Alagoas

Ufal lança campanha convidando mulheres a repensar o tempo livre

No tempo delas é um chamado para entender a importância de introduzir hobbies e atividades de lazer na rotina

Por 7Segundos com Assessoria 06/03/2025 17h05
Ufal lança campanha convidando mulheres a repensar o tempo livre
Durante o mês de março, apresentaremos as histórias e hobbies de Sheyla Fernandes, Heloísa Matos, Adriana Lourenço e Gabriela Luz. - Foto: Ascom

Nadar, fazer crochê, tocar um instrumento, pintar: incluir atividades prazerosas na rotina ajuda a diminuir o estresse, a melhorar a autoestima e a aumentar os níveis de satisfação com a própria vida. Tanto que o direito ao tempo livre e lazer é garantido constitucionalmente e está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda assim, muitos estudos apontam que as mulheres, no Brasil e no mundo, tendem a investir menos tempo em autocuidado, lazer e hobbies que os homens.

Pensando nisso, a Assessoria de Comunicação (Ascom) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) decidiu chamar as mulheres que fazem parte da comunidade acadêmica a repensar o uso do tempo livre. A campanha em alusão ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, tem o objetivo de estimular a vivência de hobbies como forma de cuidar da saúde mental feminina.

O hobby é caracterizado pela realização de uma atividade em tempo livre, sem cobranças, de forma contínua e com o objetivo de lazer, sem estar diretamente ligada a obrigações, sejam pessoais, profissionais ou acadêmicas.

De acordo com a professora Sheyla Fernandes, do Instituto de Psicologia (IP) da Ufal, os benefícios da inclusão de hobbies na rotina são inquestionáveis. “É lugar comum nos estudos, como os publicados pelo BMC Public Health (2020), ou pelo Frontiers in Public Health (2024), associar a prática de hobbies à diminuição do estresse, alívio da ansiedade e melhora significativa do bem-estar, podendo, inclusive, fortalecer relações sociais”, explicou.

Gênero e acesso ao lazer


Apesar dos inúmeros benefícios de utilizar o tempo livre para cultivar hobbies, o acesso a essas atividades e ao lazer pode ser dificultado por uma série de fatores, sendo gênero e classe social as principais barreiras. De acordo com o estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2024, as mulheres dedicam, em média, 21 horas semanais aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas, enquanto os homens gastam aproximadamente 11 horas nessas mesmas atividades.

Uma diferença de 10h por semana que se reflete em menos tempo para investir em descanso e em interesses próprios. Mulheres pretas e pardas são ainda mais afetadas pela sobrecarga dos trabalhos de cuidado não-remunerados, dedicando 1,6 horas a mais por semana nessas tarefas do que as brancas.

“Quanto aos aspectos positivos dos hobbies, não há o que se questionar. Porém, incluí-los na rotina pode não ser tão simples assim. Alguns fatores podem dificultar sua prática, como falta de tempo devido a rotinas intensas, a própria pressão social e autocrítica, que levam à sensação de culpa por não estar sendo uma pessoa produtiva o tempo todo, sem falar nos custos financeiros, já que alguns hobbies exigem investimentos
”, avaliou a pesquisadora.

A perpetuação de estereótipos relacionados a gênero, a falta de políticas públicas e de espaços inclusivos e seguros voltados ao lazer feminino também são apontados como empecilhos para a inclusão dessas práticas no dia-a-dia.“A desigualdade de gênero no acesso ao lazer é uma questão que afeta significativamente as mulheres, seja pelo sentimento de culpa ao dedicarem algum tempo para si, seja pela total falta desse tempo. Essa sensação de culpa está profundamente articulada às normas sociais que historicamente atribuem às mulheres a responsabilidade principal pelos cuidados da casa e da família, resultando em uma sobrecarga de tarefas e na percepção de que o autocuidado não é importante ou até mesmo é inadequado em razão da quantidade de prioridades e demandas cotidianas”, afirmou Sheyla.

Cultivando o hobby como prática de autocuidado


Mesmo não sendo fácil, incluir hobbies na rotina é um cuidado que não deve ser deixado de lado pelas mulheres, principalmente devido aos inúmeros benefícios relativos à saúde mental que a prática proporciona. Por isso, é muito importante definir um tempo pessoal como prioridade, dentre as atividades diárias e semanais.

Em uma rotina muito corrida e repleta de obrigações, encontrar um hobby pode ser bastante complicado, uma vez que descobrir que atividades podem ser realizadas em tempo livre e de forma regular, e adicionalmente que sejam de fato prazerosas, é um processo que envolve um certo controle racional”, afirmou a pesquisadora.

No entanto, algumas estratégias podem ser aliadas do lazer feminino. Experimentar é o primeiro passo. Encontrar atividades que sejam verdadeiramente prazerosas e que funcionam como um descanso demanda uma certa dose de autoconhecimento e de abertura a novidades. Nesse sentido, explorar interesses antigos e provar novas atividades, observando o grau de interesse e bem-estar ao praticá-los, ajuda a decidir em que vale a pena investir o tempo livre.

Um outro ponto importante é trazer o hobby como lazer. Apesar da dedicação, desenvolvimento de habilidades, aperfeiçoamento contínuo e senso de realização serem características inerentes à prática, é preciso desenvolver as atividades sem o peso da pressão da excelência, evitando se comparar ao resultado de outras pessoas e bem como a competitividade extrema.

Para que essa prática não vire mais uma obrigação, é essencial enxergá-la como um respiro na rotina e não como uma meta a ser cumprida. Hobbies devem ser flexíveis e adaptáveis, sem cobranças excessivas. Permitir-se errar, curtir o processo e entender que nem todo dia será produtivo são estratégias que mantêm a atividade como um momento genuíno de prazer e bem-estar”, explicou a docente.

“Também é necessário evitar estabelecer metas inalcançáveis ou prazos que possam transformar o lazer em fonte de estresse, ter em mente que o principal objetivo é proporcionar satisfação”,
complementou.

Diversão sem culpa


Seja pela pressão externa ou pelos sentimentos exagerados de autocobrança, algumas mulheres têm mais dificuldade em estabelecer momentos de lazer sem sentir que estão desperdiçando um tempo que poderia ser empregado em outras atividades ou pessoas. A cultura do utilitarismo e do imediatismo também impõe barreiras a práticas que não têm uma finalidade ou uma duração específica.

Lidar com essa culpa é uma tarefa bastante complexa, sobretudo, por requerer um sistema de autorregulação eficiente o suficiente para combater um contexto de hierarquias de gênero. Seria fundamental que as mulheres pudessem reconhecer o autocuidado como uma necessidade básica para o bem-estar físico e mental, e não como um privilégio”, avaliou Sheyla.

Para a docente, o desenvolvimento de algumas habilidades pode ser necessário para aproveitar o tempo livre sem culpa. “Elas podem ser treinadas por meio de protocolos de intervenção, terapias ou programas e podem trazer uma melhora significativa no reconhecimento de si e das próprias necessidades”, explicou. Como um exemplo, a docente apresenta a autocompaixão, que é a habilidade de ser gentil consigo em momentos de dificuldade.

Em resumo, estabelecer limites e buscar apoio social são estratégias que podem auxiliar na redução da sobrecarga e na promoção de uma melhor qualidade de vida, assim como, valorizar e priorizar o tempo dedicado para si, promovendo um equilíbrio entre responsabilidades e qualidade de vida, são algumas habilidades fortemente recomendadas para iniciar um processo de autocuidado”, finalizou.

É necessário pensar o lazer como um direito


Não é possível pensar na inclusão do lazer na rotina de mulheres, sem pensar em políticas de acesso e inclusão. A prática de atividades lúdicas demanda, além da vontade e constância, investimento de tempo e dinheiro. Avançar a discussão sobre a importância, apenas no nível individual, é perpetuar as barreiras de acesso.

Mais uma vez precisamos falar de privilégios e de marcadores sociais. A probabilidade das pessoas que têm determinados recursos e que possuem específicas condições de manter a ludicidade enquanto princípio de um hobby é muito maior. Homens, de classe social elevada, brancos e alta escolaridade apresentam maior adesão às atividades de lazer e esporte”, explicou a docente.

No entanto, políticas públicas com foco em programas, serviços e ações destinadas à promoção do bem-estar são bem eficazes para minimizar as barreiras de acesso ao lazer, mas são incipientes ainda”, complementou.

Para Sheyla, é necessário cobrar políticas públicas voltadas à garantia de acesso a espaços, esportivos e de convivência. Além disso, é muito importante pressionar por regulamentações que favoreçam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Implementação de parques urbanos, programas de incentivo ao esporte comunitário, redução da jornada de trabalho sem perda salarial (como já ocorre em alguns países europeus) e subsídios para atividades recreativas, são exemplos de iniciativas. No Brasil, desafios como a desigualdade social e falta de infraestrutura ainda limitam o acesso equitativo a essas oportunidades”, concluiu.

Encontrando seu hobby na Ufal


Alguns programas institucionais e projetos de extensão possibilitam o acesso a algumas atividades de maneira gratuita na Universidade Federal de Alagoas. Um exemplo é o programa Esporte na Ufal que possibilita a prática de modalidades esportivas como natação, xadrez, judô, jiu-jitsu, tênis, badminton, kung fu e atletismo, com vagas para diferentes modalidades nos três campi. Para participar, é necessário se atentar aos editais e aos prazos de inscrição.

A Escola Técnica de Artes (ETA) também abre, periodicamente, seleções voltadas a práticas e manifestações artístico-culturais. O Laboratório de Violino, por exemplo, oferece aulas gratuitas do instrumento para crianças e adultos. Na última semana, as aulas do Curso Livre de Ballet Adulto voltadas ao nível básico e abertas a toda comunidade tiveram início.

Já outras iniciativas se constituem de maneira orgânica no espaço universitário, como clubes do livro, de fotografia ou de jogos de tabuleiro. “Procure se conectar com atividades que você gosta e que pode desenvolver dentro do período em que já está na Universidade. Nesse sentido, existe uma facilidade como a redução de custos e otimização do tempo. Isso serve não apenas para estudantes, como também docentes e servidores técnicos”, explicou.

Além da Academia: especial Mês da Mulher


Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a Ascom retomou o quadro Além da Academia, que retrata as atividades de professores, técnicos e estudantes da Universidade Federal de Alagoas fora do ambiente universitário.

Durante o mês de março, apresentaremos as histórias e hobbies de Sheyla Fernandes, Heloísa Matos, Adriana Lourenço e Gabriela Luz.