Polícia

Mandante da morte de Gritzbach pagou R$ 900 mil por filme do PCC, diz DHPP

Polícia concluiu as investigações e indiciou seis pessoas envolvidas no assassinato

Por UOL 15/03/2025 13h01
Mandante da morte de Gritzbach pagou R$ 900 mil por filme do PCC, diz DHPP
Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro - Foto: PC/SP

Emílio Carlos Gongorra Castilho, 41, o Cigarreiro, indiciado como mandante da morte de Antônio Vinícius Gritzbach, 38, pagou R$ 900 mil para produzir o documentário O Grito, exibido na Netflix, segundo investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

O filme fala sobre o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um sistema de castigo imposto nas prisões brasileiras, e entrevistou parentes de líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa nascida em São Paulo. e do CV (Comando Vermelho), do Rio de Janeiro.

O DHPP concluiu as investigações sobre a morte de Gritzbach e indiciou seis pessoas envolvidas no assassinato, entre mandantes e executores, como antecipou esta coluna na última terça-feira (11).

Ouvido pela Polícia Civil na condição de testemunha, Rodrigo Gianetto, diretor de "O Grito", contou que recebeu R$ 900 mil pelo filme. O DHPP apurou que o dinheiro foi pago por Marco Aurélio Souza de Albuquerque, 48, dono da produtora K2.

As investigações do DHPP apuraram ainda que a K2 tinha o mesmo endereço comercial da rádio Street, gerenciada por Cigarreiro no Condomínio Edifício Parque Avenida, na avenida Paulista, 1,776, como divulgou esta coluna no último dia 6.

"Laranja" de Cigarreiro


Para o DHPP, Marco Aurélio Souza de Albuquerque é "laranja" de Cigarreiro, que como mandante da morte de Gritzbach foi quem financiou o documentário e também montou a Rádio Street na avenida Paulista para lavar dinheiro do tráfico de drogas do PCC e do CV.

Além de Cigarreiro, o relatório principal do DHPP indiciou o soldado Ruan Silva Rodrigues, 32, o cabo Dênis Antônio Martins, 40, e o tenente Fernando Genauro da Silva, 33, presos preventivamente sob a acusação de participação direta na morte de Gritzbach.

O cabo Dênis, do 30º Batalhão (Carapicuíba), é apontado como um dos atiradores que executou Gritzbach. O soldado Ruan, do 20º Batalhão (Barueri) é tido pela Corregedoria da PM como o segundo atirador. Ele é amigo do cabo Dênis.

O tenente Genauro, do 23º Batalhão (Pinheiros) foi acusado de ter dado fuga para o cabo e o soldado. Ele e Dênis trabalharam na Força Tática do 42º Batalhão, em Osasco (SP).

Prisões preventivas


O Departamento de Homicídios também indiciou e pediu as prisões preventivas do narcotraficante Cigarreiro, e dos comparsas dele, Diego dos Santos Amaral, o Didi, e Kauê do Amaral Coelho, 29.

Cigarreiro e Didi foram apontados como os mandantes do assassinato. Kauê é o olheiro que estava no aeroporto no dia do crime e avisou aos atiradores o exato momento em que a vítima deixava o saguão do Terminal 2.

Os três estão foragidos e vão responder por homicídio e organização criminosa. Didi é primo de Kauê e participou, junto com Cigarreiro, do sequestro de Gritzbach em janeiro de 2022, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Kauê pagou R$ 18.500,00 em passagens áreas para o diretor do filme viajar para a Europa, onde participou de um festival de cinema e recebeu na Itália o prêmio de menção honrosa pelo documentário "O Grito".

Ouvido pelo UOL, Rodrigo Gianetto disse que "O Grito" tratou de um tema "muito impopular e delicado" e que "foi produzido com muita responsabilidade". "Como todo trabalho jornalístico, pesquisamos e tivemos que apurar muito sobre o assunto que formatou uma reflexão importante sobre direitos humanos", afirmou.

Gianetto também negou ter sido procurado por membros de facção criminosa para realizar o filme e afirmou que sua equipe não teve contato direto com os detentos recolhidos em penitenciárias federais para solicitar autorização para entrevistas.