Agreste

Troca de irmãos em maternidade de Arapiraca reabre memória e traz novas histórias à tona

Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho teria abafado caso semelhante em 1970

Por 7Segundos 23/12/2024 07h07 - Atualizado em 23/12/2024 07h07
Troca de irmãos em maternidade de Arapiraca reabre memória e traz novas histórias à tona
Sandra (a segunda da direita para a esquerda, em pé) conviveu com pais e irmãs sem conhecer a família biológica - Foto: Arquivo familiar

O caso da troca de irmãos gêmeos na maternidade do Hospital Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, que ganhou repercussão nacional, abriu espaço para que outras histórias similares viessem à tona. Uma dessas é a de Sandra Bispo, uma mulher que faleceu em 2020 e cuja família acredita ter sido vítima de uma troca de bebês na maternidade em 1970.

De acordo com Patrícia Bispo, irmã de Sandra, o caso nunca foi um segredo dentro da família. Desde cedo, era evidente que Sandra não compartilhava as mesmas características físicas dos irmãos. Enquanto ela era negra, toda a família era branca. A diferença sempre levantou suspeitas, reforçadas pelo relato da mãe, que percebeu a troca logo após o parto.

Patrícia conta que, no dia 7 de agosto de 1970, quando Sandra nasceu, o Hospital Regional de Arapiraca estava em reforma, e os pacientes foram transferidos para uma outra sala. Assim que recebeu a bebê nos braços, a mãe percebeu algo estranho. “Minha mãe viu que a criança que entregaram a ela era negra e aparentava ser um pouco mais velha, não parecia ter acabado de nascer”, afirmou Patrícia.

Ao questionar os funcionários do hospital, a mãe foi desacreditada. “Eles disseram que ela estava louca e a encheram de medicamentos”, revelou Patrícia. Mesmo assim, a família levou Sandra para casa e a criou como filha biológica. No entanto, a suspeita da troca nunca foi esquecida.

Maria Bispo, outra irmã de Sandra, recorda o impacto que a situação causou na família. Segundo ela, o pai chegou a se esconder para evitar as fofocas que se espalhavam na época. A família, que é da cidade de Feira Grande, tentou buscar respostas no hospital, mas enfrentou muitas barreiras. “A direção colocou empecilhos e abafou o caso”, relatou.

Apesar das adversidades, Sandra cresceu cercada pelo carinho da família que a acolheu, mesmo ciente de que poderia haver outra filha em algum lugar. Hoje, a mãe, com 90 anos, tem um último desejo: conhecer a filha biológica.

Sandra, que faleceu há cinco anos devido a problemas de saúde, deixou dois filhos e uma história que inspira reflexões sobre as falhas do sistema de saúde à época e o impacto das trocas de bebês nas vidas das famílias envolvidas. Para Patrícia, trazer o caso a público agora é uma forma de buscar respostas e honrar a memória da irmã. “Minha mãe ainda espera conhecer sua filha biológica, e nós também queremos saber a verdade”, concluiu.