Referência para ciência brasileira, Eliezer Barreiro morre aos 76 anos
Pesquisadores da Ufal das áreas de Química e Farmácia lamentam a perda e se solidarizam com familiares e amigos do professor da UFRJ
A ciência brasileira está de luto! Morreu, aos 76 anos, o professor Eliezer Barreiro, que integrou o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele também foi uma referência para pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, nas áreas de Química e Farmácia. O velório será às 10h desta quinta-feira (11), no cemitério São João Batista, no Rio.
O professor Eliezer, um dos mais renomados na área de química medicinal, coordenou o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Fármacos e Medicamentos (INCT-Inofar) e foi membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em nota, a ABC destaca a carreira do cientista e suas contribuições científicas: “O que não está em seu currículo é a grandeza de caráter desse pesquisador singular, sempre à frente de seus tempos, com uma visão nacionalista para a ciência brasileira, pela qual sempre lutou, com uma plêiade de amigos e colaboradores de diferentes idades e regiões do nosso país.”
A UFRJ também fez uma homenagem ao professor Eliezer e publicou um obituário Adeus a Eliezer Barreiro. Clique aqui e leia a íntegra da nota de pesar.
O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo lamenta a perda do professor e se solidariza com familiares e amigos. “Estamos todos muito tristes com a perda do querido Eliezer. Ele continuará sendo uma referência nacional e internacional para todos os químicos e farmacêuticos. Foi orientador de doutorado e pós-doutorado de alguns dos nossos docentes do IQB [Instituto de Química e Biotecnologia] e do ICF [Instituto de Ciência Farmacêuticas]”, disse Tonholo, ao recordar que, em 2021, o professor Eliezer participou, como palestrante, do 31º Congresso Acadêmico de Iniciação Científica (Caic) e do 14º de Iniciação Tecnológica (Pibiti) na Ufal.
A professora Marília Goulart, também integra a ABC desde 2015, e conheceu o professor Eliezer ainda quando estudante da graduação em Farmácia. “Ele sempre dava palestras memoráveis. Então, isso incentivou muito a minha carreira. Depois, participamos juntos do projeto Excelência do Milênio e foi muito importante tanto para os nossos grupos de pesquisa na Ufal quanto para a Ufal em si”, recordou.
Marília lembra que tudo que ele falava e a forma como apresentava era tudo muito atrativo. “O professor Eliezer atraía a atenção e nos incentivava. As palestras, os termos que ele usava, o medicamento verde amarelo, a molécula viva, enfim, tudo o que ele fazia podemos chamar de magnético. Fui muito apoiada por ele, inclusive no meu doutorado, e tivemos publicações em conjunto e isso foi maravilhoso tanto para a área de química medicinal, para farmácia como para química em geral. Ele foi líder, foi visionário e sua memória não vai se apagar. Ele está no alicerce e nas alturas como cientista brasileiro”, reforçou a docente.
E completa: “Lembro-me bem que quando era aula ou palestra do professor Eliezer, a sala ficava cheia, gente sentada, pelo meio do corredor, do lado de fora. Ele era muito carismático, excelente e já usava métodos, que hoje são corriqueiros, mas que, na época, eram dele: como chamar a atenção e como relacionar com os fatos do dia a dia. Eu tive um capítulo no livro maravilhoso que ele publicou e que ganhou o Prêmio Jabuti de 2012.”
Um grande homem
Além de Marília Goulart, o docente do ICF da Ufal, João Xavier de Araújo, também conviveu com o professor Eliezer. Xavier foi aprovado em primeiro lugar no doutorado em Química de Produtos Naturais da UFRJ e conseguiu tê-lo como orientador e um parceiro em diversas publicações de artigos em periódicos nacionais e internacionais e capítulos de livros.
João Xavier lamenta o falecimento do professor, orientador, parceiro e amigo, Eliezer Barreiro.”Estou muito triste, mas ele descansou, porque estava sofrendo muito por causa da DPOC [ doença pulmonar obstrutiva crônica]. O que nos resta e nos consola é que ele foi um grande homem”, disse, emocionado, ao lembrar de sua forte ligação com o professor Eliezer.
“É uma enorme perda para a ciência e a química brasileira. Seu legado como professor e pesquisador será lembrado por muitas gerações. Nós que fazemos parte da comunidade científica da Ufal nos solidarizamos com os familiares, amigos e ex-alunos do Eliezer neste momento de profunda dor e tristeza”, acrescentou João Xavier.
O professor Euzébio Santana Goulart também conviveu com o professor Eliezer e o define como uma pessoa tranquila, com boas ideias e um pesquisador muito voluntarioso. “Ele formou muita gente e era muito competente. Lembro bem dos nossos primeiros contatos aqui em Alagoas, no início dos anos 1980. Ele passou uma semana e foi muito boa essa troca. Conversas muito proveitosas com professores e alunos. Ele era uma pessoa muito ativa”, declarou.
E revela: “Antes de ele vir visitar a Ufal, eu já o conhecia e já tínhamos nos encontrado nas reuniões da SBPC. Ele era muito atuante, vibrante e, com isso, conseguiu estimular muita gente, agregar muita gente em torno dele na UFRJ. É uma perda muito grande e, mesmo já estando afastado da universidade, mas sempre se manteve a par de todos os acontecimentos na área de ciência e tecnologia. É, realmente, uma perda e muito sentida. O que tenho é a memória de uma pessoa amiga, confiável, tranquila e trabalhadora”.
Genialidade
A docente do ICF da Ufal, Camila Dornelas, foi aluna do professor Eliezer na UFRJ, em sua habilitação na área de indústria, e lembra como ele era uma figura de destaque naquela instituição, entre tantas qualidades, por sua contribuição na descoberta de novas moléculas que poderiam vir a ser futuros fármacos. “Desde que entrei na graduação em Farmácia na UFRJ, em 2000, já ouvia falar no nome do professor Eliezer. O laboratório liderado por ele era um dos mais destacados e produtivos e uma das principais atividades era descobrir novas moléculas candidatas a fármacos. Isso era o máximo, ter um brasileiro liberando pesquisas e descobrindo novos candidatos a fármacos”, relembrou.
Dornelas ressalta a capacidade do professor em atrair alunos e absorvê-los em seu laboratório, além de fazer parcerias com outras instituições. Foi assim que se consagrou a parceria com a Ufal, por meio do trabalho dos professores João Xavier e Magna Suzana, também também do ICS. “Tive o privilégio de ser aluna dele e, depois, já como docente efetiva da Ufal, participei de alguns eventos nos quais ele foi palestrante e também pude encontrá-lo nas várias visitas que ele à Ufal e aqui no ICS, por conta das parcerias”, completou, ao acrescentar: “O mais interessante é que não precisava ser farmacêutico para reconhecer a genialidade dele. Qualquer um que assistisse a uma de suas palestras conseguia comprovar isso, porque ele era diferenciado. É uma pena que as futuras gerações de farmacêuticos não terão o privilégio de conviver com ele”.