Tocando a alma, concerto Música nas Igrejas reúne Brasil e Portugal no Femupe
Igreja Nossa Senhora dos Anjos foi o cenário para as apresentações de Iberian Ensemble, do Sexteto de Cordas da Ufal e do Imperial Coro de Penedo
Se a boa música, por si só, já alcança a alma, imagina ouvir, dentro de uma igreja, músicas compostas para serem tocadas neste ambiente religioso. Esta foi a experiência que o Festival de Música de Penedo (Femupe) propôs ao público que compareceu à Igreja do Convento Santa Maria dos Anjos, na última sexta-feira (20). Lá se apresentaram Iberian Ensemble, de Portugal, o Sexteto de Cordas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o Imperial Coro de Penedo.
Tendo como pano de fundo o estilo arquitetônico barroco da edificação, o recital começou com a apresentação do Iberian Ensemble com Alexandre Andrade, no traverso, e Davi Cruz, no violoncelo, sendo ambos os instrumentos barrocos. "Nós só tocamos música partindo dos instrumentos originais ou cópias de instrumentos dos séculos 17 ou 18, portanto, do período barroco. Neste concerto, tocamos Bach e Handel em obras essencialmente desse período", explicou Alexandre, que já participa pela terceira vez do Festival e disse ser uma experiência enriquecedora.
A segunda apresentação da tarde foi o Sexteto de Cordas da Ufal e teve como solista a professora Débora Borges, do curso de licenciatura em Música. Além de encantar o público com a execução da obra As Quatro Estações, de Vivaldi, foi um recital particularmente especial para ela, pois tocou a obra inteira pela primeira vez. "É uma mistura de muitas emoções. Estou realizando um sonho de violinista de poder tocar essa obra inteira. Eu já a toquei em partes, mas nunca inteira assim, e estou tocando com os alunos muito queridos em um lugar completamente cheio de significado", ressaltou.
Para a musicista, é uma alegria poder contribuir com a programação artística do Festival. "A gente está em um Estado carente ainda em muitas áreas e a música é uma ação que iguala as diferenças sociais. Não importa se você tem mais ou menos, mas, sim, o quanto você se dedica para começar a colher os frutos”, afirmou.
Há sete anos morando em Maceió, Débora disse já ter acompanhado vários alunos se formarem e passando a atuar como profissionais. “É muito gratificante poder contribuir um pouquinho com a transformação desse meio", avaliou, ao falar sobre a importância da música e de se ter um evento como o Femupe.
O poder transformador da música também é conhecido por Creusa Vieira. Casada com o maestro Mozart Vieira, ela atua junto com ele na Fundação Meninos de São Caetano, na cidade pernambucana homônima, viabilizando cidadania por meio do ensino da música. "Cada um daqueles meninos, se eles vão se tornar instrumentistas ou não, isso fica em segundo plano. Em primeiro plano, nós queremos que eles se tornem cidadãos, pessoas de bem que, no futuro, possam ter a música como hobby ou profissão. Mas, antes de tudo, a gente pensa no ser humano que está naquele serzinho ali. A música é uma coisa extremamente maravilhosa e impactante na vida de pessoas que aparentemente não têm oportunidade", afirmou.
A terceira participação foi do Coro Imperial de Penedo, que trouxe, em seu repertório, a composição Dia de Festa, do penedense Ailson Maia, a recordação da Festa de Bom Jesus dos Navegantes. A música foi inserida como sugestão de André Peruzzi, um senhor de idade que participava do coro e que fez o arranjo apresentado.
"Em suas recordações, ele tinha a versão dessa música, fez esse arranjo e a gente começou a trabalhar ela. O Ailson Maia veio nos olhar, acompanhar esse processo. Infelizmente, os dois deixaram o nosso convívio. Por isso, fico emocionada ao trazer para a apresentação", explicou a regente Patrícia Albuquerque.
Para ela, é uma honra participar do Festival de Música. "Só vem crescendo. Eu digo: olha pessoal, vamos cantar para músicos e para todo mundo que vem. E eu acho que o Festival é importante também para a formação de público também", acrescentou.
Na plateia estava Concília Costa. Professora aposentada, ela retornou à cidade especialmente para o Festival. "Acompanhei os outros dias e achei as apresentações de piano da abertura e a de sax, com Léo Gandelman, maravilhosas. Eu me enxerguei naquele menino que tocou no palco”, disse em alusão à participação de Thiago Luiz Silva Santos, de 16 anos, da Orquestra Meninos de São Caetano que estava prestigiando o show e foi convidado por Gandelman para tocar também, o que gerou muita emoção nos presentes.
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