Bastidores
Incerteza é a única certeza da vida, da política e do jornalismo

Por Wendel Palhares*
Em 2003, eu participei de um encontro de comunicação em Natal, Rio Grande do Norte. Eu era um recém-chegado estudante de Jornalismo da Ufal e estava encantado com um palestrante que falava sobre jornalismo com uma verdade intensa. Ele olhava para dentro do próprio fazer jornalístico.
Hoje, volto a “ouvi-lo” no livro Incerteza, um ensaio: como pensamos a ideia que nos desorienta (e orienta o mundo digital) (2023). O professor Eugênio Bucci não perdeu o fôlego nesses 22 anos. Mostra que a verdade no jornalismo está cheia de “incertezas”. Sim, nosso ofício nasce dela — das perguntas que geram mais perguntas e da inquietação que gera mais inquietações.
Percebam que 2003 foi o último ano “pré-redes sociais”. Em 2004, foram criados o Orkut e o Facebook. Então, nada de “pós-verdade”, “minha verdade” ou fake news estavam em discussão. No entanto, estávamos atentos a como — nós, futuros jornalistas — precisávamos ser íntegros em nossas apurações e como deveríamos “evitar abusar das nossas investigações”.
Se hoje Eugênio mergulha na reflexão de que “o incerto não nasceu para ser erradicado, mas para receber cuidados, atenção e, se possível, estima”, naquele ano — o primeiro da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva — nem sonhávamos em questionar que seríamos escravos de um aparelho que ainda tinha tecla e não respondia a nenhuma pergunta que fazíamos. O jornalismo dependia 100% da nossa capacidade de termos fontes, repertório e criticidade.
Bucci, nesses 22 anos, escreveu obras primorosas como Em Brasília, 19 horas: a guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula (2008) e O Estado de Narciso: a comunicação pública a serviço da vaidade particular (2015), esteve à frente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) de 2003 a 2007 e continuou lecionando na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Quem desinformava em 2003 era apenas o mentiroso, o canalha, a oposição. “Bits” e algoritmos eram poucos e mal falávamos deles. Mas algo esteve presente em todos esses anos: a incerteza é a única certeza da vida, da política e do jornalismo. Temos de conviver com ela, sempre guiados pelos valores que escolhemos. Devemos isso ao jornalismo — e à nossa vida.
*Jornalista, secretário de Comunicação de Alagoas e Mestrando em Comunicação Digital pelo IDP
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Blog focado em política.
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