Rodrigo Santoro explica por que já recusou papéis no exterior: "Achava um desserviço"
Ator estreia longa-metragem 7 Prisioneiros nesta quinta-feira (11)
Focado em divulgar seu novo longa-metragem, 7 Prisioneiros, que tem data de estreia nesta quinta-feira (11), na Netflix, o ator Rodrigo Santoro deu uma entrevista exclusiva ao jornalista Zeca Camargo e conversou sobre questões importantes retratadas no filme, além de diversos assuntos como sua carreira internacional, sua vida em família, arte e cultura.
"Esse filme, Os 7 Prisioneiros, não existiria se não fosse o streaming. Até porque vivemos um momento onde a produção cultural no Brasil é, praticamente, inexistente. O cinema está sobrevivendo, por exemplo, graças ao streaming. O 7 Prisioneiros é um exemplo disso. O filme vai estrear também no cinema. Ele vai estar no streaming, na plataforma e, também, no cinema. São duas formas, inclusive de se relacionar com a obra, duas formas de assisti-lo. É diferente você assistir um filme no cinema e assistir no streaming, mas o streaming também está dando acesso a muitas pessoas que talvez não fossem ao cinema", contou o ator.
Aclamado pela crítica internacional e reconhecido no 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza com dois prêmios, o longa, estrelado por Christian Malheiros e Rodrigo Santoro, tem direção de Alexandre Moratto e apresenta uma trama que gira em torno do pior das relações trabalhistas na economia de hoje.
No longa, o jovem Mateus (Malheiros) sai do interior em busca de uma oportunidade de trabalho em um ferro velho de São Paulo comandado por Luca (Santoro). Chegando lá, acaba se tornando vítima de um sistema de trabalho análogo à escravidão.
Leia, abaixo, alguns trechos da entrevista de Santoro para o UOL:
SAÍDA DA GLOBO PARA O MERCADO INTERNACIONAL
"Essa ida é movida por uma curiosidade, sempre fui muito curioso. Por um desejo de conhecer outros universos, adversidades, outra cultura. E tive um convite que veio após eu fazer 'O Bicho de 7 cabeças' e o 'Abril Despedaçado' que foram filmes que foram parar em festivais internacionais. A partir daí, passei a conviver com outros artistas, entrar em contato com outras visões de mundo. O que começou a me interessar muito e a expandir o meu olhar. Eu fui muito movido por isso. Deixa eu sair para conhecer um pouco, deixa eu sair para ter um outro ponto de vista, uma perspectiva diferente, para expandir a minha visão, fui muito movido por isso."
SITUAÇÃO DA CULTURA NO BRASIL
"É muito difícil estar otimista nos dias de hoje. Aqui no Brasil, especialmente. Eu diria que o fato de a Netflix, um streaming, ter olhado para o Brasil, um país de mais de 200 milhões de habitantes e estar investindo cada vez mais na cultura, é porque é uma empresa, não podemos deixar de pensar que é uma empresa, que visa o retorno. Então se a plataforma está investindo é porque existe o retorno. É porque é uma indústria que gera emprego, é uma indústria que gera renda também. Isso é um exemplo de como este setor merece atenção, investimento e um olhar muito diferente do que a gente tem no momento. Eu acho que as pessoas precisam ter acesso à cultura até para se sentirem parte do tecido social. A arte te conecta com outras culturas, com outras épocas, ela te possibilita a sensação de pertencimento, ao mundo, à sociedade, à humanidade. A arte é o encontro, é o ouvido do Zeca que encontra a sinfonia de Bethoven. Ou seja, vai além do puro entretenimento. Sem falar que, a partir da arte, a gente começa a olhar para o outro, a gente começa a ver a realidade do outro, o que é fundamental nos dias de hoje."
PRIMEIROS PAPÉIS NO EXTERIOR
"Era um modelo de produção, onde eu lia roteiros e eram muito estereotipados. Eu recusei algumas coisas porque eu achava que era um desserviço. Primeiro porque eu não achava interessante, porque eu não achava que tinha profundidade o suficiente. Imagina, eu estava vindo de 'Bicho de 7 Cabeças', 'Abril Despedaçado', 'Carandiru'. Foram minhas três primeiras experiências no cinema. E eu estava querendo expandir para mais profundidade, para mais pesquisa, para mais estudo. E me deparei com um personagem mais chapado. Era sempre um Juan, um Jamirez..."
MUDANÇAS NO MERCADO
"Eu acredito que a gente esteja em um momento de reinvenção em vários sentidos. Eu acho que as emissoras e o próprio Streaming, todo mundo, está passando por isso. Todo mundo está buscando uma forma de se relacionar com o que é o mercado global hoje. Com o que é a convivência em sociedade no mundo hoje. Acho que isso é um reflexo que viria, mais cedo ou mais tarde. E é isso que está acontecendo, existem as plataformas, o próprio artista, de repente, está querendo estar mais livre para poder buscar seu próprio caminho, para poder ter experiências diferenciadas, em veículos diferentes. Ou, até mesmo, quer ser mais criador do que só contratado, quer ser autor. Eu acho que é um reflexo mesmo, de tudo que a gente está vivendo no mundo."