Alberto Sandes
Parto Natural x Parto Cesárea: Técnica, Humanização e Escolha Consciente
Quando falamos sobre o nascimento, inevitavelmente nos deparamos com o tema do parto natural versus cesárea. Ao longo dos anos, muitas mulheres têm sido levadas a crer que o parto natural é a única forma "humanizada" de trazer uma nova vida ao mundo. Mas será que essa ideia realmente reflete a realidade? O conceito de humanização vai muito além da via de parto escolhida. Ele envolve acolhimento, respeito à gestante e à sua família, e a confiança na equipe médica, seja em um parto natural ou em uma cesariana.
Para começar, é importante desmistificar o termo "humanizado". O parto humanizado não deve ser vinculado exclusivamente ao parto natural. Um parto cesariana pode, sim, ser uma experiência profundamente humanizada. Como? Através do cuidado com a paciente, da criação de um ambiente acolhedor, do respeito aos desejos da mãe e, claro, do acompanhamento especializado que garante sua segurança e a do bebê.
Um exemplo prático: uma mulher que opta ou necessita de uma cesárea, pode e deve ser acolhida com a mesma delicadeza e respeito que teria em um parto vaginal. Música suave, luzes mais baixas, a presença do parceiro, o contato pele a pele imediato com o bebê... Tudo isso pode ocorrer em uma cesariana bem planejada e com uma equipe comprometida. O nascimento, independentemente da via, é um momento único, e cabe a nós, profissionais, garantir que ele seja vivido com amor, acolhimento e dignidade.
Por outro lado, é fundamental trazer à tona um problema sério e persistente: a violência obstétrica. Apesar dos avanços na medicina, ainda vemos casos de mulheres que são tratadas com desrespeito durante o parto, seja ele natural ou cesárea. Em pleno século XXI, isso é inaceitável. Mulheres que enfrentam procedimentos sem consentimento adequado, ou que são julgadas por suas escolhas, estão sendo vítimas dessa violência silenciosa. O respeito ao corpo, à autonomia e às decisões da mulher deve ser sempre o norte da assistência obstétrica.
E aqui entra um ponto central: a livre escolha da via de parto. Desde 2016, o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução nº 2.144, prevê expressamente que a paciente tem o direito de optar pela cesariana a partir de 39 semanas de gestação, mesmo sem indicação clínica. Isso representa um grande avanço no respeito à autonomia da mulher. O médico, obviamente, deve garantir que essa escolha seja informada, baseada em evidências e na segurança da mãe e do bebê. A confiança entre a gestante e a equipe médica é fundamental para que essa decisão seja tomada de forma consciente e tranquila. Trata-se de um ato de entrega, cumplicidade e fé – a mulher entrega o bem mais precioso da sua vida nas mãos de uma equipe que deve honrar essa responsabilidade.
No fim das contas, o que realmente importa é o equilíbrio entre técnica e sensibilidade, ciência e humanização. O parto, seja natural ou cesariana, precisa ser vivido como uma experiência de respeito e acolhimento. Não deve haver conflito de interesses, pressões ou julgamentos. O foco deve ser sempre o bem-estar da mãe e do bebê, guiado pelo bom senso e pelo amor.
Quando falamos do momento mais sublime da vida humana – o nascimento de um novo ser – precisamos lembrar: a escolha é da mulher, o papel do médico é orientá-la com conhecimento e empatia, e o resultado desejado é um só: um nascimento seguro, respeitoso e cheio de amor.
Dr. Alberto Sandes, Médico Ginecologista
Sobre o blog
Professor Alberto Sandes, MD
Mestre em Ensino à Saúde • Portugal
Especialista em Saúde da Mulher
Endocrinologia Ginecológica
Nutrologia
Medicina do exercício e do esporte
Bem-estar feminino e longevidade
CRM 5953-AL | RQE 2816