Entenda por que o uso do PMMA para fins estéticos é tão arriscado
Substância está associada a casos de deformação e reações que podem ser letais; entidades exigem que uso e comercialização sejam proibidos

Não é de hoje que o uso estético do polimetilmetacrilato — mais conhecido como PMMA — preocupa profissionais de saúde. Mas casos recentes, inclusive de mortes associadas à aplicação do produto, levaram o Conselho Federal de Medicina (CFM) a pedir que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíba a produção e comercialização de preenchedores à base de PMMA.
Publicado em janeiro de 2025, o documento relata que o uso dessa substância na medicina remonta à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando era utilizado para corrigir danos cranianos decorrentes de traumas.
De acordo com o CFM, o PMMA usado em preenchimentos é um composto constituído por microesferas suspensas em solução de colágeno bovino, carboximetilcelulose ou hidroxietilcelulose.
“O desenvolvimento desta apresentação teve início na década de 1990, com utilização no Brasil desde o final daquela década e aprovação de uso pelo FDA em 2006”, diz o órgão no documento.
Em novembro de 2024, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) também se manifestou contrária ao uso de polimetilmetacrilato injetável em procedimentos médicos. Segundo a Anvisa, o uso do PMMA para fins estéticos não é autorizado no país — o órgão aprova sua aplicação apenas em casos corretivos específicos.
Riscos à saúde
Um dos maiores problemas em relação ao polimetilmetacrilato é que ele não é absorvido pelo organismo. Ao contrário do ácido hialurônico — um preenchedor cujo princípio ativo é naturalmente produzido pelo nosso corpo e, portanto, é mais seguro —, o PMMA pode ser reconhecido como um corpo estranho e desencadear reações inflamatórias locais e até sistêmicas, capazes de causar de deformidades a necrose de tecidos e até a morte.
“Existem casos descritos na literatura mostrando que, quando a aplicação é feita em grandes volumes, pode levar ao aumento dos níveis de cálcio no sangue, o que pode desencadear uma insuficiência renal”, conta a dermatologista Sylvia Ypiranga, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia de São Paulo.
Caso haja a necessidade de retirar o PMMA aplicado, é preciso submeter o paciente a uma cirurgia. E o problema pode ser ainda maior se a pessoa resolver fazer um novo procedimento no mesmo local, pois existe um risco aumentado de reações adversas quando preenchedores de características diferentes são implantados na mesma região.
Além disso, com o passar do tempo, o corpo muda e, muitas vezes, essas alterações estruturais não são acompanhadas pelo produto injetado na região, fazendo com que a aparência não fique harmoniosa.
Entre os motivos que fazem muita gente recorrer ao PMMA é o fato de ele ser mais barato do que outros preenchedores ou uma cirurgia plástica. Segundo Ypiranga, quando aplicado em grandes quantidades para aumentar o volume de áreas como glúteos e panturrilhas, aumenta o risco de efeitos colaterais, deformidades e reações que podem levar à morte.
3 mil procedimentos ao ano
Em 2022, cerca de 3 mil procedimentos estéticos foram realizados no Brasil. Desses, 971 mil foram não cirúrgicos, o que inclui aplicação de substâncias como toxina botulínica, ácido hialurônico e peeling químico. É o que revela um levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS).
Antes de se submeter a qualquer procedimento, procure um médico capacitado, que tenha referência de outros pacientes. Converse com ele sobre o melhor tipo de tratamento e produto a ser aplicado de acordo com seus objetivos.
“É aconselhado sempre procurar um profissional de confiança e ter uma boa relação com ele para saber exatamente o que está sendo feito”, orienta o dermatologista Beni Grinblat, do Hospital Israelita Albert Einstein.
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