Do Oscar ao Grammy: como “fanatismo” brasileiro influencia premiações
Movimentação dos brasileiros por Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres reacendeu o debate sobre a força dos brasileiros no meio on-line

“Não entrem em clima de Copa do Mundo”, pediu Fernanda Torres aos brasileiros quando Ainda Estou Aqui foi indicado em duas categorias do Globo de Ouro 2025. O tiro saiu pela culatra quando a filha de Fernanda Montenegro levou a estatueta de Melhor Atriz em filme de Drama para casa, gerando uma verdadeira festa em seu país natal.
As consecutivas vitórias do filme de Walter Salles em premiações internacionais e o reconhecimento da grandiosidade da eterna Fátima de Tapas e Beijos no exterior acendem, mais uma vez, um debate sobre o potencial e o fanatismo dos brasileiros em exaltar e defender, com unhas e dentes, sua cultura e seu povo.
O mercado externo está interessado, entendendo e aproveitando desse engajamento brasileiro, seja positivo ou negativo. Afinal, o hater engaja muito mais do que o lover.
João Finamor
Bastou, por exemplo, uma crítica do jornal francês Le Monde a Ainda Estou Aqui e a Fernanda Torres para que internautas se mobilizassem no X (antigo Twitter) contra o crítico Jacques Mandelbaum. O tratamento que o Grammy deste ano deu a Milton Nascimento, um dos maiores nomes da música nacional, também foi suficiente para que o prêmio fosse escrachado nas redes, rendendo mobilização até de famosos e órgãos públicos.
E, na briga de Ainda Estou Aqui pela vitória no Oscar, nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, o país também pode ter um papel importante. Emilia Perez, principal concorrente do brasileiro na maior premiação do cinema, se viu no centro dos holofotes do cancelamento nacional após falas de Karla Sofía Gascón, protagonista da produção francesa.
Karla Sofía Gascón foi a primeira mulher trans a ser indicada ao Oscar, mas viu a vida virar de cabeça para baixo nos dias seguintes. Tudo começou quando ela criticou a equipe de Fernanda Torres, durante agenda no Brasil.
Na entrevista, ela cita que não falará mal de Fernanda ou do filme, mas que “há pessoas que trabalham com Fernanda Torres que falam mal dela e de Emilia Pérez”.
Além disso, tuítes polêmicos de Gascón voltaram à tona e levaram a atriz espanhola a excluir a conta dela no X.
Entre os comentários encontrados na rede social dela estavam falas sobre a crescente presença de árabes na Espanha e críticas sobre a representatividade no Oscar.
A atriz também teceu críticas a outras religiões, que, em sua opinião, violam os direitos humanos. “Estou tão farto de tanta merda, do islamismo, do cristianismo, do catolicismo e de todas as crenças de idiotas que violam os direitos humanos”, escreveu.
Em sua maioria, as postagens foram feitas entre 2020 e 2021 e apagadas do perfil da atriz no fim de janeiro, após circularem na web.
Ônus e bônus
Mas afinal, até onde o potencial do brasileiro em se mobilizar nas redes sociais é positivo para o país? Esse impacto é real? Especialistas apontam que, de fato, a força do Brasil é ponto de partida para mostrar à indústria que vale a pena investir aqui.
“Quando a gente fala de cultura digital, o brasileiro com certeza é um dos povos que mais se mobiliza na internet. Por sua latinidade, o brasileiro é muito passional, ele se mobiliza muito emocionalmente”, opina João Finamor, professor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Apesar de destacar a mobilização nacional, Finamor aponta que esse efeito da cultura do cancelamento não começou no Brasil. “Vem de um movimento anterior, onde, lá nos Estados Unidos, celebridades que estavam envolvidas com o Harvey Weinstein, apoiaram ele e começaram a receber nas suas redes sociais o ‘cancel‘”, explica.
Issaaf Karhawi, professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), reconhece que houve uma movimentação dos mexicanos contra Emilia Perez, mas nada comparado ao Brasil. Mexicanos apontam que o longa estereotipa o país, gerando uma série de críticas ao diretor da produção, Jacques Audiard — que fez questão de dizer que se quer visitou o local para a produção do filme.
“Eu caracterizo o cancelamento a partir de três aspectos: o volume, a velocidade, e o aspecto binário. […] Antes, as discussões aconteciam em grupos fechados, formados por pessoas que já se conheciam ou compartilhavam um mesmo espaço físico. Agora, a internet permite que pessoas de lugares diferentes, mas com interesses comuns, se conectem e amplifiquem essas discussões”, analisa Issaf.
“É inegável discutir o tamanho do Brasil e como a gente vai conseguindo encontrar brasileiros com as mesmas questões, os mesmos anseios, as mesmas indignações por conta das redes sociais. […] A gente vive uma avalanche informativa, um volume muito grande que vai ser organizado pelas plataformas. E cada uma das plataformas organiza esse volume de mensagens, de conteúdos, comentários, a partir de uma lógica específica”, completa a professora.
Issaaf, Finamor e Adriana Amaral, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias (Cultpop), concordam que o X é a principal ferramenta da cultura do cancelamento por conta de seu algoritmo, que trabalha para exaltar discussões em massa.
“O X amplifica e colabora porque o algoritmo é feito para que as polêmicas gerem mais engajamento, que gera mais comentários, mais curtida, mais compartilhamento, então tudo isso aumenta o volume, às vezes até desproporcionalmente”, opina Amaral, completando que a própria indústria do entretenimento entendeu o potencial dos brasileiros. Não à toa, Bruno Mars busca manter o posto de queridinho do Brasil com passos de funk e até um vídeo preparado para o país.
“Não é por acaso que Anitta está sempre presente e é sempre convidada [para eventos internacionais], os fãs dela mobilizam muito as redes sociais. O próprio Oscar usa muito a imagem da Fernanda Torres, já que entendeu que ela vai engajar nas redes sociais e o brasileiro vai participar”, finaliza Finamor.
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