se adaptar a essa nova realidade de ficar em casa.
- Ricardo sempre trabalhou desde muito cedo, e culturalmente é a mãe que se dedica mais aos filhos. Mas ele me surpreendeu com a decisão e dedicação exclusiva à Sofia, disse Márgara.
Pão caseiro
Toda iniciativa na vida do casal é pensando no bem-estar de Sofia. Márgara conta que a filha gosta muito de pão e ela queria dar a fiha um pão mais saudável evitando a ingestão de produtos químicos. Então ela resolveu fazer pão caseiro e mesmo com o resultado final não saindo conforme a receita, Sofia gostou muito do pão.
O pai estando em casa com mais tempo, resolveu tentar a receita e avançar no sabor e maciez do alimento. A técnica foi sendo aperfeiçoada e além de Sofia, os familiares que ganharam os pães caseiros gostaram tanto do produto que começaram a encomendar pães.
O que foi iniciado apenas para oferecer um alimento mais saudável para Sofia, agora se tornou um negócio que já complementa o orçamento financeiro da família. Por mês, Ricardo chega a produzir de 100 a 150 pães. Além disso, a entrega dos pães tem a participação de Sofia que já fica esperando o momento que o pai coloca os pães no carro para fazer a entrega na casa dos clientes.
- Eu também penso na Sofia até na hora de fazer a entrega dos pães. Porque é mais um momento de socialização dela com outras pessoas. Eu poderia entregar as encomendas na minha moto porque seria mais prático, mais rápido e mais econômico. Mas eu faço questão de ir no carro para que a Sofia possa ter esse contato com as pessoas. Hoje quando eu vou entregar os pães tem cliente que diz : Se não fosse a Sofia não teria sentido. Essa é a maior verdade da nossa vida, finalizou.