Brasil

Professor arapiraquense de História esclarece sobre a importância de Tiradentes para a política brasileira

Foi o único inconfidente pobre e seu enforcamento foi visto com maus olhos pela população

Por 7Segundos 21/04/2022 08h08
Professor arapiraquense de História esclarece sobre a importância de Tiradentes para a política brasileira
Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes - Foto: Reprodução

Esta quinta-feira, 21 de Abril, é feriado em todo o território nacional devido a um personagem muito importante para a história do Brasil, mas por que Tiradentes é tão importante?

Joaquim José da Silva Xavier foi membro da cavalaria de Dragões Reais de Minas, a força militar atuante na Capitania de Minas Gerais e subordinada à Coroa Portuguesa. Também atuou como dentista, por isso o apelido de Tiradentes.

Mas não foi isso que o tornou um herói nacional. Ele foi um dos líderes do episódio da história do Brasil conhecido como Inconfidência Mineira - ou Conjuração Mineira, movimento contra os impostos exacerbados cobrados pela Coroa Portuguesa durante os anos de 1789 e 1792.

Para o professor arapiraquense de história Saulo Oliveira, é importante compreender a conjuntura do que vinha acontecendo no mundo naquela época, principalmente na Europa na fase final do século XVIII.

"A Revolução Francesa efervescia e os ideais que a impulsionaram como Liberdade, Igualdade e Fraternidade se espalharam pelo mundo, tendo papel central na Independência de países americanos e, também, na Inconfidência Mineira", explicou.

COBRANÇAS INJUSTAS

Durante o período colonial, o Brasil gerava lucros muito significativos à Coroa, principalmente através do ouro mineiro, que era integralmente destinado à metrópole.

"As condições políticas, impostas pela Coroa Portuguesa às suas Colônias, eram muito severas, sobretudo na cobrança de impostos, ainda mais quando se descobria ouro em suas terras. O sistema de fiscalização era rígido e isso gerava muita tensão entre os donos das minas, os escravos e os fiscais da Coroa", continuou o professor Saulo.

Um dos principais impostos cobrados durante este período foi chamado de Quinto, que equivalia a cerca de 20% do total de ouro extraído.

Com a capacidade de mineração diminuindo em Minas Gerais, a arrecadação dos impostos aumentou, para garantir os ganhos da Coroa Portuguesa.

A cobrança desses impostos era realizada em um dia chamado Derrama, o que permitia que oficiais confiscassem bens e materiais dos devedores.

REVOLUÇÃO SIGILOSA

Inconformado com as arbitrariedades com que a Coroa agia, Tiradentes se inspirou nas ideias revolucionárias dos iluministas franceses e na independência dos Estados Unidos, com o objetivo de libertar o Brasil do domínio português e o povo da opressão. O lema do grupo era Libertas Que Sera Tamen, que significa Liberdade Ainda que Tardia.

Juntaram-se a ele padres, coronéis, poetas e advogados, com o intuito de planejar um motim contra a metrópole, que aconteceria no Dia da Derrama.

O movimento eclodiu quando um membro do grupo, Joaquim Silvério, traiu os inconfidentes, e delatou o plano às autoridades, para ter sua dívida junto à Coroa, que era de 700 contos, perdoada.

Todos os inconfidentes foram presos, mas apenas Tiradentes, considerado o mais radical do grupo, assumiu a participação na conspiração.

SENTENCIADO À MORTE

Todos os inconfidentes aguardaram na prisão durante três anos, quando foram acusados de traição.

As sentenças foram variadas e algumas delas foram: degredo para a África, prisão perpétua e morte por enforcamento.

Tiradentes e muitos outros foram condenados à morte, mas antes da execução da pena, uma carta enviada pela rainha de Portugal Maria I concedeu perdão real a todos, exceto Tiradentes.

Dentre todos os membros do grupo, Tiradentes era o mais humilde, pois não era membro da elite econômica de Minas Gerais. Sua pena foi mantida também porque ele era considerado o propagandista do movimento.

Em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado, decapitado e esquartejado em praça pública, para servir de exemplo a toda a população.

Há registros que dizem que, antes de morrer, Joaquim da Silva Xavier disse: "Jurei morrer pela independência do Brasil, cumpro a minha palavra! Tenho fé em Deus e peço a Ele que separe o Brasil de Portugal".

Retratação do esquartejamento de Tiradentes

De acordo com Saulo Oliveira, a Coroa Portuguesa colecionava repressões violentas e condenações públicas como forma de suscitar uma ideia de respeito e temor.

"Por ser um cidadão mais relacionado com o que a gente pode entender de povo naquele período, sua morte foi assistida com espanto, tendo sido esquartejado em praça pública é de se esperar a repulsa da maioria da plateia, no entanto, isso não foi suficiente para levantar novos motins", explicou o professor arapiraquenses.

"Antes de Tiradentes, Filipe dos Santos teve morte semelhante e as coisas foram se arranjando sempre na base de muita fiscalização, prisões e exílios. Podemos dizer que esse era o protocolo da Coroa Portuguesa para situações como essas", continuou.

CURIOSIDADE EXTRA

Fomos enganados a vida inteira. Diferente do que é retratado nos livros de história, Tiradentes não tinha cabelo e barba grandes. Essa imagem foi imposta por decreto pelos militares para que Joaquim José da Silva Xavier ficasse parecido com Jesus.

Tiradentes era militar e, como se sabe, cabelos compridos nunca foram tolerados nas Forças Armadas.

Mesmo depois de capturado e condenado à forca, teve seus cabelos e barbas raspados por questões de higiene.

Na verdade, Tiradentes só começou a ser cultuado como herói nacional a partir de 1890, ou seja, 987 anos depois de sua morte.

Sua imagem de mártir e patrono da nação brasileira foi construída pelos republicanos, que precisavam de um símbolo que representasse a luta pela ruptura definitiva com o poder português.